Empreender no Rio Grande do Sul é tarefa difícil

Burocracia é um entrave e maioria das empresas fecha após dois anos

No Rio Grande do Sul, cerca de 400 mil pessoas estão empregadas no mercado varejista. “É um número importante de pessoas que acabam vivendo desse negócio, que necessita de atenção”, aponta o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Porto Alegre, Gustavo Schifino. De acordo com a CDL, existem cerca de 80 mil estabelecimentos relacionados ao pequeno varejo no Estado, mas o número não cresce, segundo ele, pela falta de um incentivo por parte do governo de desenvolvimento ao empreendedorismo. 
O setor terciário da economia é o que mais emprega brasileiros desde 2003. Segundo levantamento feito pelo Ministério do Trabalho e Emprego em 2013, comércio e serviços corresponderam a 76% do saldo total de empregos criados com carteira assinada no Brasil, adicionando, respectivamente, 305 mil e 546 mil novos postos de trabalho.
Para o presidente da CDL Porto Alegre, também empresário do varejo, o RS é um dos estados brasileiros menos interessantes para se empreender por causa da burocracia. “Uma licença ambiental, que no Paraná ou em Santa Catarina se obtém em um mês, aqui demora mais de um ano”, exemplifica. Os entraves burocráticos, segundo ele, atrapalham muitos lojistas.
Outra das dificuldades apontadas é o Imposto de Fronteira. Apesar de a Assembleia Legislativa ter aprovado lei que acaba com a taxa, o governo não a reconhece. Nos outros dois estados da região Sul, a legislação não existe. “A base do varejo gaúcho é a micro e a pequena empresa. Muitos fecham porque não têm condições de continuar com o pagamento desse imposto”, diz Schifino.
Os principais segmentos industriais que fornecem mercadorias para os lojistas gaúchos não existem no Estado. A deficiência força os comerciantes a comprarem de fornecedores de outras partes do Brasil. A questão logística também é empecilho. “Os produtos vêm do Centro do país e essa operação acaba demorando. A posição geográfica do Rio Grande do Sul seria competitiva para o Mercado Comum do Sul (Mercosul), mas o governo federal acabou não desenvolvendo essa ferramenta. Estamos muito distantes do restante do Brasil”, aponta o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Porto Alegre. 
Maioria das empresas fecha após 2 anos
A taxa brasileira de fechamento das empresas do setor de serviços gira em torno dos 20%. A maioria acaba dois anos após iniciar as atividades. O que mais atrapalha os empreendedores no início, segundo o presidente do Sindicato das Empresas de Serviços Contábeis (Sescon/RS), Diogo Chamun, é a questão burocrática e tributária. “Por uma questão obrigatória e, nem que queira, uma empresa trabalha sem um contador. Cumprir as obrigações acessórias é muito trabalhoso.” Uma empresa gasta cerca de 2,6 mil horas por ano para seguir tarefas, como declarar impostos. O tempo equivale à jornada anual de um trabalhador. “Todas as grandes empresas têm, pelo menos, uma pessoa para calcular impostos. Há algumas que precisam manter equipes para isso.” Para pequenos empresários, a alternativa acaba sendo utilizar contadores externos para o trabalho. 
Em comparação à burocracia exigida para outros tipos de atividade, o segmento dos serviços parece privilegiado. É a área que agrega menos exigências. O tempo médio para a abertura de uma empresa fica em 30 dias — caso não haja a exigência de licença especial para funcionamento. “Geralmente essas empresas não incomodam a comunidade, pois funcionam em horário comercial. Mas os bares noturnos precisam de alvará para trabalhar de madrugada e colocar mesas nas ruas”, exemplifica Chamun. Com a aprovação da Lei Kiss, o processo para abertura de estabelecimento ficou mais demorado, pela necessidade de alvará que garanta segurança dos trabalhadores e do local. “Engessaram de tal forma que todo o alvará deve passar por trâmites específicos, mesmo os de atividades que não expõem ao risco.” 
A dificuldade de planejamento dos novos negócios funciona como entrave. Muitos empresários não elaboram um plano adequado e acabam descobrindo dificuldades no meio do caminho. “Para abrir um negócio, é preciso conhecer a área. Não há como abrir uma consultoria, se a pessoa não tem conteúdo para isso ou, então, abrir um comércio sem conhecer como funciona o mercado, a concorrência e a questão da lucratividade.”
Outro ponto que pode atrapalhar os empreendedores é a questão de financiamento. Quando uma pessoa decide construir um negócio ainda não há empresa constituída. Sem constar no CNPJ, não há como obter crédito em instituições financeiras. “Há uma máxima que diz que o banco empresta dinheiro para quem não precisa. A maioria das pessoas não tem garantia para comprovar uma necessidade”, comenta Chamun. 
Com a dificuldade de conseguir financiamento, os futuros empresários que precisam adquirir equipamentos ou formar um estoque são forçados a buscar dinheiro de forma informal. Entre as alternativas estão os empréstimos com conhecidos, a venda de bens e imóveis ou a procura por sócios. 
Fonte: Correio do Povo