Queijo fraudado tinha cheiro de gasolina, pouca validade e gosto ruim, revelam escutas do MP

Interceptações telefônicas foram usadas para chegar aos suspeitos de adulterar queijo com adição de amido de milho em Três de Maio e Ivoti

queijo

As investigações da Operação Queijo Compen$ado 1, deflagrada pelo Ministério Público em Três de Maio e em Ivoti nesta terça-feira, revelaram que o queijo adulterado chegava na mesa do consumidor. E mais: mesmo sem ser nociva à saúde, a adição de amido de milho ao produto transformava as características do queijo, e os clientes notavam isso.

Escutas telefônicas do MP revelaram que o queijo, muitas vezes, era mole e, noutras, esfarelava. Além disso, o produto também aparentava ter cheiro de gasolina, vir na cor verde e estragava muito antes dos 90 dias previstos no prazo de validade da embalagem.

Em uma das interceptações telefônicas gravadas, um vendedor dos produtos da Lacticínios Progresso, identificado como Tadeu, é cobrado por um dos donos da empresa, Volnei Fritsch — que foi preso preventivamente junto com o filho, Pedro Fritsch, e outro sócio, Eduardo André Ribeiro —, sobre a quantidade de estoque que Tadeu estaria acumulando e até devolvendo.


Como resposta, o comerciante diz:

— Te coloca no meu lugar então. Os clientes ligam 24 horas por dia dizendo que o queijo tá fedido, que o queijo não dá pra aguentar. Um cliente fez lasanha pra eles comer e teve que botar fora a lasanha, porque o queijo estava uma porcaria. (…) E aí tu vai dizer que o queijo ficou de uma semana para a outra estragou?

Como resposta, Volnei afirma que “o queijo tá mole, mole, mole” e que “o queijo não saiu tão mal daqui”, se referindo à fábrica, que fica em Três de Maio. Na sequência, Tadeu dispara:

— Então tu está me dizendo que o queijo amolece depois de fabricado? Ah, ô, Volnei, tu tem há 30 anos fábrica, tu vai querer me enrolar, meu? É a mesma coisa que tu me dizer que a embalagem branca que contaminou o queijo. Teu queijo que saiu de lá é uma porcaria, vai estragar em qualquer embalagem.

— Pode ser, por que não? — rebate Volnei.

A conversa segue. Tadeu ainda diz que na etiqueta, o prazo do queijo está estimado em 90 dias, “mas ele não dura mais que uma semana”. Mais tarde, conta que o cliente que colocou a lasanha fora tinha feito um almoço para a família no domingo. Mas que, devido ao queijo, teve de sair para comer fora. E, depois, devolveu outros seis pacotes do queijo Progresso que havia comprado.

Outra gravação mostra que a Progresso comprava amido de milho para adulterar o produto:


Uma terceira escuta revela que cliente reclama da “catinga” do queijo:

E uma última ligação mostra reclamações de cheiro de gasolina:

Contraponto

Procurado por ZH, Arnildo Roesler ficou em silêncio em contato telefônico. Levado ao Presídio Estadual de Santa Rosa, Eduardo André Ribeiro não apresentou advogado e não se manifestou durante a prisão. Valdir Ortiz não retornou a ligação até o fechamento desta reportagem. O advogado Jorge Hoffmann, defensor de Volnei Fritsch e Pedro Felipe Fritsch, afirma que seus clientes “não praticaram os fatos pelos quais estão sendo acusados” e que “a defesa será realizada no decorrer do processo”.

Fonte: Zero Hora