Novos pais em um mundo diferente

Papel do homem está sendo redefinido, beneficiando toda a família

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A mudança nas estruturas familiares está alterando também o papel do pai dentro desse contexto. Antes visto como o provedor financeiro e a figura máxima de autoridade, o homenageado deste domingo agora tem atuação muito importante nas questões afetivas e escolares de seus filhos. De acordo com a psicóloga e doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Ufrgs Ana Cristina Pontello Staudt, sempre se deu muito valor ao papel da mãe, mas a figura do pai está mudando tudo isso. “A ideia não é igualar a relação de mãe e pai com os filhos, e sim que eles possam compartilhar essa convivência, cada um dando o seu melhor a partir do seu perfil”, afirma a psicóloga. 
Segundo Ana Cristina, o homem é capaz de enriquecer as relações familiares com suas características, diferentes das femininas. “Não é só a criança que ganha com essa mudança. Toda a família é beneficiada”, comenta ela, reforçando que a criança cresce tendo uma compreensão melhor sobre vínculos. O que acontece é que antigamente havia apenas um modelo familiar aceitável e hoje ele está sendo questionado, pois as pessoas estão mostrando que é possível ter elos saudáveis de outras formas. Ana Cristina destaca que parte dessa alteração está relacionada à mudança do papel da mulher. “Com elas dividindo outras responsabilidades, os homens também tiveram que mudar para atender às necessidades da casa”, conclui. 
Um exemplo são as atividades nas etapas iniciais da vida da criança, como troca de fraldas e o amparo durante o choro da madrugada. “Quando o pai tem um trato com o filho desde o início, ele acaba se sentindo pai mais cedo e criando afinidades”, observa a pesquisadora. Durante um estudo realizado pelo Grupo Dinâmica das Relações Familiares, do qual Ana Cristina faz parte, a maioria dos pais informou que se considerava participativo e envolvido com o meio familiar. No entanto, os mesmos acreditam e desejam melhorar ainda mais, pois reconhecem que esse é um processo que pode ser mudado.
Dessa forma, já se percebe algumas adaptações com o mercado de trabalho. “Há algumas tentativas de alteração da lei de licença-paternidade, para permitir que o pai participe mais dos primeiros momentos do bebê. Isso já comprova a transformação e uma nova necessidade social”, exemplifica. 
Torcedores desde criancinha
Este Dia dos Pais será um pouco diferente por ter Gre-Nal. Afinal, a tradição da rivalidade e a paixão pelos clubes é passada, geralmente, entre as gerações, ao ser criada dentro do ambiente familiar. A espera de Enrico foi anunciada pela esposa Vivian com a frase “nosso sonho está se realizando” a Conrado Martins, 42 anos. Com 1 ano, Enrico se diverte ao ouvir o pai cantar as músicas da torcida do Inter. A carteirinha de sócio foi feita aos 10 dias de vida. Estreou no Beira-Rio durante a Copa do Mundo. Entre os brinquedos favoritos já estão as bolas de futebol e de basquete. 
Para o policial rodoviário federal, o mais fascinante são as descobertas quase que diárias. “Acho fantástico não saber como ele vai reagir. O Enrico faz coisas que eu faço, que minha esposa faz ou que meus irmãos fazem, mas sempre nos surpreende.” Não é só Enrico que está conhecendo o mundo. Os pais aprendem a lidar com situações novas. “Esses dias quando entrei em casa ele veio engatinhando e me estendeu os braços. Isso acaba comigo.”
Com dois meses a mais que Enrico, Luiza fica feliz com a camiseta tricolor. A primeira ela ganhou quando estava dentro da barriga. O pai Dionísio Ferme, 43 anos, sempre foi ao estádio do Grêmio com seu pai e espera que possa fazer o mesmo com a filha. “O Grêmio me uniu ao pai. Ver as conquistas sem ele no estádio não tinha graça. Quero que o mesmo aconteça com a Luiza, para que esse seja mais um tema em comum entre nós”, diz. 
Dionísio é enfermeiro e, com a esposa, Denise, trabalha no plantão de uma noite e folga duas. “Conseguimos ter bastante tempo para ficar junto durante o dia.” O tempo é usado para assistir a desenhos e espalhar os brinquedos pela casa. “Estou aprendendo a não ser superprotetor, pois sei que será ruim para ela se eu estiver sempre por perto cuidando.” Não imaginava que as atitudes da filha mexessem tanto com seu lado sentimental. “Quando ela faz algo novo quero mostrar para todo mundo. Acabei me tornando um pai bem babão.”
 
Fonte: Correio do Povo