Justiça mantém afastamento de vereador investigado por suspeita de estupro de vulnerável no RS

Câmara de Vereadores de Viamão decidiu afastar parlamentar enquanto CPI apura caso contra Fabrício Ollermann (MDB). Estagiária do gabinete do parlamentar procurou polícia após ser levada inconsciente a motel durante expediente.

A Justiça do Rio Grande do Sul manteve, na quarta-feira (27), o afastamento do vereador Fabrício Ollermann (MDB), investigado por estupro de uma estagiária pela Polícia Civil em Viamão, na Região Metropolitana de Porto Alegre. O político havia ingressado com pedido de mandado de segurança, visando suspender o afastamento determinado pela Câmara Municipal enquanto durar a CPI que apura o caso.

O advogado do vereador, Paulo Burmycz Ferreira, afirma que Ollermann “foi afastado de maneira precoce da atividade parlamentar e está cumprindo uma pena sem condenação”.

Na decisão, a juíza Lizanda dos Passos considera o argumento da Câmara de que “o afastamento se deu por falta de decoro parlamentar e não tão somente pela denúncia da suposta vítima”.

Sobre a investigação policial, o advogado afirma que foram apresentados pela defesa “documentos, provas e arrolamos novas diligências” e quem convicção na inocência do vereador. “Foi feita uma ata notarial do telefone do vereador. As comunicações via WhatsApp do dia, dos dias anteriores e dos dias posteriores ao fato estão todas transcritas. As transcrições dão conta de um relacionamento normal, harmonioso”, afirma Ferreira.

Vereador Fabrício Ollermann de Oliveira — Foto: Câmara de Vereadores de Viamão/Divulgação

Vereador Fabrício Ollermann de Oliveira — Foto: Câmara de Vereadores de Viamão/Divulgação

Relembre o caso

O caso investigado pela polícia teria ocorrido no início de dezembro. A vítima de estupro seria uma estagiária do gabinete do vereador, uma jovem de 22 anos. Em áudios obtidos ao longo da investigação, Ollermann fala a outras pessoas sobre o que teria acontecido. Um vídeo ainda mostra o vereador entrando de carro com ela em um motel.

À polícia, a jovem disse que, durante visita em horário de trabalho a uma propriedade rural no bairro Itapuã, teria ingerido bebida alcoólica acompanhada do político. Ela teria ficado inconsciente, sendo levada a um motel pelo vereador, conforme a polícia.

Nos áudios colhidos pela polícia, o vereador confirma que esteve com a estagiária, mas conta a um interlocutor que ela teria bebido com ele, passado mal e depois ele a teria levado a um local para tomar banho. A polícia investiga se a versão é verdadeira.

“Tudo tranquilo, [nome da estagiária] entregue. O que acontece em Vegas, fica em Vegas. O que acontece em Itapuã, fica em Itapuã”, afirma em um dos áudios.

A Polícia Civil confirma que os áudios são verdadeiros. “A gente recebeu de algumas testemunhas áudios e prints de conversas em que ele fala que o que aconteceu ali fica por isso”, aponta a delegada Marina Dillenburg.

O vereador se apresentou voluntariamente à polícia. Segundo a delegada Marina Dillenburg, o político confirmou ter levado a jovem ao motel, mas negou ter feito algo de cunho sexual com ela. Imagens de câmeras de segurança obtidas pela polícia mostram o político chegando no local acompanhado da jovem.

O que dizem os envolvidos

Fabrício Ollermann (MDB) nega o crime. “Eu fico preocupado. Eu nego todos os fatos. O que eu quero é esclarecimento, que ambas as partes se entendam, que não é verdade o que está acontecendo”, afirma.

Em nota, os advogados Daniela de Córdova Pereira e Matthäus Schmitt, que representam a jovem, afirmam que “a vítima estava em situação de total vulnerabilidade e no exercício de sua profissão, já que era estagiária de seu agressor e o acompanhava em evento”. Eles ainda dizem que “acompanham o caso e tomarão todas as medidas judiciais cabíveis, a fim de contribuir com investigação conduzida pela Delegada de Polícia”.

O próprio vereador apresentou um pedido de abertura de CPI para investigação do caso pela Câmara. O presidente do Legislativo, Prof. Igor Bernardes (PL), solicitou que a comissão elaborasse um requerimento com o pedido de afastamento do político, que foi aprovado por 17 votos favoráveis, dois contrários e uma abstenção.

“O afastamento é até o final das investigações da comissão processante, o processo da Câmara”, explica Bernardes. Conforme o regimento interno, Ollermann segue recebendo salários durante a realização da CPI.

Ao g1, Ollermann preferiu não dar detalhes do que teria acontecido. “São fatos provados, tem uma testemunha que estava junto. Eu vou deixar para o esclarecimento da polícia”, diz.

O advogado Paulo Burmycz Ferreira afirma que provas da conduta do político serão apresentadas à delegacia responsável pelo caso. A defesa prefere se manifestar apenas nos autos do inquérito.

Câmara Municipal de Viamão — Foto: Reprodução/RBS TV

Câmara Municipal de Viamão — Foto: Reprodução/RBS TV

Investigação da polícia

De acordo com a delegada Marina Dillenburg, a jovem procurou a polícia no dia 6 de dezembro. Ela conta que acompanhou o vereador em uma visita a uma propriedade rural no bairro Itapuã, onde teria bebido um licor produzido no local durante uma confraternização. Depois disso, a jovem não lembra mais o que aconteceu. “Tomou dois copinhos apenas, experimentou a bebida e não lembrou mais nada”, fala a delegada.

No dia seguinte, a estagiária comentou o episódio com uma colega de trabalho. Foi a colega que comentou que a jovem foi levada pelo vereador a um motel.

“Ela lembra de uns flashes em que ele estava nu e ela estava nua no motel”, afirma a delegada.

Conforme a delegada, a polícia aguarda o resultado de perícias para identificar o que aconteceu com a estagiária. “Exame de verificação de conjunção carnal, coletas de sangue, toxicológico, a gente vê se tem algum tipo de lesão corporal. Qualquer vestígio que tenha ficado”, explica.

A investigação deve ouvir testemunhas, entre elas, funcionários do motel para verificar detalhes da ocorrência. “Esses casos de violência sexual sempre são muito complicados porque não deixam testemunhas. Então, a palavra da vítima é muito levada em consideração. Partindo do que ela nos contou, a gente entende que sim, tanto que foi instaurado o inquérito. Há indícios de autoria de estupro de vulnerável”, afirma Marina Dillenburg.

Vereador chega a motel — Foto: Divulgação

Vereador chega a motel — Foto: Divulgação

Por Redação, g1 RS e RBS TV

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