‘Assintomáticos transmitem’, diz médica diagnosticada com coronavírus no RS

Resultado positivo saiu na semana passada e jovem acredita ter contaminado o namorado com o coronavírus.

 

A médica que atestou positivo para a Covid-19, em Porto Alegre, alerta que assintomáticos, pessoas sem sintomas, também podem transmitir a doença . A jovem, que pediu para não ser identificada, conta que fez o exame apenas porque o namorado, com quem ela mora, avisou que estava com febre e tosse – principais sintomas do novo coronavírus. O resultado saiu no dia 18.

“Acho que as pessoas ainda não se deram conta que elas podem ser portadoras assintomáticas e estarem transmitindo para quem é familiar, para quem não é. Estão transmitindo para pessoas que conhecem e que não conhecem, e que vão ter conhecidos no grupo de risco. E essas pessoas vão ficar mal, vão precisar de hospital, e a gente não vai ter capacidade para cuidar de todas elas”, ressalta a médica.

A maior suspeita é que ela tenha passado o vírus para o namorado.

“Eu não faço a menor ideia de como eu possa ter contaminado. Moro com meu namorado, e no sábado, teve uma janta antes do caos começar, com dez amigos, cinco casais, e desses, incluindo eles, todos estão sintomáticos até hoje. Mas por falta de kit, só ela [uma das amigas] e mais dois fizeram o teste, que ainda está pendente. A maior suspeita é que eu tenha contraído no hospital, porque nenhum deles viajou e teve contato com quem viajou”, disse.

A jovem conta que mesmo a partir do resultado positivo, teve poucos sintomas.

“Na quarta, quando voltei pra casa eu suava muito, muito mesmo, e muita dor de cabeça, mas não tinha tosse nem febre. Mas uma dor de cabeça muito forte. Meu namorado teve febre por três dias inteiros e bastante secreção nasal. E uma coisa curiosa: fazem três dias que não sentimos gosto, nem cheiro, de nada.”

O namorado buscou uma Unidade Básica de Saúde para realizar o exame, mas foi informado que as coletas estavam sendo feitas apenas para pacientes graves. Ele foi considerado confirmado com o vírus por conviver com uma médica e ter os sintomas da doença.

“Minha rotina tem sido bem ruim desde que testou positivo. A gente mora juntos, a gente não pode sair para fazer absolutamente nada. A gente está isolado, literalmente, do mundo”, aponta ela, que nesta quinta (25) completa uma semana de isolamento domiciliar com o namorado.

“Mas pior do que os sintomas é a angústia, de não ter o que fazer, de ter que esperar passar”, destaca.

Desde o exame positivo, eles não tiveram contato com mais ninguém. As compras de supermercado são feitas por familiares e amigos, que deixam os itens na porta do apartamento. O lixo é deixado na porta e um funcionário do condomínio recolhe, assim como as correspondências, que são entregues por baixo da porta.

“Acho que essa é a parte mais triste. Porque eu vou ter que ficar sem contato com ninguém, exceto o meu namorado, por um bom tempo. Meu plano, assim que fechar os 14 dias, é ver meu pai e minha mãe, dar um beijo e um abraço neles, tranquilizar que está tudo bem. Desde o início dessa história, todo dia que a gente faz chamada de vídeo, a minha mãe chora”, relata a jovem.

Caso os sintomas do coronavírus passem após duas semanas de isolamento, a jovem pretende voltar a trabalhar.

“Quando fechar os 14 dias, se eu estiver assintomática, vou voltar para o hospital para trabalhar. Porque está um caos. A quantidade de gente disponível para trabalhar está cada vez menor.”

Pensamento coletivo

A médica considera que a população ainda não teve consciência da gravidade da situação que o país vive.

“Acho que tem muita gente ainda saindo para rua para caminhar, para levar o cachorro pra passear, para ir na praça tomar mate. Pessoas que poderiam estar em casa”, ressalta.

Como em alguns casos o vírus pode ser assintomático, as pessoas podem estar transmitindo sem saber. A jovem reforça a necessidade do isolamento social, mesmo sem os sintomas.

“É o momento de pensar no coletivo, é o momento de parar de pensar no seu umbigo, e de parar para pensar lá fora. Tem que ser um pensamento muito menos egocêntrico do que está sendo. Reforçar que os assintomáticos transmitem, inclusive são os maiores responsáveis pela transmissão da doença. Então, fiquem em casa.”

Coronavírus: infográfico mostra principais sintomas da doença — Foto: Foto: Infografia/G1

Coronavírus: infográfico mostra principais sintomas da doença — Foto: Foto: Infografia/G1

Fonte: G1