Baixinho é o último remanescente de uma profissão que está em extinção

Uma profissão em vias de extinção: o engraxate.

A reportagem do PAT falou com o único “sobrevivente” em Alegrete. Rubnei dos Santos, conhecido como Gordo, Baixinho, seja o que for, sorrindo, disse que não se importa com os apelidos. “Cabisbaixo dá brilho aos “pés” de seus clientes”, que saem satisfeitos com o trabalho.

Durante uma flanelada e outra, a pasta e o líquido, vários são os “segredos” para deixar aquele “trato” especial e saber que terá o retorno do cliente, assim, foi a entrevista com Rubnei.

Com a fama por sua simpatia, ele começa explicando que os tempos são difíceis. Em casa ele tem três filhas, dois netos e a esposa que o aguardam todos os dias. Para isso, o alegretense que destaca a falta de estudo para ter optado por essa profissão que é apaixonado, deixa isso claro, tem que contar com a sorte e ter um dia produtivo. A renda, nos últimos tempos, quando o dia é bom, chega a cerca de 30 reais. Ele chega sempre por volta das 8h30min., no calçadão e retorna pra casa depois das 16h30. Nos dias que não tem condições, faz o trajeto até a residência no bairro Nossa Senhora da Conceição Aparecida, a pé, o que leva aproximadamente 1h e 20 min.

Rubnei comentou que a renda da família está entre 500 e 600 reais, mas não desiste e quando está muito difícil, também, vende picolé e água, porém, nos dias frios somente a profissão de engraxate garante o sustento.

Os tempos são outros, comentou. Hoje quem opta pelo serviço, na sua maioria, são pessoas de mais idade, que mantém o hábito de engraxar os sapatos por apreciarem o brilho. Mas há aqueles para quem a atividade passou a ser dispensável, já que os sapatos de couro dividem espaço hoje com uma infinidade de calçados de outros materiais, principalmente o tênis.- citou.

Contudo, Rubnei falou dos clientes fiéis, àqueles que pelo menos uma vez por semana têm a parada obrigatória. “Gosto muito do que faço e não tenho vergonha, acredito que estou fazendo o meu melhor. O dinheiro sai do meu esforço, graças a Deus minha família não passa fome, por mais que hoje, chegar no mercado com 50 reais é uma loteria, para saber o que levar. Entretanto, minha conta de luz, já é um problema bem mais grave. Estou com atraso, torcendo para conseguir pagar sem deixá-los sem energia nestes dias frios” – enfatizou.

O alegretense disse que há mais de 42 anos vê a vida através do brilho de muitos sapatos e botas. Hoje, com 59 anos, se diz feliz por cada graça alcançada.  Durante a entrevista falou do sonho de ter uma cadeira que é própria para o trabalho, isto iria ajudá-lo até mesmo na coluna, mas o orçamento ficou ” salgado” demais, 400 reais. Porém, sorri e descreve que um dia, quem sabe.

Com a correria do dia-a-dia, poucos se dispõem a ficar sentado naqueles banquinhos jogando conversa fora; assim, a profissão só perdura graças aos clientes antigos, como o trabalhador rural, Paulo Aquino, que reside no Itapororó, cerca de 70 Km da cidade. Ele disse que toda vez que vem no Município, aproveita para dar um trato nas botas. Cliente há anos.

Já o segundo, Paulo Mitidieri, citou que a simpatia e o trabalho impecável do engraxate o fizeram fiel e sempre que passa por ali, nem que seja para dar um trato no “bico” que fica branco, ele da aquela paradinha.

Rubnei lembrou de uma senhora, que certa vez, estava por ali e ele se ofereceu para lustrar a bota, o bico estava branco e isso é muito feio, destacou. Sem dinheiro a senhora relutou, mas ele disse que seria cortesia e desde então, ganhou uma cliente.

A profissão

“Engraxate é responsável pelo polimento e limpeza de sapatos. A profissão teve início no ano de 1806, quando um operário poliu em sinal de respeito as botas de um general francês e foi recompensado com uma moeda de ouro por isto. Durante a Segunda Guerra Mundial apareceram os “sciusciàs”, garotos que, para ganhar qualquer coisa, lustravam as botas dos militares, além de terem cópias de jornais, goma de mascar e doces à disposição desta clientela.

Ao término da guerra desapareceram o sciusciàs e também os engraxates de Nápoles. No início dos anos 50, eles eram apenas mil. Após a imigração italiana aparecem, por volta de 1877, na cidade de São Paulo, os primeiros engraxates. No início eram poucos, de 10 a 14 anos, todos italianos e percorriam as ruas, das 6 horas da manhã até a noite, com uma pequena caixa de madeira com suas latas, escovas e outros objetos. As cadeiras de engraxate foram inventadas por Morris N. Kohn em 1890.

Flaviane Antolini Favero