Desde meados de fevereiro de 2002, faça chuva faça sol, uma turma de quatro amigos têm por hábito marcar encontros aos sábados pela manhã na Praça Nova. Eles elegeram o Bar do Chope Escarrone para fazer um local alternativo de encontros para conversar e debater todos os temas do cotidiano, como, cultura, esporte, política, é o escape de uma semana trabalhosa e quase sem tempo de cultivarem o elo de amizade.
Os encontros eram tão prazerosos que no final do ano de 2002, o grupo aumentou o número de amigos e foi preciso criar uma confraria e nomear organizadores das festas, assadores e até normas para os confrades.
A confraria foi criada por uma iniciativa do professor José Grisa e de seu amigo Zefa, durante uma visita num sábado, acompanhados do Manoel. Daí em diante estava consolidada a Confraria da Praça Nova. Apareceram Grillo, Runildo, Ascânio, Fernando, Caco Perfeito, Heitor, Pastel, e assim outros foram se somando ao grupo, entre eles, Valter, Rui Biibi, Zé do Cinema.
Nesse tempo, o grupo de amigos tiveram três perdas. O Moacir do Quiosque, o Sabiá, único apaixonado torcedor colorado, e recentemente o fotógrafo Valdir, que era responsável por registrar toda a trajetória.
As fotos se encontram no Bar do Chopp Scarrone , que é o anfitrião do grupo, e é lá que a turma se reúne. Um banner comemorativo aos 10 anos, marca uma década da amizade inabalável de confiança, proteção e fidelidade entre eles.
O ritual inicia por voltas das 11 horas da manhã. Um fica responsável pela compra da carne para o churrasco, enquanto outro já improvisa a churrasqueira na calçada. Perto do meio dia, o grupo já está quase completo. Não existem pautas pré-determinadas, nem restrição de qualquer tipo de tese.
Mas, o assunto não é só futebol. A política faz parte da roda, que a essas alturas, fica espalhada em conversas simultâneas. Alguns tomam água, outros preferem a sagrada cerveja, e alguns apenas curtem o momento mágico de estar cercado por amigos leais e camaradas.
Por ser um local público, os encontros são em meio a calçada e a uma parada de ônibus. Mas ali ninguém se incomoda ou é incomodado. Eles tem até uma política de convivência para quando as visitas não estão de acordo com os “ideais dos encontros”. Devido a quase totalidade dos integrantes, coincidentemente serem alegretenses de nascimento e terem afinidades desde a infância ou início da adolescência, a questão “Tolerância” é o ponto forte que em 12 anos nunca houve qualquer tipo de desavenças ou brigas, todos os desencontros se dão de forma racional e pacifica, mesmo havendo a ingestão de bebidas alcoólicas.
No início cada um levava uma peça de carne e os eventos eram quinzenais, não haviam rateios, ainda no primeiro ano já começaram a ser semanais e a forma de organização mudou, foi de maneira diferente, mesmo porque a turma estava maior.
A rotina é mudada quando tem um confrade de aniversário, será sua responsabilidade a organização do evento.
Esta semana a Confraria perdeu um dos fundadores e idealizadores dos encontros, o fotógrafo Valdir Machado, 74 anos partiu sem a concessão dos amigos, era pessoa de um conhecimento e repertório grandíssimo da cultura popular alegretense, um desfalque que abalará o churrasco de sábado véspera das eleições. “grande falta, mas é a vida” explica um dos confrades
Última foto registrada pelo fotógrafo Valdir.
Atualmente a turma é de aproximadamente 20 amigos, mais os rotineiros frequentadores do local, recebem as visitas todas semanas de pessoas que estão fora da cidade e tem conhecimento, pelas redes sociais e por outros meios desta referência que a Praça Nova ofertou aos amigos.
Existem várias normas de convivência feita pelos costumes da turma. Ali não existe chefe, mas tem o patrono que é o Zefa, o mais ancião da turma. Todos que chegarem com o espírito de camaradagem e democracia são bem vindos, o aniversariante da semana é quem paga a festa no sábado, alguns dão bolo, mas na maioria das vezes a fumaça é garantida.
A Confraria Praça Nova realiza duas festas anuais realizadas na sede campestre localizada na Fazenda do confrade Rui Bibi, neste sábado será especial novamente o encontro, a expectativa de todos é debater os problemas da cidade, Estado, País e Mundo serão ali debatidos, junto com o futebol item obrigatório, o que chama atenção que só tem uma bandeira do Inter durante todo este tempo, o grupo não esquece a flauta “eles são frutas e todos são bem vindo”, a amizade ultrapassa a rivalidade e ali gremistas e colorados desfrutam da amizade e o futebol é só um tema a ser lembrado sem muita importância.
Cada um paga sua bebida é o churras é rateado, depois de apresentado a conta das compras, geralmente feitas pelo Grillo e o cobrador oficial que é o patrão Zefa. O detalhe é que as visitas não pagam só se quiserem colaborar informa o patrono. Geralmente aparecem alegretenses que estão fora, contemporâneos de adolescência. Amigos como o Toninho Becon, zagueiro da Associação Alegrete, Charuto hoje sargento que mora no RJ, Paulo Renato Rodrigues, o multi campeão Cleber Xavier, Tiajuna e outros tantos.
Neste sábado o encontro já tem dono, o aniversariante Ascânio Vilaverde Moura, vai pagar a festa, segundo as normas da casa. Um sábado diferente vai faltar o maior contador de histórias do grupo, mas a expectativa da Confraria é a superação, a alegria e o bom papo não pode faltar pois era assim que o memorável fotógrafo do grupo era visto por todos. Uma coisa é certa a Confraria da Praça Nova escreverá na história mais um sábado bem vivido entre os amigos, mesmo que seja um encontro alegre triste pela recente perda de um integrante.
Fotos: arquivos da Confraria
Por: Júlio Cesar da Luz