Em 2014, 142 pessoas morreram em ruas e estradas da região

Desde 2010, não eram registradas tantas mortes no trânsito

Não há o que cure a dor de perder alguém que a gente ama. Quando a morte é violenta e inesperada, o sentimento se revela ainda mais intenso. Em 2014, mais de uma centena de famílias da região viveram o luto provocado pela violência do trânsito. Foram 120 acidentes com 142 vidas perdidas em nossas ruas e estradas no ano passado. O número é doloroso e alarmante: desde 2010, a região não registrava tantos óbitos em decorrência de acidentes (há quatro anos, 152 pessoas morreram em 127 acidentes).

No Brasil, 43 mil pessoas pessoas morrem por ano, em média, vítimas do trânsito no Brasil. São cerca de 119 mortes por dia – uma a cada cinco minutos. Para tentar diminuir essas estatísticas assustadoras, multas ficaram mais caras, e o número de fiscalizadores de velocidade aumentou. Mas o resultado ainda ultrapassa qualquer limite.
– O trânsito mata mais do que qualquer guerra. E cada número tem um nome, uma família enlutada. Quando você chega em uma ocorrência e vê uma mãe ou um pai chorando, você se dá conta que não pode ser natural aceitar essa violência, como se fosse só uma estatística. E a família nunca está preparada para uma perda no trânsito. Mas os números não baixam porque a imprudência é cultural – explica o tenente Orion Ponsi, comandante do Pelotão Rodoviário da Brigada Militar de Santa Maria.

Eduardo Biavati, sociólogo e especialista em trânsito, diz que o número de mortes deste ano, em Santa Maria, vai contra uma tendência estadual e nacional. De acordo com o especialista, o Coração do Rio Grande é a 5ª cidade no Rio Grande do Sul com maior número de vidas perdidas em acidentes com veículos.
– O indicador de mortalidade foi reduzido de aproximadamente 27 mortos para cada grupo de 100 mil habitantes em 2010 para 19 mortes em 2012, que era praticamente o mesmo indicador do Estado. O resultado de 2014 talvez indique uma reversão nessa tendência de controle da violência do trânsito de Santa Maria – avalia Biavati.

Motorista, preste atenção!

Além da imprudência e das más condições de ruas e das estradas, a desatenção ao volante também pode ser um dos maiores causadores de acidentes. De acordo com o tenente Ponsi, conduzir um veículo é um processo mecânico que, facilmente, acaba se tornando automático. A pressa, a correria e a distração fazem com que muitos motoristas esqueçam de dar sinal indicador de direção, façam ultrapassagens indevidas, cortem caminho e executem manobras bruscas, entre outras coisas.
– Hoje, a vida das pessoas é cercada de muita correria. O motorista entra no carro pensando no trabalho e dirige preocupado com outras coisas. É comum um motorista passar por um redutor de velocidade e, instantes depois, questionar a si mesmo: a que velocidade eu passei? É claro que é possível ter pensamento dinâmico, pensar em várias coisas ao mesmo tempo. Mas isso não pode refletir nos gestos de quem está ao volante – afirma o comandante do Pelotão Rodoviário da Brigada Militar de Santa Maria.

Evitar acidentes: o grande desafio

Desde novembro do ano passado, ficaram até 10 vezes mais caras as multas de trânsito para infrações como ultrapassagens em local proibido ou de risco e pelo acostamento e para manobras perigosas ou disputas de corridas e rachas. A lei que aumenta o valor também aumenta as penalidades aos motoristas.

Essa é uma das medidas mais recentes na tentativa de mudar o comportamento no trânsito. Além disso, há outras iniciativas, como a presença de mais radares e pardais nas rodovias e a Operação Hermes, que ocorre periodicamente e tem o objetivo de multar o motorista que acelera logo após passar pela fiscalização eletrônica.
– Infelizmente, são iniciativas para tentar mudar o comportamento, mas não são suficientes. Mesmo com a Lei Seca, muitos motoristas ainda são flagrados dirigindo sob influência de álcool nas rodovias. Essa é uma forma de combater a consequência, mas também é preciso educação sólida no trânsito, para combater as causas do acidente – defende o tenente Ponsi.

A presidente da Fundação Thiago de Moraes Gonzaga, Diza Gonzaga, defende que, além de reforçar as penalidades, é preciso que a lei seja cumprida na prática. Diza ressalta que a educação é fundamental para a segurança:
– O trânsito é mais do que governo e polícia rodoviária. É uma questão comportamental. Só por meio da educação é que teremos uma realidade aceitável. Hoje, somos o terceiro país mais violento. O que ocorre é uma verdadeira guerra nas nossas rodovias.

Diza acredita, ainda, que são três os principais caminhos para redução de mortes em acidentes de trânsito: a educação, a engenharia (sinalização e boas condições viárias) e um esforço legal para divulgar a legislação.

Para Biavati, também são três os segredos para um trânsito mais seguro: ruas e estradas em boas condições de trafegabilidade, veículos com manutenção em dia e motoristas conscientes.
– O comportamento de motoristas e de pedestres é parte fundamental da segurança ou da violência no trânsito, mas não é tudo. Um erro muito recorrente é atribuir toda a culpa dos acidentes ao comportamento. Isso porque todo comportamento ocorre em um contexto real. Não existirá comportamento seguro em vias inseguras nas quais circulam veículos, motorizados ou não, igualmente inseguros – avalia Biavati.

Cuidado nunca é demais

O chefe da Polícia Rodoviária Federal (PRF) de Santa Maria, Marcelo Ramos da Silva, lembra que, com a chegada do verão e o período de férias escolares, o tráfego nas rodovias federais da região fica mais intenso aos finais de semana e, por isso, é preciso redobrar a atenção.

Além disso, na estação mais quente do ano, a BR-290, caminho de argentinos para o litoral, também tem picos de movimento. O chefe da PRF atenta para as recomendações rotineiras aos motoristas, que sempre são importantes:
– É preciso sempre ter muita atenção na sinalização, vertical e horizontal, respeitar o limite de velocidade da via, evitar ultrapassar em locais proibidos e sempre fazer a revisão do veículo antes de viajar.

Fonte: DIÁRIO DE SANTA MARIA