Quando a superação de um trauma é inspiração para valorizar a vida e amigos

“Eu perdi parte da minha perna direita, mas não perdi meu glamour, minha alegria de viver e, principalmente, o bem mais precioso que são as pessoas que amo ” – assim começou a entrevista com Kátia Rosane Schamann Nunes.

Com um alto astral contagiante, uma alegria que transborda, aos 49 anos TchuTchuca como é chamada, deixa uma mensagem linda de superação a todos. Ela sempre foi muito guerreira, batalhadora, alegre e não esmoreceu diante de um grande dilema- um gravíssimo acidente em 2016.

TchuTchuca inicia a entrevista narrando o que aconteceu naquele dia/noite. Como sempre, ela estava trabalhando e o irmão, que reside na Zona Leste a convidou para jantar. “Lembro que naquela noite houve desfile temático, 18 de setembro de 2016, fazia dois meses da morte do meu pai. Não sei explicar, mas eu sabia, tinha o pressentimento de que algo iria acontecer. Fiquei o tempo todo inquieta na casa do meu irmão, falei várias vezes que viria pra casa. Quando decidi sair, minha cunhada chamou uma tele -moto e ainda queria que eu trouxesse um pouco de comida, mas eu respondi que não, iria apenas levar a bolsa, porque se algo acontecesse eu teria os documentos” comentou.

Kátia descreveu que assim que  passaram a ponte e iriam entrar na Eurípedes Brasil Milano, um carro invadiu a preferencial e acertou a moto. O choque foi tão violento que ela perdeu parte de pé. Encaminhada à Santa casa, iniciava um interminável período de recuperação.

Depois de quase um mês hospitalizada e várias tentativas de manter a perna, foi constatado que não teria como e o médico foi falar com ela. De cara, a grande surpresa, ao invés de choro, desespero e lamentações, o médico ouviu um muito obrigado e a certeza de que havia uma confiança plena em tudo que ele estava fazendo.

Foi então que houve a decisão de amputar parte da perna e o procedimento foi feito. No total foram quase dois meses de internação entre UTI, quarto, procedimentos, cirurgias e transfusões de sangue(ela agradece a todos que doaram).

TchuTchuca recorda que sempre teve atendimento “vip” na Santa Casa, até hoje, ela agradece a todos, desde o pessoal da limpeza até os médicos e enfermeiros, entre outros.

A alegretense, que reside no bairro Vera Cruz com o filho mais novo, Nelson Nunes, de 14 anos, se emociona ao dizer que não imagina que era tão amada. Ela tem um outro filho de 23 anos que reside em outra cidade, Cristiano Nunes.

Desde o ocorrido até os dias atuais ela é tratada como rainha. “Quando acordei, já não estava sozinha e a partir daquele momento tinha até briga para saber quem iria ficar comigo. Recebia muitos mimos e cuidados. Quando saí da Santa Casa, estava na cadeira de rodas, era carregada no colo, nunca me faltou nada. Quem tem amigos e familiares como os meus, tem o maior de todos os tesouros. Nenhum pote de ouro é capaz de pagar todo amor que recebo, sou uma pessoa abençoada.” – citou.

Katia disse que Deus nunca dá um fardo maior do que a pessoa pode carregar. E acredita que a maior de todas as dádivas é a vida. Ela salienta, ainda, que nunca pensou, jamais passou pela cabeça ficar depressiva. Uma das explicações, é que a primeira coisa que ela pensou: eu poderia ter morrido, perdi muito sangue, poderia ter ficado sem caminhar, poderia ter sequelas ainda mais graves e nada disso aconteceu. Por todos esses motivos nunca perdi a vontade maior que é ser feliz, fazer as pessoas que amo felizes e viver intensamente cada minuto que tenho”.

Mesmo assim, TuchuTchuca reconhece que tinha uma rotina agitada, para ela não existia tempo ruim, sempre estava trabalhando, independente do dia e horário. Por muitos anos foi segurança, além de outros trabalhos. Ao saber que não poderia mais trabalhar e por ter ficado mais de um ano com várias limitações até a implantação da prótese, a adaptação foi necessária.

Para finalizar, Katia falou sobre a homenagem que recebeu da escola de samba Canudos, uma de suas grandes paixões. E recordou que antes do acidente, um amigo também sofreu um acidente de carro e ficou paraplégico, o cantor Bruno Souza. Ele foi uma referência porque nunca deixou se abater.

Com um sorriso largo comentou que a agenda está sempre cheia de convites e que não perde a oportunidade de estar com as pessoas que ama, algo que não tinha tempo, ou eram raros os momentos.

“Precisamos amar a família, respeitar os amigos, valorizar as pessoas enquanto vivas. Nenhuma homenagem póstuma será mais importante do que sentir o amor e carinho, enquanto há possibilidade de retribuir” – concluiu.

Flaviane Antolini Favero