
Familiares de vítimas da tragédia na boate Kiss deixaram o plenário do Foro Central I, onde ocorre o julgamento dos réus pelo incêndio, durante o depoimento do ex-prefeito de Santa Maria Cezar Schirmer, nesta quarta-feira (8). A mãe de um dos mortos na tragédia passou mal e precisou de atendimento médico.
“Nos causou náuseas”, afirmou o presidente da Associação de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia da Kiss, Flávio Silva. Ele criticou declarações de Schirmer, que afirmou não ter responsabilidade pela tragédia.
Ao juiz Orlando Faccini Neto, o político, atual secretário de Planejamento de Porto Alegre, disse que governava uma “cidade traumatizada” após a tragédia. Arrolado pela defesa do réu Elissandro Spohr, ele é o primeiro a ser ouvido nesta quarta.
“É uma atitude que revolta a gente. Um prefeito que resolve querer fazer graça em pleno interrogatório eu acho o cúmulo. Ele deveria ter tomado algumas atitudes como gestor quando ocorreu a tragédia e isso ele não tomou. Então, agora, não adianta ele ficar aí com esse blá, blá, blá. Ele veio apenas para se promover politicamente e isso a gente não aceita”, disse Flávio Silva.
Ele chegou a ser indiciado no inquérito policial decorrente da tragédia, mas não foi denunciado pelo Ministério Público. Ao juiz Orlando Faccini Neto, afirmou que a investigação policial foi “medíocre e espetaculosa”.
“O inquérito não tinha nenhuma coerência. Polícia indiciou o chefe da fiscalização e não indiciou a secretária da Fazenda. Era notória a má vontade da polícia”, disse. Já as famílias das vítimas criticam o fato de Schirmer e outros entes públicos envolvidos na liberação da boate para funcionamento não constarem no rol de réus pelo caso.
Quem são os réus?
- Elissandro Callegaro Spohr, conhecido como Kiko, 38 anos, era um dos sócios da boate
- Mauro Lodeiro Hoffmann, 56 anos, era outro sócio da Boate Kiss
- Marcelo de Jesus dos Santos, 41 anos, músico da banda Gurizada Fandangueira
- Luciano Augusto Bonilha Leão, 44 anos, era produtor musical e auxiliar de palco da banda
Entenda o caso
Os quatro réus são julgados por 242 homicídios consumados e 636 tentativas (artigo 21 do Código Penal). Na denúncia, o Ministério Público havia incluído duas qualificadoras — por motivo torpe e com emprego de fogo —, que aumentariam a pena. Porém, a Justiça retirou essas qualificadoras e converteu para homicídios simples.
Para o MP-RS, Kiko e Mauro são responsáveis pelos crimes e assumiram o risco de matar por terem usado “em paredes e no teto da boate espuma altamente inflamável e sem indicação técnica de uso, contratando o show descrito, que sabiam incluir exibições com fogos de artifício, mantendo a casa noturna superlotada, sem condições de evacuação e segurança contra fatos dessa natureza, bem como equipe de funcionários sem treinamento obrigatório, além de prévia e genericamente ordenarem aos seguranças que impedissem a saída de pessoas do recinto sem pagamento das despesas de consumo na boate”.
Fonte: G1