Rondonistas gaúchos viajam para ajudar regiões carentes do Brasil

Projeto Rondon seleciona todos os anos estudantes de graduação para difundir conhecimento acadêmico no interior do país durante as férias

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Em meados de Julho, época de férias escolares, a maioria dos jovens escolhe descansar ou arruma as malas para viajar. E se fazer turismo parece a escolha mais óbvia daqueles que preferem sair de casa, um grupo de universitários decidiu optar por outro caminho.

Hoje, centenas deles partem rumo ao desconhecido para viver novas experiências — nenhuma relacionada a excursões ou passeios, nem voltadas para o sossego nesse período sem aulas.

Conhecidos como rondonistas, eles fazem parte de um projeto que busca contribuir para o desenvolvimento de comunidades carentes nos confins do Brasil: um trabalho voluntário que os leva a empregar na prática os conceitos assimilados na faculdade.

Projeto Rondon, coordenado pelo Ministério da Defesa, leva estudantes dos mais diversos cursos a conviver ao longo de 15 dias com habitantes de pequenos municípios, principalmente do Norte e Nordeste. Para participar, é exigido que os alunos estejam matriculados em um curso superior e dispostos a aplicar os projetos desenvolvidos pela universidade — ou até propostos por eles —, em um rol de atividades que engloba desde cultura e educação até saúde e direitos humanos.

É uma fuga à rotina. A atuação universitária costuma passar longe de campanhas de cooperativismo e desenvolvimento econômico sustentável, capacitação de lideranças comunitárias e desenvolvimento de potencial turístico de comunidades.

— Nem sempre a academia cria oportunidades como essa: os estudantes não costumam compartilhar seus aprendizados com a sociedade durante a faculdade — avalia Rafael Eckhardt, coordenador de Engenharia Ambiental na Univates.

O professor participou da iniciativa quando era aluno e hoje incentiva estudantes a fazer o mesmo. A equipe da universidade está se preparando para ir à cidade de Agrestina, em Pernambuco, como parte da Operação Guararapes. Lá eles vão promover atividades que envolvem o meio ambiente, tecnologia e produção, trabalho e comunicação. Para as instituições de ensino, funciona como um projeto de extensão, que contabiliza horas complementares. Para os alunos, fica o aprendizado promovido pelo intercâmbio no próprio país.

Educação retribuída à sociedade
Faltando pouco mais de uma semana para embarcar, Thalles Augusto Zeni ainda não tinha arrumado as malas, mas já sabia o que o esperava. O aluno do 8º semestre de Quiropraxia na Feevale é também veterano de ações sociais: contribuiu para o atendimento de idosos e a alegria de crianças ao longo de sua formação, além de ter participado de trabalhos voltados para a saúde das mulheres. Ele garante que o limite de 23 quilos de equipamento por pessoa imposto para as equipes da Operação Catopê não quer dizer nada: a bagagem maior ele espera trazer de volta.

— O conhecimento que a gente vai receber é muito maior do que vamos passar. Vale ainda pela experiência de descobrir um ambiente novo. Sei que isso vai ser muito importante para mim, mas ainda mais para a comunidade que nos receber — acredita o estudante de 22 anos.

Thalles faz parte da equipe de oito alunos e dois professores da Feevale que vai estrear no Projeto Rondon neste ano. Como integrantes da Operação Catopê, vão ao município de Japonvar (MG). Eles partem dentro de uma semana para dar início aos 15 dias de projeto: ponto culminante de uma preparação que se estendeu ao longo de seis meses. A professora de Sociologia Sueli Maria Cabral conheceu o município meses antes de embarcar e destaca a experiência que deve advir dessa participação.

— Os alunos pouco se conhecem, vão a um lugar onde as condições não são as mesmas das suas casas e precisam ter, além de preparo emocional, essa vontade de fazer o bem. E é um trabalho totalmente voluntário. Ninguém vai fazer turismo social, não ganhamos nada com isso: basta o reconhecimento por parte da comunidade e a contribuição para a formação do aluno.

O Projeto Rondon
— Criado em 1967 pelo governo federal, o projeto promove a atuação voluntária de estudantes universitários em áreas carentes e isoladas, sobretudo nas regiões Norte e Nordeste.

— Além de permitir o contato de estudantes com realidades distintas, busca melhorar as condições das comunidades assistidas, selecionadas entre as de mais baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).

— Nas duas edições anuais, participam cerca de 3 mil pessoas.

— As atividades são realizadas nas áreas de comunicação, cultura, direitos humanos, justiça, educação, meio ambiente, saúde, tecnologia, produção e trabalho.

— A iniciativa é coordenada pelo Ministério da Defesa, em parceria com a Secretaria de Educação Superior do Ministério da Educação (MEC), Ministério da Saúde, Ministério do Desenvolvimento Agrário, governos estaduais e municipais, ONGs e União Nacional dos Estudantes (UNE).

— Para saber como participar, acesse o endereço oficial: projetorondon.pagina-oficial.com/portal/
 
Fonte: Zero Hora