Uma reunião entre o Ministério da Justiça e representantes de Estados que recebem imigrantes ocorrerá na semana que vem
O ataque a Cheikh Oumar Foutyou Diba, ocorrido no último sábado, repercutiu nos setores públicos e políticos do país. A presidente Dilma repudiou o ataque no Twitter, e afirmou ter determinado à Polícia Federal que investigasse o caso. O secretário estadual da Justiça e dos Direitos Humanos, Cesar Faccioli, disse ao “Diário” que a preocupação prioritária é dar o acolhimento que Diba necessita. Ainda no domingo, ele entrou em contato com o Ministério da Justiça para tentar uma agenda. A reunião entre o ministério e representantes de Estados que recebem imigrantes será na semana que vem.
– Precisamos de uma política nacional para organizar e permitir que Estado e municípios possam se preparar para receber, acolher e fazer a inserção dessas pessoas – afirma Faccioli.
O secretário disse, ainda, que disponibilizará todos os recursos possíveis para ajudar Diba, inclusive com papéis burocráticos e formalização da permanência do senegalês no Brasil, para que ele possa trabalhar.
Em nota publicada no site oficial, o Ministério da Justiça anunciou que o ministro José Eduardo Cardozo determinou à PF “a tomada das providências cabíveis para auxiliar e apoiar as autoridades policiais estaduais competentes nas investigações criminais”. O ministériojá havia se manifestado anteriormente, em nota, repudiando o incidente e afirmando que “continuará a implementar políticas que respeitem a integração dos estrangeiros em nossa sociedade”.
O site “Catraca Livre” noticiou o financiamento coletivo que foi criado para auxiliar Diba. Já a “Folha de S. Paulo” publicou notícias sobre o ocorrido, com acompanhamento do caso. A Secretaria da Justiça e dos Direitos Humanos se pronunciou no Facebook, por meio de uma nota de repúdio. Eles afirmaram que prestarão todo o apoio a Diba.
Tentativa de latrocínio
Em princípio, a investigação sobre o ataque a Diba ficará a cargo da Polícia Civil. Conforme o delegado, inicialmente,eles trabalham com duas hipóteses: a primeira seria uma tentativa de latrocínio (roubo com morte). A segunda hipótese estaria relacionada a crime de cunho racial.
– Tudo indica que a primeira hipótese é a mais plausível. Vamos começar a procurar câmeras de segurança, falar com ele e com as pessoas que o socorreram – explicou o delegado.
Conforme o grupo Direitos Humanos e Mobilidade Humana Internacional (Migraidh) – ligado ao curso de Direito da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), que está cuidando de Diba e acompanhando o caso – ele está sob os cuidados de uma família de Santa Maria e ainda se encontra muito abalado.
– Neste momento, estamos tentando preservar tudo o que ele nos disse sobre o fato. No futuro, ele mesmo poderá se manifestar. O que estamos buscando agora é cobrar das autoridades uma política de acolhimento para receber esses refugiados em Santa Maria – disse Giuliana Redin, ao programa Timeline da Rádio Gaúcha na manhã desta segunda-feira.
Conforme a Polícia Civil, em 21 de outubro de 2013, Cheikh entrou com um pedido de refúgio no Conselho Nacional de Refugiados, em Caxias do Sul. Entretanto, o pedido foi negado. Ele entrou com um recurso e, neste momento, aguarda o resultado do pedido. O processo ainda está tramitando no Ministério da Justiça e, até a divulgação do resultado, o senegalês permanece em situação regular no Brasil.
Família que o acolheu evita falar com a imprensa
A imprensa tem tentado entrar em contato com Diba desde sábado. Por motivo desconhecido, a família que está acolhendo o senegalês não responde às tentativas de contato, tampouco permite que os veículos de comunicação entrem em contato com o imigrante. Foram inúmeras ligações e tentativas para obter alguma informação a respeito de Diba, tanto sobre seu estado de saúde, quanto sobre sua história pessoal.
A Associação dos Senegaleses do Rio Grande do Sul foi acionada, por meio da RBS TV Porto Alegre. Um representante da associação afirmou que vai falar com “Zero Hora” na terça-feira de manhã e que, logo depois, deve vir para Santa Maria. Ele afirma que pediu que Diba não falasse com a imprensa sozinho porque o imigrante não fala bem português.
Amigos há cinco anos
Vilmar da Silva Junior, 39 anos, mora em Santa Maria e diz que conheceu Diba em Caxias do Sul há cinco anos. Lá, Junior vendia artesanato, e Diba vendia relógios. Ele conta que o imigrante veio para o Brasil com outros dois irmãos. Um deles teria morrido em Novo Hamburgo, em uma queda em cachoeira.
O artesão conta que estava com o senegalês na sexta-feira e que beberam um pouco. Depois, ele teria ido embora e deixado um dos dois cobertores que tinha com Diba. Junior também conta que o imigrante fala francês, inglês e que sabe se comunicar em português. Ele diz que não lembra de ver a maleta de bijuterias com Diba naquele dia.
Fonte: DIÁRIO DE SANTA MARIA