Curado do coronavírus, diretor de hospital de Caxias do Sul retoma o trabalho: ‘doença traiçoeira’

Vinicius Lain não chegou a ficar internado, mas teve sintomas fortes do coronavírus. Médico conta que ter passado pela doença o ajuda a tomar melhores decisões no hospital.

Após cumprir 14 dias de quarentena, o médico e diretor técnico do Hospital da Unimed de Caxias do Sul, Vinicius Lain, de 40 anos, é considerado curado do novo coronavírus. Desde a última segunda-feira (6), ele está de volta à rotina do hospital, usando máscaras e redobrando os cuidados com a higiene.

“Não tinha nada para fazer. É uma doença muito traiçoeira, tu não sabe pra onde ela vai levar “, disse.

“Eu estou mais corajoso do que antes, até porque eu estou vendo que muitos pacientes estão precisando [de atendimento]”, disse, em entrevista ao G1 nesta quarta-feira (8).

Vinicius manifestou os primeiros sintomas em 23 de março, fez o exame e iniciou o isolamento. Não chegou a ficar internado, mas a evolução dos sinais da doença o deixaram preocupado.

O médico teve dores no corpo, perda de paladar e olfato e sensação de queimação no nariz. Vinicius não chegou a sentir falta de ar nem teve febre alta, mas ficou apreensivo mesmo assim. “Depois do que passei, tive muito medo. Foram três dias que foram só piorando. Não sabia se eu ia pra ventilação”, relatou.

Após esse período inicial, a saúde do médico melhorou. “Não usei cloroquina. Com dipirona, melhorava a dor no corpo”, descreve Vinícius.

Importância de um segundo exame

Por não ter apresentado mais sintomas ao fim dos 14 dias de quarentena, o médico teve alta clínica.

Mas ele observa que uma verificação de anticorpos, para atestar se há imunização, ou um segundo exame de coronavírus seriam importantes para a comprovação da cura da doença. Essas práticas não fazem parte do protocolo do Ministério da Saúde.

Como diretor técnico do hospital, Vinicius não tem contato direto com pacientes infectados, mas sim com as equipes. “A gente cortou quase todas as reuniões presenciais, circulamos em um ambiente que não é bom pra estar nesse momento”, afirma.

O hospital tem tentado separar o máximo possível os pacientes que têm sintomas respiratório e dos que não têm, e reservado aparelhos exclusivos para o atendimento ao coronavírus. A compra de equipamentos de proteção individual para as equipes é diária, relata o médico.

“Da mesma maneira que eu me contaminei no hospital, a gente tem muito medo de contaminar os colegas”, diz Vinicius. Além dele, uma administradora e outra médica da equipe testaram positivo para a doença.

Experiência do isolamento

Vinicius permaneceu isolado por 14 dias sem sair de casa, junto com sua mulher, que é intensivista de UTI e também apresentou sintomas. O exame dela, no entanto foi negativo.

O casal tem um filho, de 4 anos, que está temporariamente com os avós, até que seja seguro retornar. “A gente não tem como trabalhar e cuidar dele”, relata.

O desafio de administrar o hospital em um momento crítico se impõe, como comenta Vinicius. “Nessa hora o mais importante é estar no front. Eu na direção, ela na UTI”.

A maior dificuldade na administração da crise é a obtenção dos testes rápidos, para fazer a triagem inicial. Desde o início do ano, com as primeiras notícias de infecção chegando no país, o hospital passou a comprar respiradores e capacitar as equipes. “É uma doença que a gente não sabia tratar”.

Com 32 casos confirmados até a tarde desta quarta-feira (8), Caxias do Sul é a segunda cidade com mais infectados pelo coronavírus, atrás apenas de Porto Alegre. O Hospital da Unimed tem quatro pacientes na UTI e seis nos leitos comuns com a doença ou a suspeita ainda não confirmada. Três deles estão em ventilação.

O médico acredita que ter enfrentado a doença vai ajudá-lo a fazer as melhores decisões para o atendimento dos pacientes.

“Todo médico que fica doente tem uma percepção diferente. A gente experimenta sensações que só o paciente sente”, relata.

“Ter passado por isso me deixou mais forte como ser humano e como médico. Como gestor, eu vou botar todo o meu esforço para salvar o paciente. A gente não vai economizar recurso nenhum porque senti na pele”, conclui.

Coronavírus: infográfico mostra principais sintomas da doença — Foto: Foto: Infografia/G1

Coronavírus: infográfico mostra principais sintomas da doença — Foto: Foto: Infografia/G1

Fonte: G1