Prestes a enfrentar o Inter, Damião avalia início no Santos: "Eu esperava mais de mim"

Centroavante volta aos gramados após três meses envolvido com lesões e vê o momento como retomada na carreira

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Conhecedor do inverno gaúcho por conta dos quatro anos em que passou no Rio Grande do Sul, treinando com a camisa do Inter à beira do Guaíba, Leandro Damião atende ao telefone, desde Santos, na última sexta-feira, não com o tradicional “olá, tudo bem?”. O centroavante da camisa 9 do time em que Pelé é uma sumidade faz um trocadilho e solta uma forte gargalhada para a reportagem de Zero Hora:
— Tudo frio?
Damião recém havia deixado o treinamento. Banho tomado, agasalho do clube, feliz não apenas pelos 16ºC apontados pelo termômetro na cidade do litoral paulista e pelo clima agradável que irá encontrar em Porto Alegre no final de semana por conta da previsão de tempo seco e ensolarado. Sorria por confirmar a volta aos gramados após três meses envolvido com lesões no púbis e tornozelo.
Pelo Brasileirão, são apenas três partidas — a última vez que esteve em campo foi dia 3 de maio, no empate em 0 a 0 contra o Grêmio. No Santos, são 17 vezes em campo. Apenas cinco gols marcados. Ruim para um jogador acostumado a deixar sua marca desde que despontou para o futebol ao anotar um dos gols do Inter do bicampeonato da Copa Libetadores de 2010.
Em 20 minutos de entrevista, Damião fala da família, da filha Heloísa, recém-nascida, da Seleção Brasileira, o reencontro com o Inter. Mas, principalmente, da retomada que o jogo deste domingo, às 18h30min, no Beira-Rio, significa na carreira:
— Estou começando tudo de novo, é uma caminhada praticamente do zero aqui no Santos.
Confirmado para enfrentar o Inter?
Leandro Damião — Graças a Deus. Não via a hora de pode jogar novamente. Sem dores, sem lesões. A Copa me ajudou muito para eu poder me recuperar, fiz muita fisioterapia e reforço muscular.
Você teve uma lesão no púbis e no tornozelo.
Damião — Era uma pubalgia. Nunca tinha sentido essa dor aí no Inter. Aqui no Santos comecei a me preocupar, não deixava eu treinar direito. Fiz exames e apontou a pubalgia. Desde o paulista eu vinha treinando, jogando com dores, mas muita dor mesmo. Joguei Libertadores longe da minha melhor condição. Resolvemos parar para eu resolver esse problema e voltar bem.
Sorte tua não ter de operar. Como o Dátolo, teu ex-companheiro de Inter.
Damião — Não só isso. Tem muitos jogadores que tem até de parar por conta desse problema. Dói demais, só quem teve para saber. Você fica muito limitado para girar, arrancar, chutar. Dói demais. Você pressiona o abdômen para quase todos os movimentos, então sempre tem uma fisgadinha, a dor está sempre presente. Isso vai desmotivando, você fica triste, chateado. Eu machuquei o adutor (músculo da frente da coxa) duas vezes. Reforcei no adutor e deixei de lado o púbis, o abdômen, daí fica fraco e vem a lesão.
Como você encara esse retorno ao Beira-Rio?
Damião — Confesso que estou pensando muito mais na minha volta aos gramados, não na volta ao Beira-Rio, no jogo contra o Inter. Vai ser um momento especial, claro. É um clube que eu tenho toda a minha gratidão. Tudo o que tenho hoje, o que conquistei até o momento, eu devo ao Inter. Só que hoje eu defendo o Santos, vou fazer o máximo para a gente vencer esse jogo.
Você sabe a dificuldade de jogar no Beira-Rio. Inter está invicto no Brasileirão.
Damião — O Inter sempre foi muito forte em casa. Todo mundo que joga aí sabe o quanto é difícil ganhar. Mas várias equipes já foram aí e conquistaram a vitória e esse é o pensamento: “Dá para ganhar”. O Oswaldo de Oliveira é um baita treinador, nosso time está se entregando em campo e acredito que é possível, sim, conseguir a vitória.
O Ceará, que derrotou o Inter na quarta, é exemplo?
Damião — Confesso que não assisti ao jogo. O pessoal aqui viu e comentou comigo. Não adianta pensar em ser igual ao Ceará ou a este ou aquele time. Nós temos de jogar o nosso jogo, não adianta pensar no que o Ceará fez se a gente não der o nosso melhor.
Como foi viver a Copa do Mundo em São Paulo?
Damião — Foi uma baita Copa. O Brasil estava bem. Claro que teve o 7 a 1 para a Alemanha, mas eu vejo o Brasil muito bem até ali. Tenho certeza de que nunca mais acontece esse placar, foi um dia que o Brasil não jogou bem. Tem a questão que para o país foi algo muito bom, também. Particularmente, eu fiquei triste de não estar no grupo, mas tem muita coisa para acontecer. E tenho de ter consciência que com lesão não dava para ser convocado, não tinha como jogar com dor. Fico triste de não ter jogado a Copa dentro de casa.
Teu projeto é a Rússia, em 2018?
Damião — Aqui no Santos é meu recomeço. Quero me firmar aqui, fazer um bom trabalho e voltar a ser convocado. Se eu tiver uma sequência, sem lesões, vai ser outra situação. Estou começando tudo de novo, é uma caminhada quase do zero aqui no Santos. Não dá para comparar, claro, com o que eu vivi no Inter. Até pelo estilo do futebol daqui. No Rio Grande do Sul você joga um Gre-Nal, vai bem e se destaca. Aqui tem mais clássicos, é mais difícil se destacar.
Qual a diferença entre o Paulista e o Gauchão?
Damião — É dificil falar. Tem mais equipes de Série A, da Série B… É mais forte em termos técnicos. O Gauchão tem técnica também, mas é mais pegado, mais forte. Eu falo para o pessoal aqui que quem jogar o Gaúcho e for bem joga em qualquer lugar do mundo, porque é um campeonato muito dificil, muito pegado. Tem equipes pequenas que se transformam quando enfrentam Inter, Grêmio… é difícil.
Como você avalia os primeiros meses de Santos?
Damião — Eu esperava mais de mim. Infelizmente, não consegui dar mais, ir melhor. Tive de parar algumas rodadas, não joguei todas as partidas por conta das lesões. O time aqui também é diferente, é mais veloz que o Inter, isso faz diferença para o jogador, que tem de se adaptar ao novo estilo de jogo. Estou bem mais habituado.
Voltou a jogar mais na área?
Damião — Eu faço o que o Oswaldo (de Oliveira, técnico do Santos) quer que eu faça. Se ele me pedir para jogar fora da área, tenho de sair, abrir espaços para quem vem de trás. O próprio Dunga, aí no Inter, me pedia isso, para eu sair da área e me movimentar bastante. Isso me ajudou bastante, eu fiquei mais completo. O Oswaldo é muito parecido com o Dunga.
Ter atuado com o Dunga te beneficia para uma possível volta à Seleção?
Damião — Eu tenho de ter sequência e jogar, com uma sequência sem lesões, para eu recuperar minha confiança. Se eu jogar bem, volto para a seleção. É consequência do meu trabalho aqui no Santos. Por isso que estou focado aqui e muito concentrado para os próximos jogos. Com ele, é convocado quem merece, quem está bem. O melhor é pensar que o púbis não me incomoda mais. Incomodava para eu tossir, dar risada, me mexer… quem tem ou teve essa dor sabe o quanto é chata.
Você chegou a ficar deprimido, abalado psicológicamente, por conta das lesões, por estar fora da Copa?
Damião — Às vezes, eu ficava muito triste. Mas minha filha, a Heloísa, nasceu faz dois meses. Me apeguei a ela. Quando parei, faltavam cinco jogos para a parada do Brasileiro, eu trabalhava em dois turnos para recuperar. Quando voltava para a casa, ela era a minha força. Cada sorriso que ela me dava levantava meu astral. Se eu estava triste, logo me animava de novo.
Acredita que não comemorar um possível gol no Inter é sinal de respeito?
Damião — Nem pensei nisso, ainda. Não estou preocupado se farei gol ou não. Quero jogar bem.