Família do RS que mora na Itália conta como é viver sem poder sair de casa: ‘Minhas filhas estão começando a ficar agitadas’, diz

Nordeste do país europeu está em quarentena desde o dia 5 de março. A região onde o porto-alegrense Marcos Refinski mora foi uma das primeiras a ter restrição de circulação.

O programador gaúcho Marcos Refinski, de 42 anos, mora na cidade de Treviso, no Nordeste da Itália com a esposa Cristiane e as duas filhas Luana e Elisa, de 11 e 6 anos. A família está poder sair de casa desde o dia 5 de março, quando o país decretou quarentena por causa do Covid-19.

“Minha esposa trabalhava três vezes por semana, agora está tudo parado. Minhas filhas, como não vão mais às aulas, estão começando a ficar agitadas, principalmente a menor que pergunta muito sobre o que esta acontecendo, porque não podemos sair de casa. Temos muitos amigos aqui em Treviso e usamos o Skype direto para conversar”, disse.

Depois da China, a Itália é o país mais afetado pela pandemia de coronavírus. Já são quase 2 mil mortes.

A região onde eles moram foi uma das primeiras a ter restrição de circulação. Duas semanas depois, apenas supermercados e farmácias seguem abertos.

“É bem aquela coisa de filme mesmo. Ninguém na rua, as prateleiras dos mercados vazias”, conta. Segundo ele, os poucos que saem nas ruas são orientados a ir para casa. “Hoje fui no mercado e tinha algumas pessoas andando na rua, e outras gritando com elas mandando para casa”, diz.

Marcos conta que a situação de pânico faz com que os ânimos das pessoas se aflorem. “Vai gerando atritos. Até porque algumas pessoas respeitam as recomendações e outras não”, diz.

“Revezamos entre eu e minha esposa para ir ao mercado somente por necessidade. Fizemos estoque justamente para evitar sair de casa”, diz. O programador costumava fazer exercício físico diariamente na rua, mas optou por parar.

“É muito estranho, a impressão é que todos estão contagiados pelo olhar das pessoas pra você”.

Apesar das prateleiras vazias nos supermercados, Marcos conta que as reposições estão sendo feitas. “Reposição tem, mas reduziram o número de funcionários para ter menos pessoas por dia juntas lá. E todos de luvas e máscaras”, diz.

Moradores e funcionários utilizam máscaras nos supermercados italianos  — Foto: Cristiane Copetti

Moradores e funcionários utilizam máscaras nos supermercados italianos — Foto: Cristiane Copetti

A cidade onde a família de Marcos mora fica a cerca de 30 minutos de Veneza. Ele costumava ir a trabalho ao município turístico. “Eu ia direto pra Veneza durante a semana e estava sempre lotado de gente. Agora parece cidade fantasma”.

O programador conta que a esposa, que é professora de inglês e português, teve recentemente um problema de saúde e, depois de receber o tratamento inicial, antes da pandemia começar, foi orientada a permanecer em casa.

“Ela tinha que ir periodicamente. Ligamos para uma enfermeira do hospital e ela disse que se minha esposa estava se sentindo bem que não fosse ao hospital, porque estava tomado de pessoas com coronavírus”, diz.

Segundo Marcos, a cidade de Treviso tem uma população grande de idosos, o que faz com que os cuidados tenham que ser redobrados. “Muitos idosos e pessoas com problema. [Se sair] vai estar levando o problema pra elas”.

“Dependemos uns dos outros para frear esse vírus, mas muitas pessoas não estão nem aí. Se aqui, que as pessoas ainda são um pouco mais conscientes que no Brasil já tem todo esse atrito, imagina se o vírus ganha força no Brasil. Torcemos que isso não aconteça.”

Ruas de Veneza na manhã desta segunda-feira (16) — Foto: Luca Cesaro

Ruas de Veneza na manhã desta segunda-feira (16) — Foto: Luca Cesaro

Coronavírus: infográfico mostra principais formas de transmissão e sintomas da doença — Foto: Infografia/G1

Coronavírus: infográfico mostra principais formas de transmissão e sintomas da doença — Foto: Infografia/G1

Fonte: G1