Porteiro passa 13 dias injustamente no Presídio Central

Ao atender a um pedido de socorro, ele acabou confundido com participantes de assalto

porteiro

Às 17h27min do dia 19 de agosto, Batista Gomes da Rosa, 23 anos, estava no lugar errado, com a pessoa errada. O jovem foi preso pela Brigada Militar na Avenida Cavalhada, em Porto Alegre.

No carro dele estava o suspeito de um assalto que pouco antes havia terminado em morte. Essa circunstância lhe custou 13 dias no Presídio Central e o emprego.

— Foram dias que pareceram anos — diz ele.

Lá, quando contou aos outros presos que era inocente, arrancou risos. Todos diziam o mesmo.

Na área de triagem, dividiu a cela com sete homens. Um colchonete no chão passou a ser a sua cama e a angústia a companheira. Mesmo não tendo chegado às galerias do Central, conviveu com o medo diariamente.

— Não mereço estar aqui, impossível que isso dure muito tempo — tentava acreditar.

A mãe, a irmã e a mulher que nunca tinham colocado os pés em um presídio se viram na fila da visita. Não faltaram nenhum dia nem deixaram de acreditar nele.

— A conversa dos caras era só morte, execução, vingança, e eu só queria ficar longe dali — relata.

De cara com a BM

Batista foi parar no assalto por um pedido de  socorro de um homem que o encontrou saindo de carro de casa. Ele era Francisco Cena Moreira, um dos assaltantes da revenda de carros que terminou com um criminoso morto a
golpes da própria submetralhadora depois de desarmado pela vítima. Na frente da revenda, Batista se deu conta da cilada.

— As câmeras mostram que quando ele percebe tudo, o assaltante foge, mas ele se dirige em direção aos PMs. Isso deixa tudo claro — relata o delegado titular da 13ª DP, Luciano Coelho.

O fato do jovem não ter fugido alertou a Polícia Civil.

— Mas os PMs não teriam como avaliar — defende o delegado.

Somente 13 dias depois, com a investigação encerrada, a história que fez os demais detentos rirem no presídio se comprovou. Batista completaria três anos de trabalho na portaria de um condomínio.

A segurança de 224 famílias passava pelas suas mãos. Muitos moradores já o conheciam pelo nome. Mas a notícia que chegou a eles não combinava com o rapaz quieto e educado que trabalhava na portaria no turno da noite. No Central, recebeu a notícia de que não foi possível mantê-lo no emprego.

— Fico triste por imaginar gente pensando que isso foi verdade. Quero contar para todos que foi um engano. Agora, vou seguir a minha vida de cabeça erguida — afirma.

Desempregado, Batista organiza os documentos para o pedido de seguro-desemprego. Espera agora por uma nova oportunidade.

Uma decisão de Batista, tomada a partir de uma orientação que recebeu, pode ter agravado o caso. Para o delegado Luciano Coelho, o desfecho poderia ser outro se o jovem tivesse falado desde o começo.

— Ele tinha de ter falado já na Área de Judiciária, no flagrante. Os policiais iriam colocar no flagrante a versão dele, de que não tinha nada a ver com a história. Isso poderia ter alertado o juiz que decretou a prisão — diz o delegado.

 

Segundo a experiência policial, só se manifestar em juízo prejudica quem é inocente. Quem não tem nada a ver com um crime precisa se manifestar claramente, exigir que sua versão seja colocada na ocorrência.

 

Fonte: Zero Hora