Alegretense descobre substância produzida pelo organismo que ajuda controlar os níveis de glicose

O pesquisador alegretense Luiz Osório Silveira Leiria, durante pesquisa de pós-doutorado na Universidade Harvard, nos Estados Unidos, identificou uma substância produzida pelo organismo que ajuda a controlar os níveis de glicose e pode ser uma alternativa para o combate ao diabetes. Atualmente ele é pesquisador do Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Graduado em Farmácia em 2005 pela Universidade Franciscana (UFN) em Santa Maria-RS, possui Mestrado e Doutorado em Farmacologia pela Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (FCM-UNICAMP). Realizou pós-doutorado (2014 – 2017), no Joslin Diabetes Center (Harvard Medical School) com bolsa da American Diabetes Association (ADA).Com uma vasta experiência, o alegretense atua nas áreas de (I) metabolismo energético com foco nos mecanismos de ativação e diferenciação de tecido adiposo marrom, (II) biologia de lipídios, com foco no estudo de lipídios biosintetizados e liberados pelo tecido adiposo e sua atividade reguladora do metabolismo da glicose e ácidos graxos; (III) estudo do crosstalk entre órgãos/tecidos para a regulação do metabolismo energético.

O pesquisador é colaborador, do Projeto Jovem Pesquisador FAPESP, do Departamento de Bioquímica e Biologia Tecidual do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp. Luiz saiu de Alegrete em 2000, filho da ex-coordenadora de saúde Carma Leiria e de Edeovaldo Leiria. O alegretense é pesquisador na Unicamp em Campinas, mas já está em processo de transição pra Ribeirão Preto, onde vai atuar como pesquisador e professor da Faculdade de Medicina da USP , campus Ribeirão. Casado com a paulistana Livia, desde 2007, o casal possui três filhos.

Em recente artigo publicado na revista Cell Metabolism, ele descreveu pela primeira vez as funções de tal substância, o lipídio 12-HEPE, um tipo de gordura que é produzida e liberada pelo tecido adiposo marrom. O tecido adiposo marrom está principalmente relacionado à regulação térmica do organismo por meio da produção de calor. Já o tecido adiposo branco é aquele relacionado com a obesidade e tem a função é acumular gordura quando há excedente energético disponível.

Na pesquisa, Leiria descobriu que camundongos obesos tratados com o lipídio 12-HEPE apresentaram maior eficiência na redução dos níveis de glicose no sangue depois de receberem uma injeção com glicose concentrada, na comparação com os camundongos que não tinham recebido o tratamento com o lipídio.

“Mostramos que o 12-HEPE foi capaz de melhorar a tolerância à glicose em animais obesos, o que se deve à capacidade deste [lipídio] de promover a captação da glicose no tecido adiposo e no músculo. Aumentar a tolerância à glicose significa dizer a capacidade de transportar a glicose para os tecidos após uma ingestão alta de alimento (com glicose) reduzindo os níveis de glicose no sangue”, disse Luiz Osório Leiria.

O pesquisador demonstrou que o efeito benéfico do lipídio se deu pela capacidade do 12-HEPE promover a captação de glicose tanto no músculo quanto no próprio tecido adiposo marrom.

A importância da descoberta para um possível tratamento de pessoas com diabetes se dá porque os pacientes nessa condição têm seus níveis de glicose no sangue elevados e precisam de medicação para reduzir esses níveis. Leiria identificou, na pesquisa, que o lipídio 12-HEPE havia realizado a função de diminuir o nível de glicose no sangue entre os camundongos obesos.

“É cedo pra dizer, mas pode significar sim [um novo tipo de tratamento], pois no diabetes tipo 2 que ocorre intolerância à glicose, ou seja, ocorre um defeito da capacidade do organismo em captar a glicose após uma refeição e com isso a glicemia permanece elevada por muito tempo”, explicou.

Nos testes clínicos realizados com pacientes humanos, ao coletar amostras de sangue de pessoas magras e saudáveis, assim como de pacientes com sobrepeso e obesos, verificou-se que a quantidade de 12-HEPE do primeiro grupo foi maior do que no sangue dos pacientes com sobrepeso e obesos.

Ou seja, a pesquisa sugere a possibilidade de que a redução dos níveis desses lipídios na corrente sanguínea de pessoas obesas contribua, de alguma forma, para o aumento da glicose no sangue destes pacientes. A substância ainda não foi testada como tratamento em humanos, mas o pesquisador afirma que pretende fazer os testes no futuro.

Nos testes in vitro em células adiposas provenientes de humanos, os resultados mostraram que 12-HEPE aumentou a captação de glicose. “Em humanos, sabemos duas coisas: os níveis do lipídio são reduzidos em humanos obesos e, quando indivíduos tomam uma droga (Mirabegron) que ativa o tecido adiposo marrom, o lipídio é liberado no sangue”, contou Leiria.

Um remédio já comercializado no país chamado Mirabegron, indicado para o tratamento de uma disfunção urinária conhecida como bexiga hiperativa, tem também a capacidade de ativar o tecido adiposo marrom. A pesquisa de Leiria mostrou que pacientes tratados com esse medicamento têm níveis mais elevados de 12-HEPE no sangue. (Artigo publicado pela Revista IstoÉ).

Júlio Cesar Santos                                                Fotos: Reprodução