Reconstituição da morte de menino de 11 anos acontece nesta quinta-feira em Planalto

Reprodução simulada dos fatos busca analisar se versão da mãe do menino, Alexandra Dougokenski, é verdadeira. Ela admite morte do filho, mas alega acidente com superdosagem de medicamento.

A reconstituição do caso da morte do menino Rafael Mateus Winques, de 11 anos, vai ocorrer nesta quinta-feira (18) em Planalto, na Região Norte do estado. Equipes do Instituto-Geral de Perícias (IGP) e da Polícia Civil vão realizar a técnica Reprodução Simulada dos Fatos para investigar como tudo aconteceu.

No local do crime, a sequência de eventos será refeita. As autoridades investigam a versão relatada pela mãe do menino, Alexandra Dougokenski. Ela alega que causou a morte do filho, sem querer, com uma superdosagem de remédios contra a ansiedade.

“Quanto mais próximos estivermos das condições ambientais de horário, luminosidade, temperatura, quanto mais próximo do que for narrado, melhor será a reprodução”, afirma a diretora-geral do IGP, Heloisa Kuser.

O trabalho deve iniciar por volta das 18h. De acordo com o delegado Ercílio Carletti, a presença de Alexandra foi solicitada pela defesa, que sustenta a tese de homicídio culposo, quando não há intenção de matar.

“Ela [a defesa] também formula quesitos para tentar provar que aconteceu da forma como ela [Alexandra] descreveu. Se ela não quiser participar, não participa”, esclarece.

O advogado Jean Severo, que representa Alexandra, disse que a defesa deve se reunir com a polícia e os integrantes do IGP ainda pela manhã desta quinta (17) para saber o resultado da necropsia. O advogado acrescentou que se não tiverem acesso ao documento, é possível que a cliente não participe da reconstituição.

“A reconstituição é muito importante porque vai apresentar a dinâmica do crime. Mas é necessário constar, antes disso, no bojo inquisitorial, no inquérito policial, a causa mortis, pra saber do que esse menino veio a falecer”, diz Severo.

“Os laudos já deveriam ter sido juntados. Corre o risco de ela não participar, mas vamos conversar primeiro. Somos pelo diálogo”, acrescenta.

Laudo aponta asfixia

laudo preliminar do Posto Médico-Legal de Carazinho concluiu que Rafael morreu por asfixia mecânica por estrangulamento. No entanto, a necropsia ainda não foi divulgada.

Como Alexandra alega um superdosagem de medicamentos, a defesa deseja saber o resultado antes da simulação.

“É impossível que a gente enfrente um processo sem saber a causa mortis da vítima. Isso é um elemento básico do inicio de um processo ou inquérito”, defende Gustavo Nagelstein, outro advogado que representa Alexandra.

Além da mãe, o irmão mais velho de Rafael, de 17 anos, também pode participar — mas a presença dele não é assegurada pelos advogados.

“Claro que o filho mais velho pode participar, caso queira”, observa o delegado.

Caso eles decidam não participar, ou até mesmo outros envolvidos se neguem, agentes da polícia ocupam o lugar dos participantes.

“Precisamos de um apoio de pessoas que ocupem lugares conforme a versão narrada. Buscamos colegas, policiais civis, que tenham uma compleição física semelhante àquilo que foi narrado”, explica Heloisa.

Alexandra admite morte de Rafael Mateus Winques, mas alega acidente com overdose de medicamento — Foto: Divulgação/Polícia Civil

Alexandra admite morte de Rafael Mateus Winques, mas alega acidente com overdose de medicamento — Foto: Divulgação/Polícia Civil

Reconstituição

Como a reprodução simulada é bastante detalhista e utilizará o máximo de elementos semelhantes à noite da morte de Rafael, é possível que siga ao longo da madrugada. O tempo, segundo a diretora do IGP, não é pré-determinado.

“A perícia é uma busca de vestígios, de provas, e vai demorar tanto tempo quanto o perito achar que respondeu aos quesitos necessários. Pode ser que vá até a madrugada, porque às vezes faz de uma forma, de outra, lentamente, sendo registrado fotograficamente, com anotações de cada momento diferente”, descreve Heloísa.

A verossimilhança da cena é buscada nos mínimos detalhes. Se houver objetos reais, contidos no cenário original, em condições de uso, eles serão utilizados.

“Se os materiais tiverem sido periciados — um papel, um objeto —, a gente utiliza, para serem exatamente os mesmos. Armas, facas, usamos simulacros, que são muito semelhantes. Trabalhamos com o mais parecido daquilo que foi narrado”, diz Heloísa.

“A reprodução serve justamente para ver a viabilidade de os fatos terem se dado da forma como foi descrita”, acrescenta o delegado.

Até a noite de quarta (17), detalhes ainda eram acertados pelos peritos. Os responsáveis diretos pela reconstituição se reuniram para estudar os laudos e estruturar a condução da simulação, com o objetivo de não deixar passar pontos sem explicação ao final da reconstituição.

“Ela envolve um estudo prévio. Os peritos estudam todo o inquérito, leem as versões apresentadas, veem os laudos, e, quando vão ao local, observam, anotam e analisam se há disparidade [nas versões], onde tecnicamente não são possíveis”, conclui a diretora.

Relembre o caso

Rafael Mateus Winques foi dado como desaparecido e era procurado desde o dia 15 de maio. Na versão apresentada inicialmente pela mãe, ele havia sumido depois de ir dormir e, na manhã seguinte, não estava mais em casa. Alexandra chegou a dar entrevista à RBS TV pedindo que o filho voltasse para casa.

A residência onde o menino morava com a mãe e o irmão de 17 anos não possuía sinais de arrombamento no dia. No primeiro depoimento, a mãe disse que havia levado uma coberta para o menino antes de dormir, e pensou que ele havia saído pela manhã.

Depois, porém, assumiu a autoria do crime e indicou o local onde havia deixado o menino. O corpo estava enrolado em um lençol na casa em frente à residência em que a família morava.

A polícia trata o caso como um homicídio doloso.

Morte do menino Rafael será reconstituída em Planalto — Foto: Reprodução

Morte do menino Rafael será reconstituída em Planalto — Foto: Reprodução

Fonte: G1