Documentário reconta trajetória de líder espiritual da Região Central

‘Dona Lila: Uma Senhora de Oxum’ traça um histórico do feminismo negro em Santa Maria

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Maurilha Gonçalves Flores (1902-1988) abriu os caminhos da vida a facão. Num tempo em que o preconceito racial fazia parte da “etiqueta”, que a emancipação feminina ainda era um sonho distante e que a intolerância religiosa grassava (ainda mais que hoje), esta mulher negra casou e descasou por três vezes e foi requisitada ialorixá.

Sua coragem e protagonismo servem de fio condutor para o documentário Dona Lila: Uma Senhora de Oxum. Gravado em Santa Maria e em São Martinho da Serra nos últimos seis meses, a produção reúne depoimentos e dramatizações da vida da líder espiritual. A proposta do roteiro, assinado por Vilnes Gonçalves Flores Júnior, o Nei D’Ogum, é traçar um histórico do feminismo negro em Santa Maria, ao mesmo tempo em que reconta a história de Lila, sua avó paterna.

— Ela não era uma teórica, mas era sim uma militante feminista e dentro da própria família encontrou oposição. Uma mulher negra, chefe de família, que casou três vezes oficialmente, extraoficialmente 10, e resistiu bravamente ao preconceito. Ao longo de sua vida enfrentou duas ditaduras e teve problemas em função de sua religiosidade. Depois de 1964, foi duas vezes detida por prática de magia negra, uma ignorância do regime, que proibia o toque da sineta e do tambor — conta Nei.

Outra situação nebulosa da biografia de Dona Lila era a respeito da prática de aborto. Houve quem dissesse que a ialorixá ajudava outras mulheres a interromper gestações indesejadas.

— Essa foi uma dúvida que não conseguimos tirar. Na família, ninguém confirma — comenta Nei.

Gravado pela produtora Pé de Coelho, de Santa Cruz do Sul, com recursos do Pró-Cultura, do governo do Estado, o filme está agora em fase de edição. A expectativa é que a obra seja exibida em maio.

Fonte: DIÁRIO DE SANTA MARIA