Pente-fino em pontes anda em marcha lenta no Estado

Nas 1,2 mil estruturas sobre rios, rodovias e ferrovias no Estado, são feitas basicamente inspeções visuais para detectar problemas

pontes
A ponte caiu, mas graças ao alerta de motoristas, não havia ninguém em cima. Para identificar a tempo defeitos como o que provocou transtornos na principal ligação rodoviária da Região Central com a Fronteira Oeste há duas semanas, oDepartamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) conta com inspeções feitas a cada dois anos. Uma empresa terceirizada faz vistoria em cerca de 400 pontes e viadutos. O número de fiscais não foi fornecido pelo Dnit. O órgão informou apenas que o engenheiro da unidade local acompanha.
No Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer), responsável por rodovias estaduais, engenheiros das 17 unidades regionais fazem inspeções anuais em 851 pontes e viadutos, sendo que pode ser solicitado apoio técnico para vistorias detalhadas, quando houver necessidade.
Especialistas ouvidos por ZH avaliam que, além do número restrito de profissionais para o volume de vistorias, o método é pouco eficiente. As inspeções rotineiras consistem, basicamente, em avaliações visuais, acrescentam. Assim, os problemas estruturais acabam sendo percebidos somente quando se tornam aparentes, como ocorreu na estrutura na BR-287, sobre a várzea do Rio Toropi, entre São Pedro do Sul e Mata. O Dnit interrompeu o trânsito depois de motoristas avisarem a Polícia Rodoviária Federal sobre desníveis na pista. Dois dias depois, a estrutura caiu.
– A simples vistoria não basta para atestar a estabilidade. O grande problema é que os órgãos não dispõem nem de condições técnicas nem de orçamento para fazer uma manutenção preventiva permanente – critica o presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea-RS), Luiz Alcides Capoani.
Lei para vistoria foi arquivada
Para o engenheiro Bernardo Fonseca Tutikian, presidente da Associação Brasileira de Patologia das Construções (Alconpat), não há problema em que a inspeção seja visual, desde que contemple todos os elementos da obra, inclusive blocos de fundação, o que pode exigir a presença de mergulhadores e acaba encarecendo o procedimento. Mais grave, segundo Tutikian, é que os relatórios das vistorias não são conhecidos.
– O histórico das falhas e correções em cada inspeção deveria ser público, mas infelizmente não temos qualquer relato de vistoria realizada pelo Daer ou por empresas terceiras – afirma.
Em 2010, quando a queda da ponte sobre o Rio Jacuí, na RSC-287, entre Agudo e Restinga Seca, provocou cinco mortes, o Crea-RS se mobilizou para propor um projeto de lei estadual instituindo um Programa de Gerenciamento de Obras de Arte Especiais, prevendo a obrigatoriedade de inspeções periódicas detalhadas.
O trabalho incluiria desde testes de esforço até estudos hidrológicos, levando em conta que, além de quantidade, velocidade e peso dos veículos, também incide sobre a estrutura a intensificação de enchentes e a devastação de matas ciliares, que fazem aumentar a correnteza. O projeto foi arquivado na Assembleia Legislativa ainda em 2010.
Cargas acima do peso fragilizam estruturas
A maioria das pontes e dos viadutos em manutenção no Estado está recebendo reparos porque já teve algum abalo grave na estrutura, seguidamente causados pela travessia de caminhões acima do peso permitido.
O conserto acaba dependendo de obras emergenciais, o que faz aumentar os gastos públicos, avalia o engenheiro especialista em transportes Mauri Panitz, ex-funcionário do Departamento Nacional de Estradas de Rodagem (Dner), cujas funções foram assumidas pelo Dnit.
– Uma obra emergencial pode custar até 10 vezes mais. Manutenção permanente diminuiria gastos – aponta Panitz.
Conforme o engenheiro Ricardo Vuaden, superintendente de Obras de Arte Especiais da Diretoria de Infraestrutura Rodoviária do Daer, muitas estruturas têm mais de três décadas e foram projetadas de acordo com as necessidades da época, quando as cargas variavam de 12 a 45 toneladas. Hoje, há caminhões bitrem que carregam mais de 70 toneladas.
Daer e Dnit emitem autorizações especiais de trânsito a veículos com cargas excepcionais, as quais são fiscalizadas pelas polícias rodoviárias. O Estado dispõe de apenas uma balança, na ERS-122, em Bom Princípio. Existe a previsão de implantar um posto de pesagem na Rota do Sol. Nas rodovias federais, o Dnit conta com sete postos de pesagem.
O presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas e Logística no Estado (Setcergs), Sérgio Neto, reconhece que há sobrecarga nas estradas  devido à evolução da frota, mas defende a necessidade de ação do poder público para adequar a infraestrutura e evitar perdas.
Localização dos casos mais preocupantes

Situações críticas

1 – BR-386/BR-158
A ponte que liga Iraí (RS) a Palmitos (SC) foi interditada em agosto. Os tubulões (fundações profundas de concreto e ferro) haviam sido danificados na enchente que atingiu a região em julho, causando problemas estruturais na ponte sobre o Rio Uruguai. Após reparos, em setembro, teve o tráfego liberado para veículos de até 20 toneladas. As obras para a liberação total devem ser concluídas neste fim de ano. Problemas estruturais já eram conhecidos desde 2013, quando circulou na internet um vídeo mostrando que a ponte se movia durante a passagem de veículos.
2 – ERS-569
Em vistoria de rotina, foi identificado um problema estrutural na viga de entrada da ponte sobre o Rio da Várzea, no km 28,8, em Barra Funda, no norte do Estado. O serviço de manutenção está em fase de licitação.
3 – RSC-470
A ponte sobre o Rio da Prata, no km 143, em André da Rocha, na Serra, foi interditada em junho. Construída com estrutura treliçada em ferro, tabuleiro de madeira e capacidade máxima de 20 toneladas, a estrutura cedeu após um caminhão com o dobro da carga permitida tentar fazer a travessia. O projeto para substituir a estrutura está em fase de conclusão.
4 – ERS-020
Danificada por uma enchente no Rio dos Sinos, a ponte em Taquara tem trânsito apenas na pista central, em sentido único, controlado por semáforos. Os reparos começaram em outubro. A estrutura será ampliada e passará a ter duas pistas. A capacidade da ponte aumentará de 24 para 45 toneladas. O segundo passo será a construção de duas passarelas para pedestres e ciclistas – uma em cada lateral da ponte. Essa parte da obra ainda precisa ser licitada.
5 – BR-290
No km 479, em Rosário do Sul, a ponte sobre o Rio Santa Maria apresenta rachaduras na estrutura. A Polícia Rodoviária Federal pediu avaliação de um engenheiro do Dnit, que recomendou providenciar manutenção, mas afirmou que não seria uma obra urgente.
6 – ERS-608
A ponte sobre o Arroio Passo dos Pires, no km 13, entre Pinheiro Machado e Pedras Altas, no sul do Estado, foi interditada em maio. A medida foi tomada após vistoria do Daer, para garantir a segurança dos usuários. As obras começaram em junho e devem ser concluídas em novembro.

7 – RSC-287
No km 7,5, em Montenegro, no Vale do Caí, o viaduto sobre a rede ferroviária apresenta fissuras no pórtico de apoio. As falhas foram identificadas em inspeções rotineiras. Está em elaboração o termo de referência para contratação do projeto de recuperação estrutural.

8 – ERS-702
Uma nova ponte sobre o Rio Piratini, no principal acesso à cidade de Piratini, no sul do Estado, está em fase de conclusão do orçamento. Em 2012, parte do lastro metálico foi reformada, e o asfalto, renovado. A construção de uma nova ponte era exigência da comunidade porque a atual, construída há 58 anos, só permite a passagem de um veículo por vez. Como é tombada pelo patrimônio histórico, alterações estruturais são limitadas.