
Esposa de um dos réus, Nathália Daronch é a terceira depoente do júri da boate Kiss nesta segunda-feira (6). O julgamento ocorre no Foro Central I, em Porto Alegre. Ela estava na casa noturna no dia do incêndio.
Nathália estava grávida de quatro meses na época dos fatos. A criança tem hoje 8 anos. Ela relatou que, ao perceber a confusão, acreditava que se tratasse de uma briga.
“Nisso eu fiquei sentada e não tinha a menor ideia de que era um incêndio, achei que era uma briga. Eu estava entre duas portas e as pessoas começaram a sair muito entre os dois lados. Me senti meio mal, fiquei preocupada com a gravidez. Até então não tinha a menor ideia que era fogo. Levantei e saí junto com as pessoas que estavam saindo”.
Ela diz que Kiko estava do lado de fora da boate e quando foi entrar novamente um segurança teria dito que algo estava acontecendo. “Um segurança disse pra ele: Kiko aconteceu alguma coisa séria, e nisso já começou uma confusão muito grande e me lembro que ele abriu os braços e disse: saiam saiam”.
Nathália conta que estava próxima as portas da boate quando a confusão começou. “Eu sentei no hall da boate, entre as duas portas em uma parede, peguei um banco e sentei. Fiquei ali e eu estava ali quando começou o incêndio, então eu não vi o inicio”.
Ela disse ainda que nunca viu nenhuma banda usar artefato pirotécnico na Kiss. “O Kiko era a administração da Kiss. Não recordo do Mauro tomar alguma decisão”.
“Foi utilizada uma espuma que foi indicada. Depois do acontecido o Kiko ficou muito chateado, porque foi dito que ele tirou as espumas da cabeça dele, e eu me recordo muito bem que não foi, que foi uma indicação, que ele estava amparado por um engenheiro”.
Três depoimentos por dia
O juiz Orlando Faccini Neto determinou que, a partir de agora, três pessoas serão ouvidas por dia. Durante conversas com jornalistas no intervalo da sessão de domingo (5), o magistrado disse ser difícil projetar alguma data para o encerramento das oitivas com testemunhas e sobreviventes.
Ainda no domingo, três pessoas prestaram depoimento. Segundo o Tribunal de Justiça, já foram ouvidas 16 pessoas (10 sobreviventes, quatro testemunhas e dois informantes). Ainda restam 13 pessoas: dois sobreviventes e 11 testemunhas.
O que disseram os sobreviventes
- Kátia: ‘comecei a gritar que não queria morrer’, diz ex-funcionária que teve corpo queimado
- Kelen: ‘última vez que corri foi para tentar me salvar’, diz sobrevivente que teve perna amputada
- Emanuel: ‘não soou alarme’, conta sobrevivente especialista em prevenção de incêndio
- Jéssica: ‘vi quando pegou a faísca’, conta sobrevivente que perdeu irmão
- Lucas: ‘eu desmaiei, fui muito pisoteado’, diz DJ da boate
- Érico: ‘ajudei até o final’, conta barman que ajudou no socorro às vítimas
- Maike: ‘parecia que estava respirando fogo’
- Cristiane: ‘aquilo era um filme de terror’
- Delvani: ‘fui caindo e me despedindo da minha família’
- Doralina: ‘lembro de muito grito, muita confusão’, diz ex-segurança
O que disseram as testemunhas
- Engenheiro diz que sugestão de sócio para instalar espuma acústica era ‘leiga e ignorante’
- ‘Artefatos não podem ser usados em ambiente fechado’, diz gerente de loja
- Juiz transforma testemunha em informante após filha postar ‘apodreçam na cadeia’
- ‘Ele sofre por isso’, diz ex-patrão de vocalista da banda ouvido em audiência
- ‘Não era de costume informar as casas’, diz testemunha de defesa sobre o uso de fogos nos shows
- Testemunha é convertida em informante por responder a processo por falsidade ideológica ligado à boate
Quem são os réus?
- Elissandro Callegaro Spohr, conhecido como Kiko, 38 anos, era um dos sócios da boate
- Mauro Lodeiro Hoffmann, 56 anos, era outro sócio da Boate Kiss
- Marcelo de Jesus dos Santos, 41 anos, músico da banda Gurizada Fandangueira
- Luciano Augusto Bonilha Leão, 44 anos, era produtor musical e auxiliar de palco da banda
Entenda o caso
Os quatro réus são julgados por 242 homicídios consumados e 636 tentativas (artigo 21 do Código Penal). Na denúncia, o Ministério Público havia incluído duas qualificadoras — por motivo torpe e com emprego de fogo —, que aumentariam a pena. Porém, a Justiça retirou essas qualificadoras e converteu para homicídios simples.
Para o MP-RS, Kiko e Mauro são responsáveis pelos crimes e assumiram o risco de matar por terem usado “em paredes e no teto da boate espuma altamente inflamável e sem indicação técnica de uso, contratando o show descrito, que sabiam incluir exibições com fogos de artifício, mantendo a casa noturna superlotada, sem condições de evacuação e segurança contra fatos dessa natureza, bem como equipe de funcionários sem treinamento obrigatório, além de prévia e genericamente ordenarem aos seguranças que impedissem a saída de pessoas do recinto sem pagamento das despesas de consumo na boate”.https://tpc.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html
Já Marcelo e Luciano foram apontados como responsáveis porque “adquiriram e acionaram fogos de artifício (…), que sabiam se destinar a uso em ambientes externos, e direcionaram este último, aceso, para o teto da boate, que distava poucos centímetros do artefato, dando início à queima do revestimento inflamável e saindo do local sem alertar o público sobre o fogo e a necessidade de evacuação, mesmo podendo fazê-lo, já que tinham acesso fácil ao sistema de som da boate”.
Fonte: G1