
Um dos jornalistas mais celebrados no Rio Grande do Sul, David Coimbra era conhecido por suas crônicas e colunas com bom-humor, sensibilidade e muitas polêmicas. Na última década, entretanto, se tornou um exemplo na luta contra o câncer, doença que enfrentava desde 2013 e que causou sua morte, nesta sexta-feira (27), em Porto Alegre.
Aos 60 anos, ele estava internado desde domingo (22) no Hospital Moinhos de Vento para tratamento. David deixa a esposa, Márcia, e o filho, Bernardo, de 13 anos.
“Um grande colega, um profissional único. Vai deixar uma lacuna muito grande. Insubstituível”, resume o CEO do Grupo RBS, Cláudio Toigo.
Referência no jornalismo
Nascido na Capital, em 1962, David costumava reviver a infância no bairro operário do IAPI em suas colunas no jornal Zero Hora. Além de colunista, foi repórter, editor, escritor e radialista. Nos últimos anos, apresentava o programa Timeline e integrava a equipe do Sala de Redação, na Rádio Gaúcha.
Ele se formou pela PUC-RS, nos anos 1980, e foi assessor e editor da Editora Sulina, em Porto Alegre. Passou pelas redações dos jornais Diário Catarinense e Correio do Povo, entre outros. Na RBS TV, foi integrante do extinto programa Café TV COM, com Tânia Carvalho, José Antônio Pinheiro Machado e Tatata Pimentel.
Escreveu livros como “Canibais – Paixão e morte na Rua do Arvoredo” (2004) e “Jô na estrada” (2010), além dos ensaios históricos “Jogo de damas” (2007) e “Uma história do mundo” (2012), a “História dos Grenais”, e as coletâneas de crônicas “Mulheres!” (2005) e “Um trem para a Suíça” (2011), entre outros.
“A história é tua enquanto tu estás escrevendo. Depois que tu escreve, ela saiu de ti. Ela é do leitor, do telespectador, do roteirista, do ator. Ela não é mais tua”, escreveu.
A leveza e o bom-humor eram traços inconfundíveis em sua prosa. O texto era direto, e com críticas que se tornavam alvo de polêmicas algumas vezes, especialmente no futebol.
Foi neste campo que ele ficou mais conhecido. Nos anos 1990, assumiu a editoria de Esportes e liderou uma mudança de forma e conteúdo. Ele acreditava que, tão relevante como o resultado eram as histórias que o futebol proporcionava.
Luta contra a doença
Desde 2013, porém, o jornalista transitava entre Boston, nos Estados Unidos, e o Brasil, para realizar tratamento experimental contra a doença. O câncer renal foi tema do último livro de David Coimbra, “Hoje eu venci o câncer”, lançado em 2018, no qual o jornalista relata como descobriu e quais métodos o ajudaram no tratamento. No ano seguinte, foi agraciado com o Prêmio Açorianos.
“Estou gostando de escrever daqui, de falar para a Rádio Gaúcha. Tá tudo certo, estou bem”, comentou, ao retomar o posto à frente dos microfones.
Após o retorno da doença, David escreveu uma coluna para Zero Hora, intitulada “Quando quis morrer”, na qual comentava o medo do câncer, as dores e a gratidão pelos que o acompanhavam.
“Vamos em frente de cabeça erguida. Com um leve tremor ao pensar no futuro. Mas o futuro não é coisa para se pensar. O que existe é o presente e, se o presente pode ser sorvido integralmente, a vida passa a ser boa. E ela é. A vida é boa”, escreveu.
Fonte: G1