Após noite de confronto, Camaquã amanhece vandalizada, mas calma

Porta retorcida, placas rasgadas, pedras e resquícios de rojão e de pneus queimados fazem parte do cenário

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Se tivesse sido uma batalha, o cenário da guerra se chamaria Avenida José Loureiro da Silva. E, no amanhecer desta terça-feira, o início da via, onde fica o pórtico de uma das entradas de Camaquã, amanheceu vandalizado. Porta retorcida, placas rasgadas, pedras e resquícios de rojão e de pneus queimados fazem parte do cenário que virou ponto turístico nesta manhã. Os veículos passam devagar e algumas pessoas param para fazer fotos.

Na noite anterior, uma carreata que iniciou pacífica, no começo da tarde, terminou em confronto com a Polícia Rodoviária Federal (PRF) e a Força Nacional. Os policiais utilizaram bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha para impedir que os manifestantes voltassem a interromper a BR-116, que estava liberada desde o fim da manhã.

Por outro lado, moradores de Camaquã revidaram com pedras, rojões e pedaços de madeira, além de barricadas sob o pórtico. Naquele momento, já não havia praticamente mais caminhoneiros, responsáveis pelo início do protesto pelo aumento do frete e pela redução dos pedágios e do diesel.

— Quer uma? — pergunta à repórter um dos seguranças de uma empresa de tratores, Vanderlei Rosa dos Santos.

Na mão dele, uma bala de borracha amarela de cerca de 10 centímetros.

— Eu e a gurizada aqui juntamos mais de 200 dessas. Vamos guardar pra mostrar daqui a uns 20 anos — justificou ele.

O que parte dos 62,7 mil habitantes do município comenta é que nunca se viu algo semelhante. O confronto, que durou mais de sete horas, foi reportagem de abertura do Jornal Nacional de terça-feira e parou em jornais de todo o país.

— Pena que fomos notícia por algo como isso. Não sou contra a manifestação, mas não precisava de vandalismo e de tanta força da polícia — lamentou Juliana Correa, 30 anos, enquanto levava o filho de 10 anos para a escola nesta manhã. — Meu pai tem 70 anos e passou mal com o gás (lacrimogêneo). Ele está melhor, agora a vida tem que seguir, acho que já deu — completou a produtora de merchandising.

O protesto teve fim, com rescaldo dos bombeiros na área de pneus incendiados, por volta da meia-noite. Depois disso, segundo agentes da PRF que ficaram de plantão na BR-116, eles desbloquearam a via mais duas vezes. O motivo foram focos de incêndios no trecho de Cristal a Camaquã. Os pneus foram removidos logo para liberação da rodovia, mas nenhum suspeito foi localizado.

Veja os pontos de bloqueio:

1 Cachoeira do Sul: BR-153, km 386
2 Condor: BR-158, km 125
3 Panambi: trevo com BR-285, BR-158, km 161
4 Pejuçara: BR-158, km 178
5 Júlio de Castilhos: BR-158, km 265 (sem interdição de pista, apenas manifestantes no local)
6 Bagé: BR-293, km 182 (sem interdição de pista, apenas manifestantes no local)
7 Frederico Westphalen: Posto Lagoa, BR-386, km 36
8 Soledade: BR-386, km 243 (sem interdição de pista, apenas manifestantes no local)
9 Fontoura Xavier, BR-386, km 268 (sem interdição de pista, apenas manifestantes no local)
10 Rio Grande: BR-392, km 1 (sem interdição de pista, apenas manifestantes no local)
11 São Sepé: Posto Cotrisel, BR-392, km 297
12 Santa Maria: BR-392, km 350 (sem interdição de pista, apenas manifestantes no local)
13 Palmeira das Missões: trevo com BR-158 e ERS-569, BR-468, km 0
14 Três Passos: trevo de acesso, BR-468, km 99,7
15 Três de Maio: BR-472, km 132,4

Confira, no vídeo abaixo, um dos momentos do confronto em Camaquã: