
Segundo a família, neta afirmou que não era o corpo da avó, mas funcionária insistiu que por conta da medicação e do tempo, o rosto estaria inchado e diferente.
Uma idosa de 76 anos que morreu por Covid-19 teve o corpo trocado com o de outra pessoa no Hospital Regional Zilda Arns em Volta Redonda, no Sul do Rio de Janeiro. O caso aconteceu nesta quinta-feira (14).
A família contou que no dia 26 de abril, Maria da Glória foi levada com sintomas da doença ao Hospital Flávio Leal, em Piraí, onde ela morava. A idosa não estava comendo e tinha febre.
Segundo os parentes, o médico que atendeu Maria receitou xarope, disse que era um resfriado e liberou a idosa. Os sintomas aumentaram e eles então voltaram ao hospital no dia 2 de maio, quando Maria foi internada. Ela teve a amostra colhida e encaminhada ao Laboratório Central Noel Nutels, no Rio de Janeiro.
A família disse ainda que chegou a perguntar pelo médico que tinha atendido Maria no dia 26, e foram informados que ele estava afastado com suspeita de coronavírus. Segundo uma das filhas, Sônia Pimenta, o médico não usava máscara quando atendeu a idosa.
Uma neta grávida e outra filha, de 46 anos, que foram ao hospital com a Maria, realizaram o teste rápido para saberem se tinham sido infectadas na última terça-feira (12). A filha foi diagnosticada com a doença, mas passa bem e está em isolamento domiciliar.
Dois dias depois de ser internada, no dia 4 de maio, Maria foi transferida para o Hospital Regional, com suspeita de Covid-19.
A idosa morreu na madrugada desta quinta e a família foi chamada no hospital. “Eu e a Renata [neta da Maria] fomos reconhecer o corpo. A funcionária perguntou se era o da minha mãe, eu falei que não era. Ela perguntou se eu estava em dúvida, eu disse que sim. Aí chamei minha sobrinha. Quando ela chegou, também disse que não era a minha mãe. Eu só vi o rosto e não era ela. A senhora que tava lá tinha o cabelo branco, minha mãe tinha o cabelo preto e uma cicatriz no nariz”, disse a filha Sônia.
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Maria da Glória morreu por Covid-19 — Foto: Reprodução/Redes Sociais
De acordo com a neta, Renata Pimenta, ela afirmou que não era o corpo da avó, mas a funcionária insistiu que por conta da medicação e do tempo, o corpo estaria inchado e diferente, mas que era a Maria.
O corpo foi encaminhado ao Cemitério de Piraí, enrolado em um saco plástico e com o caixão fechado. Chegando lá, a filha Sônia falou para a família que não tinha identificado o corpo no hospital e pediu para que abrissem o caixão.
“Quando chegamos em Piraí, eu falei para o meu irmão que não era minha mãe. Meu irmão pediu para abrir o caixão e todo mundo viu que não era ela. Quando abriram, estava escrito ‘Maria das Dores’, não Maria da Glória”, falou Sônia.
Os enterros de pessoas diagnosticadas com a Covid-19 estão sendo realizados com caixão fechado, mas os funcionários do cemitério abriram para a identificação. “Eles [funcionários do cemitério] estavam direitinho, com luva e máscara na hora de abrir o caixão. Nós também”, disse Sônia.
A família voltou para o Hospital Regional e informou o que tinha acontecido. Os funcionários então foram procurar o corpo da Maria da Glória. “Eles procuraram, procuraram e, depois de muito tempo, acharam o corpo da minha mãe”, falou a filha.
O sepultamento de Maria foi realizado no fim da tarde desta quinta. A família disse que após o enterro, eles foram informados que o exame da idosa tinha dado positivo para coronavírus.
Para a filha Sônia, o que aconteceu com eles não deveria acontecer com ninguém. “Foi um choque muito grande. A gente ia enterrar uma pessoa que não era nossa mãe, enquanto nossa mãe estava perdida lá em Volta Redonda. Sentimos raiva, choque, sentimos tudo na hora que vimos que não era minha mãe”, contou.
Maria da Glória deixou o esposo, sete filhos, além de netos e bisnetos.
A direção do Hospital do Médio Paraíba Zilda Arns disse que “no momento do velório de Maria da Glória da Silva, a família constatou que havia um equívoco no reconhecimento e entrega do corpo. Os familiares retornaram à unidade onde foram acolhidos e puderam solucionar a questão. A direção lamenta o ocorrido e solidariza com a família, e informa que abrirá sindicância para apurar o caso”.
Em nota, a Prefeitura de Piraí informou que em relação ao atendimento no Hospital Flávio Leal, “segue todos os protocolos estabelecidos pelo Ministério da Saúde. Não há falta de EPIs e os testes são aplicados também de acordo com as orientações do Ministério da Saúde e Secretaria Estadual da Saúde seguindo posteriormente para o laboratório Central Noel Nutels, no Rio de Janeiro”. Disse ainda que se solidariza com a família e irá apurar o caso.
Fonte: G1