
Em cenários de crise, é comum a busca por causas e responsabilidades. A tragédia das chuvas no Rio Grande do Sul, que provocaram a morte de quase 150 pessoas até agora, têm levantado diferentes reflexões. E, nesse cenário perturbador que assola impiedosamente nosso Estado, a pergunta é: há algum grau de responsabilidade humana nessa tragédia? Até o momento há muitas explicações sobre as cheias do RS.
A Agência Brasil conversou com especialistas em recursos hídricos, que pesquisam áreas como geologia, agronomia, engenharia civil e ambiental. Há consenso de que se trata de um evento extremo, sem precedentes, potencializado pelas mudanças climáticas no planeta. Mas, quando o assunto é o papel desempenhado pelas atividades econômicas e a ocupação do território, surgem as discordâncias.

A reportagem do PAT conversou com o geólogo Rualdo Menegat, que explanou um pouco sobre sua versão quanto aos acontecimentos que envolveram o Rio Grande do Sul. Segundo ele, o ocorrido em Porto Alegre é o exemplo mais emblemático, pois se trata de um mau planejamento da estrutura social do centro da cidade, como canos, bueiros e demais sistemas hídricos que não recebiam manutenção há muito tempo. Sobre Alegrete, o profissional salientou que a cheia foi mais uma, dentre tantas em que o município foi atingido, porém, destacou que o rio Ibirapuitã subiu rápido e baixou na mesma constância.
Pedro Machado é professor de Geografia e especialista em recursos hídricos; ele expressou um ponto de vista diferente. O desenvolvimento econômico e social de uma cidade tem que ser acompanhado por medidas de sustentabilidade, não adianta planejar e não executar de forma correta. Um exemplo que pode ser citado é a questão do asfalto, algumas ruas e bairros não têm capacidade de receber uma pavimentação. Por pressão pública, as administrações vão lá e pavimentam, isso acaba gerando um efeito dominó em outros pontos da cidade por onde a água não escoa, salientou.

Outra questão é se o investimento em determinadas atividades agrícolas, com consequentes alterações da vegetação nativa, podem ter sido responsáveis por fragilizar os solos e o processo de escoamento da água. Para o agricultor Márcio Bortolas, esse foi um dos elementos que aumentaram o impacto das chuvas no Estado.
“Grande parte da zona rural da Fronteira Oeste tem sido intensamente ocupada pelas plantações de soja no limite dos arroios, destruindo a mata ciliar e os bosques. E também os banhados, que acumulam água e auxiliam para que ela não ganhe velocidade. O escoamento de água passa a ser muito mais violento e em maior quantidade, porque não há tempo para infiltração”, diz Bortolas.
Fotos: Maurício Tonetto/Facebook: Governo do Rio Grande do Sul
Na região do Vale do Taquari, observando imagens de satélite, é visível que para as atividades de agricultura o topo dos morros foram desmatados e viraram lavouras de pequeno e médio porte. Ora, a terra pelada, sem vegetação nativa, fez com que as águas das chuvas ganhassem um velocidade enorme que desceram morros abaixo levando muita lama, assoreando os rios, o que faz com que os rios subissem a níveis nunca visto antes. Pela coloração das águas do Taquari, que chegaram ao Guaíba dá pra perceber o quando de solo daquela região foi diluída. Os morros estão bastante “escorridos” para a calha dos rios. Dano ambiental descomunal.