Biblioteca Pública Mário Quintana se reinventa na pandemia

Enraizada no coração do Centro Cultural de Alegrete, a Biblioteca Pública Mário Quintana abriga um acervo de quase 30 mil volumes, predominantemente de literatura, com maior parte de literatura norte-americana e brasileira, além de biografias. É lá que é possível testemunhar um acervo especial de história do Rio Grande do Sul e literatura gaúcha.

O acervo está acessível com audiobook e alguns livros em braille, serviço que começou em 2019. A Biblioteca pública oferece serviços com empréstimo domiciliar de livros (cadastro gratuito), Wifi na biblioteca, renovação via telefone e um amplo local para estudo.

 

A bibliotecária, Aliriane Ferreira Almeida, coordena as atividades e conta que a disponibilização de internet não é das melhores, mesmo assim foi uma vitória interna disponibilizar wifi na biblioteca. “Foi graças à disponibilidade de um zelador muito prestativo que nos ajudou, pois até 2019 não tínhamos”, revela a profissional.

No entanto, a biblioteca possui computadores muito antigos que não dão conta da modernidade que uma biblioteca do século XXI precisa ter. “Temos um computador para a biblioteca adulta e dois computadores defasados para tarefas administrativas.  Não temos o catálogo da biblioteca informatizado, tampouco o empréstimo de livros”, admite Aliriane.

Mas com empenho junto à equipe, ela iniciou um processo há cerca de 2 anos, de inserir os novos livros em software específico de bibliotecas. Sem funcionários para fazer a digitação de dados dos 30 mil livros,o processo se torna muito lento, sendo que até agora não foi resolvido o problema da internet, nem os equipamentos defasados. “Insistentemente essa pauta é levada para os gestores, espero que em breve isso possa ser solucionado”, resigna-se.

Durante a pandemia, a biblioteca recebeu 6 estagiarias que proporcionaram um avanço no processo em 50%, pois digitaram uma quantidade enorme de fichas antigas. O processo é manual mesmo: primeiro é necessário fazer o inventário do acervo , como um controle de estoque e conferir cada fichinha batida em maquina de escrever com os livros na estante, para não perder tempo digitando informação de livros que nem existem mais.
“As pessoas acham que é só passar o código de barra do livro numa máquina e sai tudo prontinho. Não. Informatizar uma biblioteca dentro dos padrões de uma biblioteca profissional não é algo fácil. Depois que tudo está pronto, aí sim, podemos usar leitoras de código de barras para fazer os empréstimos, por exemplo, mas isso é um outro patamar de modernização”, explica.

A biblioteca Mário Quintana está fechada desde o início da pandemia, não está realizando empréstimos, apenas aceitando devolução de livros e doações no turno da manhã.

Expediente interno com escalas para manutenção da limpeza, baixas de livros, seleção e organização das doações recebidas, registros de livros e serviços administrativos do Centro Cultural.

Durante a pandemia está sendo feito a limpeza de todo o acervo, pintura de todas as estantes(mais de 90 módulos de estantes de aço). A própria bibliotecária realizou a pintura, com auxílio da funcionária Elizane Goulart.

As funcionárias existentes hoje, incluindo 1 zeladora, 2 serventes e 2 professoras dão suporte em todas as atividades de rotina como registro e baixa de livros. As serventes dividem suas tarefas de limpeza do prédio todo do Centro Cultural, também com as tarefas da biblioteca, pois não há o cargo de auxiliar de biblioteca.

Durante a pandemia foi recebido mais de 3 mil livros que foram revisados um por um, pela bibliotecária que faz a triagem do material.

Os materiais que não vão para o acervo da biblioteca são mantidos na sede do Centro Cultural para ser encaminhado para projetos de democratização do acesso ao livro, como bookcrossing, bibliotecas livres, pegue e leve e doações, como por exemplo, o envio de livros nas cestas básicas durante a pandemia.

A biblioteca está recebendo a primeira estagiaria curricular de biblioteconomia. Tereza Carneiro que está cursando Biblioteconomia EAD na Universidade de Caxias do Sul está sendo supervisionada em seu estagio curricular para se formar bacharel em biblioteconomia.

Projetos e ações:

O fortalecimento de redes locais institucionais para fortalecer a biblioteca enquanto instituição cultural do município que precisa ser valorizada e estar presente dentro da comunidade e em democratizar o acesso ao livro, muito embora este seja apenas um dos aspectos de projetos de incentivo à leitura, visto que apenas dar o acesso não é o suficiente , mas é um ponto muito importante. A mediação da leitura é indispensável quando falamos em incentivo à leitura e literatura, garante Aliriane.

Entre os projetos destaca-se o Pegue e leve de livros. Há 4 anos ativo à frente do Centro Cultural diariamente, já foram disponibilizados mais de 3 mil livros, todos sendo livros que saíram do acervo (dado baixa) ou oriundo de doações e não foram incorporados ao acervo. “Nossa caixinha vai para Feiras de Troca, Brick da Praça, Acisos nos bairros”, frisa.

Também existe a Biblioteca Livre na Rodoviária, em parceria com Bookcrossing e Coletivo Multicultural, as Casinhas Literárias, em parceria com o Coletivo Multicultural, que será lançado ainda este ano, ficou em suspenso em 2020, mas agora vai às ruas.

“O diferencial das casinhas é o formato e as artes elaboradoras pelo artista Leonardo Amadeo, que transformou as casinhas em obras de arte que serão colocadas com livros pela cidade”, explica.

A biblioteca também enviou livros em cestas básicas durante a pandemia. Foram mais de 100 livros com grupos que se organizaram para enviar cestas básicas para famílias em situação de vulnerabilidade durante a pandemia.
O trabalho teve inclusão da Secretaria de Assistência Social e Grupo Corona do Bem. Foi entregue cestas de natal enviadas pela ONG Amoras para algumas mulheres que receberam acolhida em 2020.
“Agora estamos juntos enviando livros com a iniciativa do Coletivo Multicultural, RP – Resistência Popular, UC – Unidade Classista, Projeto Leia Mulheres e Espaço Iraímas”, conta.
Outro projeto interessante é o LeituraMg, ler é o melhor remédio: bibliotecas livres na Santa Casa de Alegrete foi um marco da Mário Quintana. Atualmente a situação do projeto está complicada em razão da pandemia, e a atividade será reavaliada para ver como fica diante do quadro. O projeto conta com 4 pontos de livros dentro da Santa Casa e um na UPA e existe desde 2017.
Outra inovação é o Podcast Ouvindo Literatura, trechos de livros fazendo diálogo com músicas, trabalhando a acessibilidade em áudio e explorando outras plataformas, disponível no Spotify e SoundCloud, também enviado por whatts em grupos.
“Já tivemos leitura feita por alguns alegretenses e estamos ainda em suspenso com uma homenagem ao poeta João da Cunha Vargas, foi interrompida devido a pandemia”, confira um dos áudios editado pela bibliotecária Aliriane:
O Ararenguá é um projeto que surgiu a partir da participação de Aliriane no curso de Aprendizagens Interculturais na Educação, da Unipampa. “O foco é colocar a biblioteca pública, sendo um espaço educativo fora da escola, também como espaço protagonista para a prática da Lei 11645/2008, que trata da cultura afro e indígena na educação. O objetivo é desenvolver no espaço da biblioteca ações que envolvam a cultura indígena, principalmente por meio da  literatura indígena”, explica a profissional.
Além da parceria com Biblioteca da Unipampa, o Leia Mulheres se consolida COM um projeto parceiro, sendo uma iniciativa independente que acontece na biblioteca pública quando presencial, é um Clube de Leitura mediado pela bibliotecária e pela professora Ana Lúcia Vargas. Há 4 anos em Alegrete, o projeto tem como objetivo, fomentar a leitura de livros escritos por mulheres.
A maioria dos livros recebidos de doações e que ainda compõem uma parcela significativa do acervo são livros doados pelo escritor Sérgio Faraco, Dr. Cyro Leães e do ex-prefeito José Rubens Pillar. No acervo existem livros completando 100 anos, do início do século XX.
Atualmente a biblioteca possui em torno de 400 leitores, e uma média de empréstimos perto de 3 mil livros emprestados.
A biblioteca pode ser acessado pelos seguintes endereços:
Júlio Cesar Santos  Fonte e Fotos (tiradas antes da pandemia): Aliriane Almeida e Eduardo Silveira