Caso Bernardo: Julgamento pode ocorrer em um ano

Desconfiança sobre pai e madrasta começou antes do corpo do menino ser localizado
 
Nos próximos dias, o juiz Marcos Luís Agostini, da comarca de Três Passos, deve determinar a citação pessoal dos quatro denunciados pelo Ministério Público (MP) por participação na morte de Bernardo Boldrini. Cada um terá dez dias para apresentar a defesa. Segundo o MP, o julgamento de Leandro Boldrini, Graciele Ugulini, Edelvânia e Evandro Wirganovicz deve ocorrer em um prazo não superior a um ano. As audiências de instrução, que precedem o julgamento, devem iniciar em julho.
As testemunhas indicadas pela defesa e pela promotoria serão ouvidas pelo juiz, bem como os réus. Nessa fase do processo, o magistrado definirá se mantém as denúncias apresentadas pela promotoria na última quinta-feira. Agostini irá decidir se Leandro, Graciele e Edelvânia irão a júri popular por homicídio quadruplamente qualificado. Evandro foi denunciado por ocultação de cadáver.
O relatório do inquérito policial revela que a desconfiança sobre o casal iniciou uma semana antes de o corpo do menino ser localizado. Em 8 de abril, a delegada Caroline Bamberg solicitou autorização judicial para interceptar as ligações telefônicas feitas por Leandro e Graciele. No dia 10, a autorização foi concedida. Os investigadores não gravaram nenhuma conversa entre o casal. Segundo a promotora Dinamárcia Maciel, os dois conversavam sobre o assunto apenas a sós.
Em um dos diálogos gravados em 12 de abril, Graciele telefona para Edelvânia e conta que a polícia esteve na sua casa, cumprindo mandado de busca e apreensão, no dia anterior. Elas conversaram sobre o depoimento que a assistente social prestou e comentam a história, de acordo com a promotora, inventada, sobre o que ocorrera no dia do crime. De acordo com o MP, em uma das escutas captadas um dia após o corpo de Bernardo ser localizado, a mãe de Leandro conversa com um amigo. Ela diz que o médico implorou para Graciele não o abandonar, pois o deixaria com uma “bucha”, referindo-se ao menino. Em outra ligação, no dia 25, o irmão mais velho de Leandro fala com uma pessoa não identificada. Ela diz ter ficado aliviada com o fato de Bernardo não ter sido enterrado vivo. O irmão de Leandro ri, afirmando que não faria diferença como o garoto teria sido enterrado.
Indícios
Página 36: “Importante, também, foi o depoimento de um amigo íntimo de Leandro, o qual disse que assim que ficou sabendo do desaparecimento de Bernardo, comentou com sua mulher: apagaram o menino. José relatou vários fatos de maus-tratos envolvendo Leandro e Bernardo. (…) a última vez que o atendeu, veio porque a psicóloga recomendou a consulta, pois o menino estava com muita tosse.”
Página 40: “Merece destaque, ainda, um trecho do terno de uma pessoa, o qual, ao ser perguntado, referiu que no dia 13/04/2014 foi até o aeroporto da cidade de Três Passos (…) Boldrini chegou no aeroporto (…) Que outra coisa que chamou a atenção do depoente quanto ao comportamento do médico no aeroporto foi que fumou um charuto, eu geralmente fumo charuto para comemorar alguma coisa…”
Página 46: “A policial civil que participou dos atos no dia em que os indiciados foram presos relatou que haviam localizado o corpo do menino e a amiga da madrasta, Edelvânia, havia contado como teriam executado o menino… Logo após a comissária Rosemary entrou na sala juntamente com a delegada Caroline (Bamberg) que noticiou o fato, ou seja, que o menino estava morto, dando voz de prisão à Graciele que reagiu de maneira fria, apenas dizendo ‘o que é isso gente’… A delegada também noticiou o fato a Leandro e lhe deu voz de prisão, sendo que a reação do médico foi apenas dizer: ‘Vocês têm prova que eu participei? Quero provas’.”
O desaparecimento
O corpo do menino Bernardo Uglione Boldrini, 11 anos, natural de Três Passos, foi encontrado na noite de 14 de abril no interior de Frederico Westphalen, no Norte gaúcho. A criança ficou desaparecida por 10 dias. De acordo com informações do pai, o médico Leandro Boldrini, Bernardo teria saído de casa para dormir na casa de um amigo, mas nunca chegou à residência do vizinho. 
A operação para encontrar o menino mobilizou o Corpo de Bombeiros, a Brigada Militar e a Polícia Civil. O cadáver estava dentro de um saco, nu, enterrado em uma área de mato numa propriedade rural. A família vivia em Três Passos, distante cerca de 100 quilômetros do local onde o corpo foi encontrado.
A acusação
O juiz criminal da comarca de Três Passos, Marcos Luís Agostini, aceitou a denúncia do Ministério Público (MP) contra os quatro suspeitos de envolvimento na morte do menino Bernardo Boldrini. Responderão a processo criminal como réus o pai do garoto, Leandro Boldrini, a madrasta, Graciele Ugulini, a assistênte social, Edelvânia Wirganovicz e o irmão dela, Evandro Wirganovicz. 
O Ministério Público denunciou Leandro Boldrini, Graciele Ugulini e Edelvânia Wirganovicz  por homicídio quadruplamente qualificado e ocultação de cadáver. Segundo os promotores Marcelo Dornelles e Dinamárcia Maciel, Leandro seria o mentor da morte do filho. Já Evandro Wirganovicz, irmão de Edelvânia, foi denunciado por ocultação de cadáver.
 
Fonte: Correio do Povo