
O mês de março tem sido devastador no Brasil, no Estado e em Alegrete. O colapso e o caos relacionados à falta de leitos e, em muitos hospitais no Estado, insumos e oxigênio têm provocado mortes não apenas pelas complicações da Covid-19. Porém, é importante ressaltar que em momento algum houve a falta de medicamentos, oxigênio ou de atendimento, em Alegrete. Embora os leitos estejam com 100% da lotação na UTI Covid e Hospital de Campanha, todos os pacientes estão sendo atendidos com suporte ventilatório e/ou intubação.
Entretanto, o Município de Alegrete assumiu, no dia (24), o primeiro lugar em óbitos na região da 10ª Coordenadoria Regional de Saúde. Entre os Municípios, Uruguaiana, o mais populoso, com 116.000 habitantes era quem liderava esse número. Porém, neste mês de março, as mortes em decorrência da Covid-19 em Alegrete, dizimaram famílias com um número assustador de óbitos. Esses dados chocaram a cidade e muitas pessoas têm questionado esse crescimento de vítimas.
A reportagem do PAT, pesquisou os dados que apontam o crescimento de 116,67% no número de mortes em relação ao período total da pandemia, sendo que, até 28 de fevereiro havia o registro de 66 óbitos e, em 24 dias o Município contabilizou 77.
Conforme informações de um mapa divulgado pelas secretarias dos municípios, na noite de quarta-feira(24), com 7.489 casos confirmados Alegrete assumiu o 1° lugar no ranking de óbitos. Nestes últimos dias, um número muito expressivo de pacientes intubados foi a óbito. Contudo, houve uma pequena melhora na terça-feira, onde duas pessoas saíram do tubo e o arrefecimento no caso de óbitos parece que está mais próximo. Na UTI Covid todos os leitos estão ocupados, assim como no Hospital de Campanha e nenhum paciente está sem auxílio para respirar. Eles estão intubados ou com ventilação mecânica.
Uruguaiana com 116 mil habitantes, estava com 111 mortes até 28 de fevereiro e no mesmo período registrou 28, tendo um acréscimo de 25,23%. Já os Municípios que chegaram a 100%, levando em consideração, os dados no mesmo período foram: Manoel Viana que tinha três mortes e teve mais três chegando a 100% e Quaraí que tinha 15 e contabilizou mais 15, sendo que, são 7 mil habitantes em Manoel Viana e 23 mil em Quaraí.
Já em âmbito de País e Estado, embora os números sejam da mesma forma assustadores, o crescimento entre o mês de fevereiro e março fica em torno de 50% no Brasil e 138% no Estado, conforme números apurados da Secretaria de Saúde do Estado.
Em fevereiro foram 30.484 mortes no Brasil e, em março o número em 24 dias chegou a 45.743. Já no Estado, em fevereiro o número foi de 1.914 mortes e 4.644 em 24 dias do mês de março.
Em contato com o Diretor Técnico da UPA e UTI Covid-19, Dr José Fábio Pereira, ele avaliou os dados e fez um comparativo com Uruguaiana. Alegrete tem 80 mil habitantes e Uruguaiana 116 mil habitantes, por outro, lado Alegrete tem mais de 7 mil infectados e Uruguaiana 8 mil. “Sendo assim, nós temos quase que 12% da população infectada contra 6% de Uruguaiana. O número de óbitos de Alegrete está em 143 e Uruguaiana está em 139, praticamente iguais. Nós estamos com o dobro de pacientes infectados comparado com a população. Então por ter mais infectados, estamos numa fase bem mais avançada do que eles. Isso quer dizer que, quanto mais casos positivos, mais óbitos, isto não é apenas aqui, mas no Brasil. Se percebe, que, nesta semana, o atendimento na UPA está normalizando, hoje tem oito, na última semana era no mínimo 30. Além do que eu já falei anteriormente, o vírus tá mais infectante, ele é um vírus mais agressivo, então vai fazer com que o quadro do paciente seja um pouco mais grave realmente. Com relação aos dados do estado, percebe-se que a nossa incidência é quase 50% maior que que Uruguaiana. Isso só pra mostrar que nós estamos numa fase diferente do Município vizinho. Sendo que os casos de confirmações estão muito diferentes, enquanto eles têm um número de cinco por dia nós estamos com 100. Desta forma, segundo dados do Estado, a cada 100 infectados nós estamos com a média de 1.9 enquanto no Rio Grande do Sul está 2.2.
Mas diante de todo esse cenário, nós estamos com uma melhora considerável esta semana, com pacientes saindo do tubo. Embora a UTI permaneça lotada e o Hospital de Campanha também. Além de que, se percebeu que, neste momento, os pacientes estão chegando menos graves. Acredito que tudo vai melhorar a partir do momento em que diminuir o número de positivos e isso só vai acontecer com o cumprimento dos protocolos que tanto falamos. O uso do álcool em gel e máscara, além de não sair de casa desnecessariamente.”- concluiu.
Já o Prefeito Márcio Amaral pontuou que é difícil destacar um motivo que explique a causa, mas que, embora tenhamos atingido esse número recorrente de mortes em pouco tempo e essa primeira posição na região, deve-se levar em consideração o número de infectados, pois Alegrete tem o maior número de positivados ativos da região. E, na média do Estado que é 2.2, Alegrete está abaixo com 1.9 de óbitos em relação ao número de positivados. “Esses últimos óbitos foram de pessoas conhecidas o que também impactou mais. Acredito que foi um somatório de fatores”- concluiu.
Neste mês de março, Alegrete contabilizou 2.391 pessoas positivas, chegando no dia 23 de março com 181 infectados em um único dia, nesta data havia 1.133 pacientes ativos. Neste mês, desde o dia 4 o número diário de infectados ativos ultrapassou mais de um mil com o ápice, até então, no dia 18 de março com 1.498 pacientes ativos.
Veja no quadro abaixo a posição de Alegrete.
Foto : Alex Lopes
Flaviane Antolini Favero