Premiados "Gente do Campo" cultivam o futuro do agronegócio no RS

Quatro produtores gaúchos serão homenageados durante a Expointer deste ano

produtores

Com idades e atividades distintas, moradores de diferentes regiões do Estado não se conhecem, mas têm algo em comum: desenvolvem a produção agropecuária com uma visão de futuro. Vencedores do prêmio Gente do Campo, realizado por Zero Hora e Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), quatro produtores gaúchos serão agraciados com a distinção em 30 de agosto, no primeiro dia da Expointer. Conheça as histórias de pessoas que ajudam a engrandecer o agronegócio gaúcho.

Menos animais e bovinos mais pesados

Chegou o tempo das vacas gordas. E, no caso de Vilmar Brasil, 63 anos, não é apenas força de expressão. O divisor de águas foi o ano de 2006, quando a propriedade de 650 hectares, em Herval, deixou para trás animais com média de peso de 420 quilos para os atuais 530 quilos.
Um dos responsáveis por todo esse ganho é Davi dos Santos — na época, um “jovenzinho recém-formado”, como diz Brasil, que começou a auxiliar a fazenda por meio de parceria com o Programa Juntos para Competir, do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).

Santos chegou com propostas ousadas. Sugeriu que o campo fosse despovoado e a pastagem, melhorada. Brasil ficou desconfiado, mas resolveu aceitar as mudanças aos poucos. Iniciou fazendo melhorias em 20 hectares de campo por meio de azevém e adubação. Hoje, essa área foi expandida para 150 hectares.
O número de cabeças de rês diminuiu de 600 para 560. Com comida melhor e mais espaço, o índice de reprodução passou de 60% para 85%. O desmame também foi acelerado: passou a ser feito depois de 90 dias, e não mais somente após um ano — o que faz com que os animais adultos se recuperem mais rapidamente.

Brasil sempre usa o pronome “nós” quando fala da fazenda. A mulher, Ivete, 60 anos, cuida das contas. Ele, da compra e da venda. O filho, Juliano, 40 anos, da inseminação e da lida com os animais. A nova técnica que pretendem implantar é colocar terneiras com 14 meses para procriar.

— Não se pode pensar que o tradicional está bom e pronto. É preciso inovar, porque, se a demanda aumenta, a produção também tem de aumentar — aconselha ele.

A estrada de chão e cheia de altos e baixos que leva até a propriedade dificulta o transporte diário, necessário à pecuária de leite. Assim, ganhou força a criação de ovinos, especialmente para venda nas festas de fim de ano.

Agricultura de precisão e renovação acelerada de máquinas


Nairo Bittencourt, de Entre-Ijuís, é o vencedor na categoria Tecnologia
Foto: Fernando Gomes

Em um pavilhão com mais de 20 máquinas agrícolas, o trator mais antigo é de 2011. A cada dois anos, em média, Nairo Bittencourt, 64 anos, renova a frota usada na propriedade de 3 mil hectares, em Entre-Ijuís. Ao investir em tecnologias no mercado de colheitadeiras, pulverizadores e plantadeiras, o agricultor busca desempenho máximo de produção. A agricultura de precisão é o carrochefe do negócio.
— É difícil passar um ano sem comprar uma máquina ou equipamento. Busco tecnologia de ponta — diz Bittencourt, que administra a propriedade ao lado dos filhos Arthur, 27 anos, e Lourenço, 25 anos.

Máquinas usadas por duas ou três safras, e mantidas em bom estado, são revendidas. Cada equipamento que chega à Agropecuária Morada do Búfalo é programado conforme o sistema de manejo indicado para os cultivos de feijão, soja, milho, trigo e aveia. Aplicadores de fertilizantes e semeadoras recebem mapas de correção em taxa variável.
— Assim, damos ao solo o que precisa e na quantidade certa — conta Bittencourt, um pioneiro na agricultura de precisão na região, em 2007.

Na primeira vez em que fez aplicação de calcário a taxa variável, após análise do solo por técnicos, o produtor economizou em produto o equivalente a um equipamento. No plantio de milho deste ano, fará pela primeira vez semeadura em taxa variável, de acordo com o potencial produtivo do solo. O ciclo será fechado com mapas de colheita para monitorar a produção.
Os cuidados com a fertilidade ajudam nas pastagens para o rebanho bovino de 1,5 mil cabeças. A recria e terminação dos animais é mantida para integrar lavoura e pecuária.
Ao investir R$ 6,5 milhões neste ano, concretizará o que julga faltar na propriedade: silos para armazenagem dos grãos. A capacidade estática de 184 mil sacas será suficiente para estocar quase toda a safra de verão.

Parreirais de uvas e faturamento protegidos


Charles Venturin, de Caxias do Sul, ganhou na categoria Empreendedorismo
Foto: Fernando Gomes

Entre os 60 mil cachos de uvas finas cultivados na propriedade dos Venturin, em Caxias do Sul, é quase impossível encontrar algum que não tenha passado pelas mãos da família. Durante o processo de frutificação, todos são minuciosamente vistoriados com uma espécie de pente que elimina o excesso de flores.
Os cuidados, que vão da cobertura dos parreirais com lonas plásticas ao uso mínimo de defensivos, resultam em uvas de mesa cobiçadas e premiadas.

— É tudo no detalhe. Qualquer descuido pode comprometer a produção — diz Charles Venturin, 39 anos.

O diferencial é constatado na coloração, aparência e gosto da fruta — com 22% de teor de açúcar, quase o dobro da média. As 40 toneladas de uva de mesa cultivadas em pouco mais 2,5 hectares nem saem da propriedade para serem vendidas. De janeiro a abril, a família recebe compradores diariamente. Com cesto nas mãos, cortam os cachos escolhidos e os embalam com um selo de origem e certificação para produtos sem resíduos químicos.

— É um trabalho artesanal. Fazemos questão de acompanhar todo processo — conta Charles, que, no final da década de 1990, conduziu a virada nos negócios da família.

Na época, quase 70% da produção de uvas finas era perdida nos parreirais em razão de chuva em excesso. A vontade de empreender e dar um novo rumo à atividade veio após ter morado nos Estados Unidos, em uma fazenda com produção orgânica. Voltou decidido a reestruturar a propriedade.
Além da cobertura das uvas, a produção é cultivada hoje com irrigação por gotejamento aéreo, técnica implantada após viagem a Israel. O investimento é compensado na venda: o quilo da uva de mesa chega a R$ 5, enquanto o preço médio no mercado é próximo de R$ 3,50. O reconhecimento veio também em premiações. São mais de 60 troféus, exibidos com orgulho.

Carne premium é a prioridade


Fernanda Costabeber, de Santa Maria, venceu na categoria Produtor Jovem
Foto: Arquivo pessoal

A cena de uma menina de olhos azuis e rosto angelical negociando terneiros no meio do campo, em meio a criadores com o dobro de sua idade, pode causar estranheza a um desconhecido. Mas as pessoas próximas de Fernanda Costabeber, 23 anos, sabem que a atividade é executada com dedicação e conhecimento. Estudante do último semestre de Veterinária, divide seus dias entre o campus da Universidade Federal de Santa Maria e a fazenda da família, em São Sepé.

— O que precisar eu faço, desde vacinar os animais até arrumar alguma mangueira — diz Fernanda.

A fonte de inspiração é o pai, Fernando Costabeber, também veterinário. Ao lado do patriarca, a estudante não escolhe as atividades na propriedade ocupada por 2,5 mil bovinos de corte das raças hereford, angus e cruzas.

Voltada à terminação de animais, a Fazenda Pulquéria adota o sistema de autoconsumo — os animais têm ração o dia todo em um cocho abastecido constantemente, além da pastagem com azevém, aveia e capim sudão.

— Isso faz com que os animais engordem mais rapidamente, saindo do campo em no máximo um ano. Resulta em acabamento de maior qualidade. A carne fica com mais maciez, sabor e cobertura de gordura — diz Fernanda.

A produção de carne premium, priorizada na fazenda, é foco do estágio que a jovem está fazendo em Botucatu (SP). A ideia é aperfeiçoar as técnicas aplicadas na propriedade, o que já faz com que tenha rendimento 10% superior na hora da venda às indústrias. Planos para depois da formatura? A resposta é imediata:

— Fixar residência na fazenda e intensificar a produção para que a carne deixe de ser vendida apenas como commodity.

Fonte: Zero Hora