Disciplina por disciplina, o que muda com o Enem

Conteúdos cobrados no vestibular e no Enem são praticamente os mesmos, mas há diferenças entre provas

 
Depois da decisão da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) de aderir 100% ao Sistema Unificado (Sisu), os alunos de Ensino Médio e de cursinhos preparatórios começam a focar os estudos para prova do Enem. Antes da decisão, os modelos de prova dos processos único e seriado da universidade eram o foco da maioria dos vestibulandos, que agora têm um desafio e tanto pela frente: estudar para o Exame Nacional do Ensino Médio (o Enem, cuja nota determina a classificação no Sisu) em tempo recorde, já que a prova ocorre em novembro, um mês antes da data em que os estudantes esperavam ser testados.
Além de menos tempo de preparação, o estudante terá de encarar outras novidades podem ser mais desafiadoras do que o conteúdo da prova. Os professores de cursinhos preparatórios, em consenso, lembram que o aluno preparado para o modelo tradicional da UFSM está preparado também para o Enem que, mesmo com características de relacionar disciplinas, exige que os candidatos tenham conhecimento dos conteúdos para resolver as questões.
A professora Roselane Zordan Costella, da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, é especialista em Enem. A pesquisadora chama atenção para uma diferença fundamental entre os dois tipos de prova. Enquanto os vestibulares apresentam um método tradicional de cobrança de conteúdo, dividido por disciplinas de uma forma mais clara, no Enem, uma só questão pode incluir todas disciplinas da mesma área.
– Enquanto o vestibular tradicional se baseia na relação de conteúdos, o Enem prioriza a cobrança de capacidade. Por exemplo, há questões que o conhecimento do conteúdo é necessário para interpretação, que é uma das características da prova do Enem, de cobrar e discutir. A prova de química, por exemplo, não cobra tanto os elementos, mas, sim, a relação da química com o cotidiano. A prova do Enem, além de agrupar as disciplinas por entender que cada uma tem suas funções, é uma prova que interage com o aluno, diferente de outras provas – explica a professora.
Roselane recomenda que, além de ter cuidados na interpretação, é importante o aluno fazer questões de outras edições da prova. Ela conta, ainda, que, na última edição, os alunos que tiveram as cinco melhores pontuações tinham resolvidos ao longo do ano, uma média de 800 a mil questões de provas do Enem.
A outra dica da especialista é passar a treinar o tempo gasto para resolver uma questão e, na hora de exercitar, além de contar o tempo, procurar fazer em tempo menor que o estimado, que é 3 minutos e 7 segundos.
– A ideia é que os alunos comecem treinando com o tempo, mas um tempo menor, de dois minutos e meio, depois, dois minutos. Porque é diferente fazer uma questão em 3 minutos e fazer uma prova, de 90 questões, neste tempo. Além de treinar o tempo, quando errar a resposta não basta identificar a correta. O aluno que quer ir bem na prova precia buscar onde foi que ele errou. Assim, o estudante estará se preparando para o Enem.
DICAS PARA ESTUDAR PARA O ENEM
– Os alunos que tiveram as cinco melhores pontuações, resolveram, em média, de 800 a 1 mil questões ao longo de um ano de preparação
– É importante dividir o tempo de estudo até os dias da prova e resolver, no mínimo, de 3 a 5 questões por semana
– É necessário controlar o tempo utilizado para resolver cada questão n
– A média de tempo para responder uma questão do Enem é de 3 minutos e 7 segundos. A dica da professora é tentar resolver em 2 minutos, em média
– Quando errar uma resposta, procure saber os motivos pelos quais errou
– Fique atento a questões de atualidades. Assuntos como energia nuclear e urbanização podem cair. Contextualização de gráficos e mapas, também. Além disso, conteúdos de mais de uma disciplina na mesma questão são exemplos comuns da prova do Enem.
Nas escolas, o conteúdo não deve mudar
De forma geral, para duas das maiores escolas públicas estaduais de Santa Maria, o fim do vestibular da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) não trará mudanças no conteúdo repassado aos alunos. O desafio, porém, será conseguir vencer toda a programação das disciplinas até a data da prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) que, neste ano, ocorre nos dias 8 e 9 de novembro, cerca de um mês antes do final do ano letivo da rede estadual.
De acordo com o diretor do Colégio Manoel Ribas, Tarcísio Ceolin, uma estratégia para vencer os conteúdos será discutida com os professores, principalmente, dos terceiros anos, cujos alunos estão às vésperas de ingressas no Ensino Superior.
Já o diretor da Escola Cilon Rosa, Leonardo Kurtz Gonçalves, disse que a escola já se adaptou quando da antecipação na data do vestibular de janeiro para dezembro e que, agora, não haverá alteração no cronograma das disciplinas. Mesmo assim, a nova antecipação em mais um mês pode representar que alguns conteúdos não sejam abordados a tempo.

O QUE DIZEM OS PROFESSORES
Os professores alertam que, mesmo que a prova do Enem tenha características de interdisciplinaridade e que muitas questões exijam interpretação, é necessário saber o conteúdo das matérias para acertar as respostas. Há disciplinas com um número maior de temas a estudar, e outras com menos. Há, ainda, as em que só muda a forma de perguntar.
Veja o que dizem os professores:
QUÍMICA
‘Basicamente, a prova da UFSM não cobrava propriedades coligativas das soluções e coloides, conteúdos que costumam aparecer no Enem. O Enem não privilegia, mas não significa que não pode cair, a distribuição eletrônica, tabela periódica e modelos atômicos, temas que eram enfatizados na UFSM. A parte físico-química (cálculos) é a mesma das duas provas. No ano passado, a prova do Enem foi mais trabalhosa e exigiu mais dos alunos.”
Ana Jamile de Oliveira, do Fóton
FILOSOFIA
“A prova do Enem não cobra de forma específica raciocínio lógico matemático, que é tradicional nas provas da UFSM. A base do programa do Enem é política, filosofia moral, teoria do conhecimento e conteúdos ligados à antropologia filosófica, além da precupação com a a arte e a estética, que podem estar relacionadas com sociologia ou filosofia. No que diz respeito ao estilo, o Enem, nos dois últimos anos, é uma prova conteudista e contextualizada. O aluno tem que ter os pré-requisitos. Em Santa Maria, as provas de filosofia sempre foram contextualizadas com outras matérias.”
Betover Santos, do Riachuelo
INGLÊS
“O Enem leva em consideração a estrutura do texto. A prova pede, por exemplo,para o aluno ler e compreender diferentes tipos, como cartoon, letra de música e até mesmo bula de remédio. Uma das características é que ele cobra muito a função que o texto exerce, além de relacionar com a visão de mundo.”
Denise Lopes, do Riachuelo
MATEMÁTICA
‘”Alguns conteúdos não aparecem no Enem, como polinômios, matrizes e determinantes, ou ainda, números complexos. Em contrapartida, o aluno precisa fazer uma análise interpretativa e exigem funções básicas, como regra de três ou divisão de vírgulas, conteúdos lá no Ensino Fundamental, e, ainda, conteúdos do Ensino Médio, como progressão aritmética, estatística, cálculo de áreas e volumes, funções e análises de gráficos. Vale lembrar que a matemática é uma ferramenta que outras matérias podem usar. Além de fornecer uma visão ampla das coisas, é um conteúdo sozinho. No Enem, ela é ligada ao nosso cotiando, em questões sobre os investimentos da poupança, por exemplo.”
Jorge Krug, do Fóton
BIOLOGIA
“Cai menos conteúdo, porém, tem que saber interpretar e fazer reflexões. No Enem, Ecologia é um assunto dos mais comuns, já que pode ser relacionado com questões de atualidades como o meio ambiente, por exemplo. Plantas e animais é um assunto que foi bastante explorado na UFSM e que aparece pouco no Enem. No último ano, não caiu nenhuma questão de plantas e caíram apenas duas questões de fisiologia animal. Costumo dizer que o Enem pincela conteúdos da UFSM. É uma utopia dizer que a prova é só reflexão. Tem que estudar sim. Temas como fisiologia humana, desequilíbrio ambiental, soluções para ações de impacto ambiental humano são temas que podem ser trabalhados na prova, assim como vacinas, contextualizando com a notícia de uma campanha de vacinação, por exemplo. Às vezes, uma questão dessas, pode ser mais difícil que uma questão nua e crua da UFSM.”
Tatiana Goelver, do Fóton
FÍSICA
” O Enem, de três anos para cá, tem um formato que é de vestibular. Desde que ficou seletivo, não apenas uma prova de avaliação, ele é conteudista. O formato das questões, a abordagem e o grau de dificuldade é o mesmo. A física moderna, por exemplo, não caía na UFSM, mas estava prevista para cair neste, se tivesse vestibular. As pessoas lembram do Enem de anos atrás, mas tem que destacar: é conteudista, tem cálculo, tem que saber o conteúdo, tem que saber aplicar o conteúdo e as leis da física. O que mudou foi a concorrência. A matéria é mesma. Mas tem que se preparar muito mais.”
Hélio Palma, do Fóton
LITERATURA
‘”O Enem é mais generalista, cobra interpretação, não separada, mas aborda a literatura como um instrumento de comunicação e como arte. O que costumamos ver nas provas é o que chamamos de literatura comparada, que é a relação com a história, a música, a escultura, a pintura. Não há 15 obras, mas há autores clássicos que sempre aparecem, como Manoel Bandeira e Drummond ou, ainda, Graciliano Ramos. É uma forma mais abrangente de cobrar. O aluno tem que ter uma visão mais ampla. Teve um ano que uma questão, por exemplo, comparou um texto de Oswald de Andrade com uma pintura de Antonio Rocco, os dois com o tema de imigrantes. O aluno precisa compreender a literatura como fenômeno cultural, verbal e ver que se aproxima de outras artes’
Lucas Zamberlan, do Totem
HISTÓRIA
“Na história, o conteúdo é praticamente o mesmo. A UFSM poderia ter mais regionalismos, como a Revolução Farroupilha, que dificilmente será aprofundada no Enem. A UFSM já estava mudando a abordagem, já era mais parecida com o Enem, com questões mais interpretativas, por exemplo. No Enem, caiu uma questão que trazia visões de dois historiadores e que exigia interpretação. Mas o Enem, mesmo assim, é conteudista. Há questões que exigem leitura prévia. É importante que o aluno esteja preparado para questões do tipo da UFSM, mas também cuide a interpretação, o enunciado da questão, além das atualidades.”
Bussunda, do Riachuelo
PORTUGUÊS
“O conteúdo é igual, a diferença é o foco. A UFSM tinha um conteúdo programático específico e voltado para a literatura obrigatória. Agora, para o Enem, muda bastante. Terá muitas questões de período literário determinado, e o foco será mais para o modernismo. A prova do Enem exige mais interpretação, tipos de discurso e leitura de imagens.”
Daniele Bressan, do Riachuelo
GEOGRAFIA
“A grande mudança é na abordagem. Os conteúdos são os mesmos. No vestibular, aparecia a geografia do Rio Grande do Sul. Agora, não tem mais essa característica regional. Muda o foco. Deverá ser mais social, com dados socioeconômicos, e ambiental.”
Gilberto Alende (Giba), do Riachuelo
ESPANHOL
“A prova do Enem é composta por diferentes gêneros textuais, tais como histórias em quadrinhos, poesia, música, textos publicitários, textos informativos, entre outros. Assim, essa prova exige conhecimento de vocabulário e expressões idiomáticas. Portanto, a prova vai fazer com que o leitor tenha de ter uma boa leitura em língua espanhola e, obviamente, cuidado com a questão do tempo, visto que, em, regra, para cada questão, há um texto. Conteúdos, tais como conjunções e uso de pronomes são mais fundamentais para a interpretação textual e comuns às duas provas.”
Gabriela Kuczura, do Riachuelo.
 
Fonte: Diário de Santa Maria