Indústria gaúcha contará com novos recursos do BNDES

Instituição terá um aporte de R$ 30 bilhões do Tesouro para ampliar o crédito às empresas

 

Com os negócios prejudicados pelas restrições ao crédito no início deste ano, segmentos de peso na indústria gaúcha como máquinas agrícolas, equipamentos, ônibus e caminhões podem ter as esperanças renovadas. Principal fonte de recursos para financiamento de longo prazo no país, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) terá um aporte de R$ 30 bilhões do Tesouro para ampliar o crédito às empresas.

A injeção de recursos, caso se reflita na liberação de crédito, pode ajudar o Estado a reverter a tendência desaceleração no setor. Considerado um termômetro da atividade, o Índice de Desempenho Industrial (IDI), calculado pela Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs), mostra forte retração de 3,4% de março ante fevereiro, o que levou o indicador a ficar negativo (-0,4%) no primeiro trimestre em relação aos três primeiros meses de 2013. A restrição tem prejudicado até mesmo os fabricantes de máquinas agrícolas, que poderiam se beneficiar de mais uma safra cheia. Os sinais indicam, pelo menos, que a procura seria superior ao atual ritmo de negócios.

— As vendas têm sido a metade da demanda — diz Claudio Bier, presidente do Sindicato das Indústrias de Máquinas e Implementos Agrícolas do Rio Grande do Sul (Simers).


 

Para Gilberto Petry, presidente do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico e Eletrônico no Estado (Sinmetal), a liberação de crédito é imprescindível para a retomada dos negócios.

O cenário, avalia o dirigente, reduz, por ora, o efeito da chegada de novos investimentos, como a Hyundai Elevadores, em São Leopoldo, o início da construção da fábrica de caminhões da Fonton em Guaíba e, na mesma cidade, a ampliação da Celulose Riograndense.

O BNDES nega estar segurando crédito. Informa que os desembolsos do Finame, principal modalidade para financiamento de máquinas, equipamentos e veículos, alcançou R$ 19,2 bilhões no primeiro trimestre 17,2% a mais do que o mesmo período de 2013. O represamento, assegura o BNDES, estaria ocorrendo nos bancos repassadores.

Para Geraldo Santa Catharina, diretor financeiro e de relações com investidores do grupo Randon, os repasses teriam ocorrido mais no primeiro bimestre, quando os juros do Finame era de 4,5% ao ano — agora, são de 6%.

— A nossa percepção é que os bancos repassadores estão considerando a remuneração muito baixa pelos riscos que estão correndo — entende Santa Catharina.

 

Nove de 16 setores produzem mais no trimestre

Apesar da queda trimestral do principal indicador que mede o nível de atividade da indústria _ puxado por metalurgia, máquinas e veículos automotores _, outros segmentos tradicionais, como bebidas, alimentos, borracha/plástico e tabaco, conseguem se manter no azul em 2014.

Com avanço de 20,3% no Índice de Desempenho Industrial (IDI) no acumulado do ano, o segmento de couro (dentro do setor de couros e calçados) é o que lidera o ranking positivo no Estado, mostra o levantamento da Fiergs. Mesmo com as recorrentes queixas sobre as dificuldades para exportar, são as compras externas que têm garantido os resultados.

No primeiro quadrimestre, os embarques somaram US$ 185 milhões, 22,5% a mais na comparação com os quatro meses do ano passado, o que faz o Rio Grande do Sul dividir com São Paulo a primeira posição nas exportações brasileiras do produto.

_ Estamos vendendo couro acabado principalmente para o mercado automotivo da Europa e dos Estados Unidos _ informa o presidente-executivo da Associação das Indústrias de Curtume do Rio Grande do Sul (AICSul), Moacir Berger de Souza.

Apesar dos resultados positivos, Souza teme pelos próximos meses. O recuo do câmbio, a perda de incentivos fiscais para exportar e a alta no custo da energia elétrica, cita Souza, podem afetar a competitividade daqui para a frente.

A queda do desempenho da indústria gaúcha medido em março, após dois meses de alta e crescimento de 4,5% ano passado, também foi causada pela parada nos dias de Carnaval, lembra a Fiergs. Mesmo assim, é esperada desaceleração no restante do ano diante de fatores como aumento do juro, falta de confiança para investir e acúmulo de estoques.

Alguns indicadores como faturamento, emprego, massa salarial e horas trabalhadas na produção permanecem no campo positivo no acumulado do ano.

Fonte: Zero hora