Colunistas opinam: é hora de trocar o treinador do Inter?

Comentaristas discutem a permanência de Abel Braga no comando técnico do Colorado

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Após vencer cinco partidas seguidas, Abel Braga agora amarga quatro derrotas em cinco jogos pelo Brasileirão. Na tarde de quinta-feira, no desembarque do Inter em Porto Alegre depois de perder para o Vitória, em Salvador, torcedores protestaram contra o elenco e a direção.A alegação é de que alguns jogadores estariam atuando sem vontade. Em meio a tudo isso, está o técnico. Os colunistas de Zero Hora opinam se é ou não o momento de Abel deixar o clube. Confira:
Wianey Carlet
Não
Abel Braga treinou o Inter, pela primeira vez, em 1988. Passados 26 anos, o treinador foi buscado pelo clube pela sexta vez. Neste pedaço de vida, é impossível que o Inter não tenha conhecido quem é Abel Braga, treinador. E se conheciam, deveriam saber que Abel só ouve a própria voz.
Abel já perdeu um Gauchão por não considerar a opinião de Fernando Carvalho (perguntem para ele), que não queria ter o time colorado tão aberto quanto desejava Abel nos Gre-Nais decisivos pelo Gauchão. Resultado: o Inter perdeu um campeonato que estava quase ganho.
Foi para a história, também, o episódio acontecido em um jogo pela Libertadores da América quando Abel escalou Michel e deixou na reserva Alexandre Pato, quando o atacante já brilhava como craque. Precisaria três vezes este espaço para lembrar equívocos e decisões discutíveis do treinador colorado.
Na véspera do jogo contra o Barcelona, decisão do Mundial de Clubes de 2006, os repórteres José Alberto Andrade e Sílvio Benfica, hospedados no mesmo hotel do Inter, flagraram uma conversa entre Fernandão, Iarley e outros jogadores sobre as estratégias que o time deveria adotar, quem marcaria quem e outras providências. Este fato foi divulgado pelos profissionais. É possível que desta conversa envolvendo apenas os jogadores tenha começado a se materializar o título conquistado pelo Inter.
O tempo passou, e o Inter encara o ano de 2014 tendo Abel Braga, velho conhecido do clube, no comando. Se Giovanni Luigi e Marcelo Medeiros querem que Abel continue até dezembro, só pode ser porque estão satisfeitos com o trabalho do treinador, entendendo que o time está precarizado em várias posições por omissão ou equívoco nas contratações por eles feitas. E se Abel não é culpado, não existe motivos para substituí-lo. Abel, portanto, deve ficar.
Luiz Zini Pires
Sim
Jogando bem ou mal, treinado melhor ou pior, o técnico de futebol é o que os seus números exprimem. Se somados os últimos 30 dias, os de Abel Braga estão pela hora da morte. O seu frágil Inter de final de inverno disputou 10 partidas em quatro semanas. Desfilou em três competições, foi eliminado de duas Copas, perdeu seis jogos, venceu três, empatou um. Aos poucos, desbota no G-4 do Brasileirão.
O saldo é vergonhoso para um grande clube que investe quase R$ 10 milhões no futebol a cada mês. O resultado é donoso para um dos três treinadores mais bem pagos do Brasil. A zanga é tamanha que até o ranger do Portão 8 de tantos fantasmas voltou ao Beira-Rio.
Queira ou não, o carioca Abel, 62 anos de idade, 14 temporadas como jogador, outras 28 como técnico, é o alvo. O treinador sempre é o centro dos mísseis teleguiados da torcida. Fica mais fácil achar um culpado só, despejar toda a fúria num mesmo centro. É da cultura do futebol.
No Inter, a crise não se encerra em Abel. É preciso olhar o entorno. Chamar a direção ao vestiário, convocar os jogadores, pedir mais ação, suor, aplicação. Não se observa atletas mobilizados em campo como o fã gosta e aplaude. Nota-se o treinador falando como dirigente que não explica nada, se observa os diretores constrangidos.
Abel tinha a confiança do mundo no Inter. Dez meses depois, não tem mais a solidariedade do time. No fundo, ele não tem mais os notáveis parceiros de 2006. Perdeu as referências. Precisa sair. É impossível mudar quase um time inteiro, trocar toda uma direção. Sofre o técnico.
Diogo Olivier
Não
O futebol é um tanto previsível, inclusive por parte da mídia. A pergunta, na hora da crise, é sempre a mesma: hora de demitir o técnico? Não se discute se é hora de o goleiro ir para a reserva, do dirigente abandonar o barco, se apostar na base seria uma saída ou quanto mais de velocidade um time precisa para sobreviver no futebol que se joga hoje. O alvo é sempre o técnico. O nome. É preciso achar um culpado.
Nem sempre o assunto está em pauta de fato naquele momento no clube, mas logo na primeira entrevista surgem as indagações. E, o que é pior, não raro a fonte são as redes sociais, onde há todo tipo de lixo intelectual e informação inventada. Os dirigentes, então, pensam: entregue uma cabeça cortada aos abutres e eles nos deixarão em paz.
A rigor, é um pouco isso. O Inter teve bons técnicos recentemente. Todos caíram na mesma vala. Ganham Gauchão. Ganham Gre-Nal. Dali a pouco o time fica apático, os erros se sucedem, a confiança se abala e as desculpas vão mudando conforme o barco afunda no Brasileirão. Enquanto o fôlego de um grupo com muitos acima dos 30 anos é suficiente, o time acumula pontos. Depois, perde força.
Por isso, apesar das derrotas para ameaçados de rebaixamento, das eliminações, das atuações ruins inclusive quando vencia, de chegar setembro desentrosado após duas pré-temporadas, de não dar espaço para os mais jovens, apesar de tudo isso, sou a favor da permanência de Abel.
A esta altura, sem tempo para trabalhar, de que adiantaria mudar? O seu substituto seria muito diferente? Ou não passaria de mais do mesmo, aquelas figuras carimbadas de sempre?
Tirando Tite, que pensa em projeto fora do país, os bons estão empregados. O Inter lutou para trazer Abel de volta. Já que o risco de cair é quase nenhum, que termine o seu projeto de 2014 com ele, confiando na capacidade de reação de um profissional com trajetória no clube.
David Coimbra
Não
O Inter está no G-4, tem 34 pontos. Quer dizer: está entre os melhores do Brasileirão. Se demitir seu técnico, estando nessas condições, outros 16 técnicos têm de perder seus empregos. É claro que o Inter caiu de rendimento. O time emendou cinco vitórias, uma na outra. Como não cairia?
Altos e baixos são normais, num campeonato como esse, um campeonato de iguais. O Inter não é pior do que os grandes times do Brasil. Nem pior. Seu time é mais ou menos do nível de todo os outros. Ou, pelo menos, do nível dos 10 maiores.
É verdade que um técnico faz diferença, vide Felipão no Grêmio. Mas, por melhor que seja o técnico, o time não conseguirá manter-se sempre no mesmo nível, porque, em algum momento neste longo campeonato, perderá jogadores importantes.
O Inter perdeu seu melhor jogador, Aránguiz. Tendo perdido Aránguiz, tornou-se um time “mais comum” ainda. Abel terá de solucionar o problema da falta de Aránguiz, ou de seu decréscimo de rendimento. Resolvendo-o, o Inter voltará a vencer e ganhará confiança. Por certo tempo. Logo depois, o Inter perderá de novo, devido a alguma contingência do campeonato.
O futebol brasileiro está nivelado por baixo, está numa safra ruim. Os supertimes acabaram. Mais do que nunca, é preciso paciência.
Fonte: Diário Gaúcho