
“O cair é do homem, mas o levantar é de Deus”, foi com essa frase que Igor José de Melo Velleda sintetizou o momento que está vivendo. Ex- depende químico, alcoólatra e presidiário, hoje ele se diz um novo homem, depois de 9 meses numa clínica de reabilitação em Florianópolis.
O alegretense aceitou falar com a reportagem e descreveu como foi o período em que estava no mundo obscuro das drogas, a perda dos pais, as dificuldades emocionais e o recomeço. A entrevista foi por telefone.


Aos 39 anos, Igor está numa Base Missionária e já tem a liberdade de sair para rua e realizar venda dos kits(limpeza), que auxiliam nos custos da clínica. Ele disse que ainda não pensa em retornar para Alegrete e vive uma nova fase.
O começo
O alegretense filho adotivo, disse que perdeu o pai aos 9 anos, devido ao um câncer na garganta. Desde então, apesar de todo amparo da mãe, e não faltar absolutamente nada, não passava por dificuldades, começou a consumir bebida alcoólica aos 12 anos. O pai era tenente do Exército e deixou uma pensão considerável. Mas a ausência da figura paterna foi um grande problema, relatou.

Aos 19 anos, a mãe teve um infarto fulminante e Igor ficou órfão de pai e mãe. Porém, com duas casas de herança, em uma foi morar com o avô e a outra um tio reside. Neste período, ele que já estava viciado no álcool e tinha experimentado maconha e cocaína, passou a usar crack. “Quando perdi minha mãe tive uma grande tristeza por me sentir sozinho, foi minha queda total. Além do consumo diário de cachaça, passei a usar o crack e cheguei ao fundo do poço.”- declarou.

As prisões
Com o vício descontrolado, o dinheiro já não era suficiente e Igor passou a furtar para sustentar a dependência. Com isso, foi preso algumas vezes. “A droga que eu comprava tinha um custo: vender alguma coisa para tentar tirar um lucro e ter condições de comprar mais, mas consumia muito mais do que o lucro. Não recordo, mas foram muitas prisões, pois ficava cego e precisava ter a droga” – lembrou.

As internações
Igor recorda que por diversas vezes tentou recomeçar aqui. Ele se internou na Santa Casa de Alegrete por mais de 10 vezes e ficava em torno dos 21 dias para desintoxicação, mas tão logo saia, a solidão o fazia retornar para o vício. “Em Alegrete, o tratamento é a base de medicação, o grande prolema é que quando termina, o corpo começa a pedir a droga e sozinho é muito difícil não ter recaída. O dependente, além do medicamento, precisa de amparo, orientação e Deus” – comentou.

A reviravolta
Em julho de 2018, ao sair de casa, Igor se deparou com um amigo de infância, uma pessoa muito querida por ele que há sete anos não encontrava. Ele conta que em outros períodos que o pastor Pablo Ortiz vinha a Alegrete, ele estava preso ou no submundo da droga e do álcool e não tinha horário pra nada. Dormia em horários errados e quase não fazia as refeições.
“No momento em que o encontrei, o pastor perguntou como eu estava. Lembro que recebi um abraço, não estava nada bem naquele dia. seria mais um como todos os demais, álcool e drogas. Foi então que conversamos e ele me falou da Base Missionária. Surgiu o convite para o recomeço e aceitei. À época, meu tio ajudou com dinheiro para passagem, assim como amigos.”- falou.
Igor reconhece que o inicio não foi fácil. Por muitas vezes teve que ser mais forte que a abstinência, passou por uma provação muito grande. O tratamento na Base Missionária é realizado através de muitas atividades, serviços gerais, que passa por limpeza do local, capina, horta, e duas vezes por semana a palavra de Deus.

O alegretense conta que em primeiro lugar a pessoa tem que querer, tem que se deixar ajudar, precisa de outras pessoas e colocar Deus acima de tudo. Depois desse período ele não pensa em momento algum abandonar a clínica e está fazendo o trabalho necessário para ajudar, pois a vaga que o amigo pastor Pablo conseguiu é uma vaga social. “Aqui o tratamento maior é a palavra de Deus. Os primeiros meses foram tumultuados porque eu tinha o meu jeito de viver, sem regras. Mas aceitei a mudança e Deus me moldou. Ele fez um milagre na minha vida”- disse.
A Base Missionária que Igor está atende atualmente 40 homens. Todos ex- dependentes de álcool, drogas e alguns moradores de rua. O alegretense lembrou que em uma fase que estava transtornado pela droga, chegou a morar na rua, em Uruguaiana. “A droga me dominava e eu não conseguia me controlar , mas este é um período que deixei para trás”.

Ao finalizar o testemunho à reportagem, o alegretense diz agradecer em primeiro lugar Deus e depois ao amigo, Pastor Pablo Ortiz, que também residiu boa parte da infância e juventude na Vila Nova. Também acrescentou que dois pastores Carlos Eduardo e Jussara tomam conta da Base Missionária e são como uns pais para todos. O acolhimento e a dedicação para com os internos é grandioso. “Eles se preocupam com todos e isto é de coração, porque a maioria das pessoas que estão aqui são carentes, estão pela vaga social, por isso após seis meses quem tiver um bom comportamento é liberado para sair vender os Kits de limpeza para auxiliar nas despesas e também tem o direito de visitar a família, três dias. Entretanto, eu decidi ficar, ainda não é o momento de retornar.

O que está acontecendo comigo é mais do que uma vitória. Sempre lembro que a tristeza pode durar uma noite, mas a alegria vem ao amanhecer. A mudança está dentro de nós, porém, precisamos ir atrás e, o principal, ninguém sai das drogas sozinho, precisa de ajuda de amigos e de Deus, e ter muita fé.
Jamais pensei que poderia sair de onde saí e chegar onde cheguei. Mas Deus não desistiu de mim, o que ele fez na minha vida, pode fazer em muitas outras “- concluiu.
Flaviane Antolini Favero