Estudante do Curso Técnico em Comércio da Escola Estadual Dr. Lauro Dornelles está alertando para um suposto “sucateamento” na maior escola da zona leste, que fica em frente à universidade federal.
Segundo o aluno Felipe, não há prestação de contas no educandário. Afirma que, dia desses, questionou uma funcionária a respeito da escassez da merenda e que lhe foi dito que os recursos giram em torno dos 3 mil reais mensais, e que isso seria insuficiente para atender os 3 turnos. “Já teve vezes em que nos foi oferecido chá com bolachinha. Tem gente que não toma café da tarde nem janta, pois sai direto do trabalho para a escola. Sinceramente, queria ver se a Secretaria de Educação realmente só manda 3 mil para uma escola deste tamanho. Mas ninguém mostra os valores creditados à escola. E ficam furiosos quando alguém pergunta”. Ele acrescenta que, ontem, 26 de novembro, fizeram uma espécie de mural, em uma das paredes da escola, em local sujeito à chuva, com notas amontoadas e xerocadas em baixa da qualidade, como se quisessem dificultar o entendimento. “E só puseram isso agora, depois da gente questionar. Nunca tínhamos visto qualquer tipo de prestação de contas. E, quando informam, fazem isso de uma forma que só eles entendem. Isso não adianta”, analisa o jovem.
Além disso, os questionamentos feitos pelo estudante ainda dizem respeito aos computadores do laboratório de informática. “Muitos deles apresentam defeito e estão geralmente sem acesso à internet, o que nos dificulta na realização de trabalho nas próprias disciplinas que envolvem recursos de mídia eletrônica. É um contrassenso”, comenta o aluno, que lembra o fato da escola não ter Wi-fi, diferentemente do que acontece em outras escolas estaduais, como o Colégio Emílio Zuñeda, onde o sinal é constante e aberto a todos. “Tentamos fazer uma vaquinha para consertar os computadores. Mas a direção da escola nos barrou, dizendo que não poderíamos fazer isso, pois os computadores são do estado.”
Acrescentam também que têm um colega portador de necessidades especiais, e que o mesmo não consegue acessar as salas da direção e coordenação da escola pela inexistência de uma rampa. “Quando precisa ir ao local, ele nos chama para levantarmos ele”, conta. “Acessamos o Portal do FNDE: em novembro de 2013, foi depositada quantia para Acessibilidade, na quantia de R$ 15.000,00 na conta do Banco do Brasil, mantida pelo CPM do educandário, rubricado pelo Programa Dinheiro Direto na Escola. “Com esses valores, não puderam fazer as rampas? E as que fizeram, estão refazendo, pois eram íngremes demais”, revela, lamentado a situação.
Segundo ele, a frente da escola, em dias chuvosos, se transforma num lamaçal terrível, em que os carros passam a jogam água nos alunos. Há alguns meses foi posta terra no local, ação esta que piorou a situação, pois tudo virou barro. “E quando seca, vira uma buraqueira só, nem parece a frente de um colégio. Dá até vergonha”, relata.
Outro fator digno de questionamento, conforme relatos do estudante, é a criação de uma pista de atletismo nos fundos da escola, que pode ser vista ao lado da AABB, através da avenida Ibicuí. A referida pista foi elaborada com recursos do Ministério do Esporte, por meio do programa Atleta na Escola. O valor foi depositado diretamente na conta do CPM da Escola, que não faz qualquer divulgação pública de quanto foi recebido e de quanto foi gasto para a criação da pista, que jamais foi usada O local está tomada pelo pasto, inclusive com local contendo acúmulo de lixo. “Que pai gostaria de ver seu filho correndo ali? Que atleta será formado ali?”, indaga. Tal obra, segundo ele, refere-se à verba federal, depositada no BB ainda em 2013, em julho, para atender o Atleta na Escola, também via CPM. Apontam ainda para a periculosidade de uma das folhas da cobertura da quadra, que, em dias de ventania, ameaça se soltar, podendo até mesmo atingir algum aluno que esteja participando de alguma aula de educação física. “Imagino que as escolas devam oferecer segurança a seus alunos, que, no colégio, estão sob sua responsabilidade”, atesta.
Ele informa que a gota d’água se deu há alguns dias, quando os alunos do Curso Técnico fizeram a limpeza de uma sala de festas existente na escola. A intenção deles era realizar, nesse anexo, a comemoração de final de ano letivo da turma. “Fui surpreendido, dias depois da limpeza, pois todo lixo tinha sido colocado de volta no local, como se estivessem fazendo de propósito.”
Felipe, junto de outros colegas, temem estar sendo perseguidos na escola, por apontarem as falhas administrativas existentes no educandário e por não concordarem, publicamente, com a postura de gestores. “Temos fotos para não dizerem que é mentira nossa, e, pelo que sei, a escola deve nos ensinar a pensar, a questionar, a debater. E é isso que estamos fazendo: exercendo nossa cidadania”, analisa Felipe.
Os estudantes estão criando uma página em uma rede social para registrar o cotidiano na escola, com fotos e textos que elaboram. A vice-direção do noturno, por meio do professor Assis Magalhães, disse entender como justas – e, inclusive, necessárias – as reivindicações do alunado, que estão exercendo forte criticidade no contexto escolar. “Lamentamos, todavia, que as decisões sejam tomadas unilateralmente, sobretudo no turno da manhã. Não somos convidados a participar do plano de investimento, principalmente das verbas advindas do Governo Federal, que são bastante volumosas”, diz.
Fotos: alunos do Curso Técnico da Esc. Dr. Lauro Dornelles