‘Pessoa ciumenta, explosiva, paranóica’, diz ex-mulher de preso por ataques com ácido em Porto Alegre

Por Fábio Almeida, G1 RS e RBS TV

Uma semana após a prisão do homem apontado pela Polícia Civil como autor dos ataques a cinco pessoas com ácido em ruas da Zona Sul de Porto Alegre, a mulher que foi casada por cinco anos com ele falou à RBS TV. Conforme a versão apresentada informalmente por ele à investigação, o empresário Wanderlei da Silva Camargo Júnior, de 48 anos, agiu para assustar a ex, e convencê-la a se mudar com ele para Curitiba.

Ele foi preso na capital paranaense no último dia 4. Conforme a investigação, Wanderlei possui casas nas duas cidades.

O relacionamento foi conturbado e marcado por agressões, como relatou a mulher, que não será identificada.

“Muito ciúme, muita cobrança. Ele colocava escutas na minha casa, colocava câmeras escondidas, um programa espião no meu aparelho celular, que até hoje eu não consegui tirar”, conta.

Wanderlei é sócio de uma agência de viagem na capital paranaense, que também tem escritório em Porto Alegre. Após o fim do casamento, ele passou a perseguir e ameaçar ela.

Conheça detalhes da investigação que prendeu empresário por atacar pessoas com ácido

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Inclusive na semana do ataque, a mulher relata ter sido perseguida por ele, enquanto saía com uma amiga. “Depois mandou mensagem de ameaça dizendo que está sempre de olho em mim, que ia saber todos os meus passos, que era para ele saber se eu era merecedora do amor dele ou não, essas coisas. Eu falei: ‘não quero teu amor. Esse amor que tu acha que tu tem eu não quero mais. Para mim não serve mais”, afirma.

“Ele é uma pessoa explosiva. Tem componentes de raiva, e é uma pessoa extremamente ciumenta, possessiva, paranóica”, conta a mulher, que relata ter sofrido agressões dele por duas vezes.

A polícia descobriu a identidade do homem ao analisar câmeras de segurança. Descobriu também que pelo menos três carros foram alugados naqueles dias. E concluiu que Wanderlei, que alugou um deles, trocou as placas antes dos ataques.

“Muito importante foi a prova técnica desse inquérito policial, onde nós temos a presença desse carro alugado em todos os pontos do ataque, com horário preciso do GPS desses veículos, que aponta a presença do suspeito em todos esses locais”, afirma a diretora do Departamento de Polícia Metropolitana, delegada Adriana Regina da Costa.

Empresário, de 48 anos, foi preso na sexta-feira (4) no Paraná — Foto: Divulgação/Polícia Civil

Empresário, de 48 anos, foi preso na sexta-feira (4) no Paraná — Foto: Divulgação/Polícia Civil

A ex-mulher acredita que Wanderlei escolheu a região por saber que ela frequenta a Zona Sul de Porto Alegre. “Uma rua é onde a minha irmã mora. Ele sabia da minha rotina”, relata.

Ela rejeita a versão apresentada por Wanderlei como motivo para os ataques. “O objetivo dele não era eu ir morar em Curitiba. Eu acho que ele estava fazendo vítimas para caso resolvesse me queimar com ácido ou sumir com meu corpo ou alguma coisa assim relacionada a ácido, achassem que eu era só mais uma vítima do ácido”, afirma. “Eu acho que poderia ser uma próxima vítima”.

Se pudesse falar algo às pessoas que foram atingidas pelos ataques de Wanderlei, a mulher afirma que diria que nunca se sabe quem está do seu lado. “Por mais que tu pense que tu conhece alguém, a gente nunca conhece a pessoa de verdade. E que eu realmente nunca queria que elas tivessem passado por isso”, conclui.

Em nota, o advogado que defende Wanderlei, Wellington Alves Ribeiro, ressalta que a versão apresentada por ele à Polícia não é oficial, já que, em interrogatório formal, o preso ficou em silêncio. Também afirma que a investigação é sigilosa, e que ainda não teve acesso integral aos autos do inquérito.

“O julgamento precipitado apenas torna o fato que já é bastante triste ainda mais doloroso para todas as partes envolvidas. A defesa afirma que os fatos serão enfrentados após o oferecimento da denúncia”, aponta.

Agasalho furado pelo líquido que foi jogado em uma das vítimas, em Porto Alegre — Foto: Arquivo pessoal

Agasalho furado pelo líquido que foi jogado em uma das vítimas, em Porto Alegre — Foto: Arquivo pessoal

Relembre os ataques

Os ataques aconteceram nos dias 19 e 21 de junho, nos bairros Nonoai e Aberta dos Morros. Quatro mulheres e um adolescente foram atingidos pelo líquido, que o IGP confirmou ser ácido. A cidade ficou em pânico. A polícia acredita que ele tenha premeditado os ataques.

Uma das vítimas é Bruna Machado, que voltava para casa depois de um dia inteiro de faxina. O agressor se aproximou de bicicleta, e jogou o líquido na direção dela. “Eu achei que tava caindo, derretendo o meu rosto”, conta.

Ela teve queimaduras profundas no rosto e no braço. Por pouco, os olhos não foram atingidos. No outro dia de ataques, Wanderlei usou o carro identificado pela Polícia.

As roupas atingidas pelo líquido foram periciadas pelo IGP, que constatou se tratar de ácido sufúrico, como explica o perito criminal Marcos José Souza Carpes.

“Ele é um ácido extremamente forte, corrosivo, tem um poder de desidratação muito grande. A hora que tocar na pele vai desidratar, vai formar uma queimadura química, então o dano é bem agressivo na pele ou em outros materiais que sejam suscetíveis a esse ácido”, diz.

Vítima sofreu queimaduras em parte do rosto e pescoço após ataque com líquido corrosivo em Porto Alegre — Foto: Arquivo pessoal

Vítima sofreu queimaduras em parte do rosto e pescoço após ataque com líquido corrosivo em Porto Alegre — Foto: Arquivo pessoal

Fonte; G1