Objetos de vítimas só serão entregues a familiares após descontaminação.
Estão previstas raspagem do forro e limpeza de paredes e piso da boate.
Os técnicos responsáveis pela limpeza da boate Kiss, em Santa Maria, na Região Central do Rio Grande do Sul, encontraram no interior da casa noturna 366 peças de sapatos das vítimas, além de roupas, carteiras, bolsas e celulares. Por determinação da Justiça, nada foi retirado do local. Os pertences só serão devolvidos a familiares após a descontaminação dos materais . Um incêndio no local matou 242 pessoas em janeiro de 2013.
Antes mesmo do trabalho de limpeza começar, nesta quarta-feira (3), pais de vítimas pediram aos técnicos da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) que a fachada não fosse alterada para não descaracterizar o local da tragédia. O administrador do prédio, porém, disse que alguns elementos apresentavam risco à equipe de limpeza e deveriam ser retirados.
A previsão é de que os trabalhos levem pelo menos uma semana. O custo deve ser de R$ 100 mil, valor que será cobrado dos donos da casa. O procedimento foi determinado pela Justiça depois que um laudo apontou que existem mais de 200 substâncias tóxicas no local. Após a limpeza, os resíduos serão levados para Canoas, onde serão analisados e um relatório será encaminhado à Fepam.
De acordo com a Fepam, uma estrutura foi montada do lado de fora da Kiss para evitar que os resíduos se espalhem no meio ambiente. As lonas começaram a ser erguidas na manhã de terça-feira (2) e ao fim do dia já tapavam toda fachada do prédio.
Enquanto durarem os trabalhos de limpeza da Kiss, o trânsito na quadra onde fica o prédio, na Rua dos Andradas, ficará bloqueado. O desvio é feito pelas ruas André Marques e Vale Machado. As linhas de ônibus também são desviadas pela Vale Machado, fazendo o contorno pela Avenida Rio Branco até chegar novamente à Andradas.
Entenda
O incêndio na boate Kiss, em Santa Maria, ocorreu na madrugada do dia 27 de janeiro de 2013. A tragédia matou 242 pessoas, sendo a maioria por asfixia, e deixou mais de 630 feridos. O fogo teve início durante uma apresentação da banda Gurizada Fandangueira e se espalhou rapidamente pela casa noturna, localizada na Rua dos Andradas, 1.925.
O local tinha capacidade para 691 pessoas, mas a suspeita é que mais de 800 estivessem no interior do estabelecimento. Os principais fatores que contribuíram para a tragédia, segundo a polícia, foram: o material empregado para isolamento acústico (espuma irregular), uso de sinalizador em ambiente fechado, saída única, indício de superlotação, falhas no extintor e exaustão de ar inadequada.
Ainda estão em andamento dois processos criminais contra oito réus, sendo quatro por homicídio doloso (quando há intenção de matar) e tentativa de homicídio, e os outros quatro por falso testemunho e fraude processual. Os trabalhos estão sendo conduzidos pelo juiz Ulysses Fonseca Louzada. Sete bombeiros também estão respondendo pelo incêndio na Justiça Militar. O número inicial era oito, mas um deles fez acordo e deixou de ser réu.
Entre as pessoas que respondem por homicídio doloso, na modalidade de “dolo eventual”, estão os sócios da boate Kiss, Elissandro Spohr (Kiko) e Mauro Hoffmann, além de dois integrantes da banda Gurizada Fandangueira, o vocalista Marcelo de Jesus dos Santos e o funcionário Luciano Bonilha Leão. Os quatro chegaram a ser presos nos dias seguintes ao incêndio, mas a Justiça concedeu liberdade provisória a eles em maio do ano passado.
Atualmente, o processo criminal ainda está em fase de instrução. Após ouvir mais de 100 pessoas arroladas como vítimas, a Justiça está em fase de recolher depoimentos das testemunhas. As testemunhas de acusação já foram ouvidas e agora são ouvidas as testemunhas de defesa. Os réus serão os últimos a falar. Quando essa fase for finalizada, Louzada deverá fazer a pronúncia, que é considerada uma etapa intermediária do processo.
Fonte: G1