‘Vi meu pai matar minha mãe’: histórias de filhos do feminicídio que vivem em abrigos à espera de adoção

A menina que viu o pai esfaqueando a mãe e foi rejeitada pela família; o pai preso que pede perdão autorizando adoção; a família que adotou filha de vítima e a que adotará irmãos: o G1 MS reuniu depoimentos sobre vidas marcadas pela violência e seus recomeços.

“Eu ouvi os gritos da minha mãe e vi meu pai em cima dela com uma faca dando golpes no peito, e quando ela me viu apenas gritou ‘corre que ele vai matar vocês’, então eu peguei minha irmã e fugi para a vizinha. Aquela cena não sai da minha cabeça nunca, sinto aquele medo o tempo todo”, relata a jovem de 16 anos que vive em um abrigo em Campo Grande (MS).

Aos 4 anos ela assistiu ao feminicídio da mãe. O pai suicidou-se em seguida. A irmã, à época com 6 anos, é filha de outro pai e as meninas foram morar com uma avó e uma tia da criança:

“Elas maltratavam a gente, me diziam que não tinham meu sangue e nem obrigação de gostar de mim. Elas faziam a gente acordar de madrugada para varrer quintal e limpar casa antes de ir para a aula. Quando voltávamos da escola sem tarefa de casa para fazer, a gente apanhava e ficava de castigo, então eu mentia que tinha dever para não ser agredida”, conta.

Adolescente que vive em abrigo relata o que sofreu com a família da irmã

Adolescente que vive em abrigo relata o que sofreu com a família da irmã

Traumatizadas, as meninas choravam muito e viviam com medo. “Elas [tia e avó] não entendiam os pesadelos e a tristeza que a gente sentia. Nossa mãe dava amor, cuidava da gente, de repente não tinha mais nada além daquela dor e a gente não entendia nada. Cansada de apanhar, eu fugia, fugi várias vezes.” A menina foi devolvida pela família à Justiça com pouco mais de 10 anos e desde então vive em abrigos. A irmã também fugiu e passou a viver com um namorado no interior de MS.

“Na minha vida inteira eu só fui amada pelos meus pais, mas de repente tudo acabou e eu não tinha ninguém por mim. Na escola eu via outras crianças com os pais e chorava calada para não ter que responder perguntas. Eu não tive infância, não brinquei, nunca vivi sem medo. Ninguém entende o quanto essa dor me atrapalha em tudo até hoje.”

Adolescente filha de vítima de feminicídio conta como a lembrança a afeta. Imagens: Edmar Mello/TV Morena

Adolescente filha de vítima de feminicídio conta como a lembrança a afeta. Imagens: Edmar Mello/TV Morena

Aos 16 anos e cursando o nono ano do ensino fundamental, ela prepara-se para deixar o abrigo em dois anos, mas no momento está sem trabalhar. Com experiência em escritórios de advocacia, ela sonha cursar direito. Quando perguntada sobre o que quer fazer assim que deixar o abrigo, a resposta vem de imediato:

“Quero ver minha irmã que não vejo há 5 anos, desde que fui trazida para o abrigo, e fazer com que ela termine os estudos. Quero fazer uma faculdade e trabalhar naquilo que me formar, quero ser perita criminal”, declara.

"Vi meu pai matar minha mãe", conta adolescente que testemunhou feminicídio aos 4 anos e, devolvida pela família, hoje aos 16 anos vive em um abrigo. — Foto: Jaqueline Naujorks/G1 MS

“Vi meu pai matar minha mãe”, conta adolescente que testemunhou feminicídio aos 4 anos e, devolvida pela família, hoje aos 16 anos vive em um abrigo. — Foto: Jaqueline Naujorks/G1 MS

“As pessoas não entendem mas as melhores lembranças que eu tenho, as únicas vezes em que me senti amada era quando meu pai brincava comigo, me levava nas costas, cuidava de mim, a minha mãe cuidava da gente, nós tínhamos amor em casa. Toda a nossa referência de família e convívio era essa.”

“Meu sonho é ter minha própria família porque como eu não pude ter a minha, eu quero ter alguém do meu lado para falar que me ama todo dia.”

Entrada no cadastro de adoção

Na pasta do cadastro de adoção, há fotos de crianças sorridentes apesar de toda a bagagem emocional que carregam. A ficha de cada um informa aos futuros pais a profunda necessidade de cuidado, por terem conhecido a violência e o desamparo cedo demais. Na pasta do juizado de Campo Grande, 27 candidatos são adolescentes e já passaram da idade em que a maioria dos pais cadastrados procuram seus filhos. Destes, 6 têm deficiência mental, paralisia cerebral, diabetes e autismo.

Entre as crianças que esperam por uma nova família, muitas carregam a mesma lembrança terrível que a jovem: assistiram ao feminicídio da mãe. Ao G1, a juíza da infância e adolescência de Campo Grande, Katy Braun, explica que uma recente alteração no Código Civil permite que homens que matam a genitora da criança sejam destituídos do poder familiar porque presume-se que ele oferece risco à criança. Desta forma, o menor pode ir para o cadastro de adoção sem maiores entraves.

Juíza Katy Braun em entrevista ao G1 explica que pais que cometem feminicídio são destituídos automaticamente do poder familiar — Foto: Jaqueline Naujorks/G1 MS

É o caso de um autor de feminicídio que está preso e, recentemente, pediu à juíza que durante a audiência registrasse em vídeo um pedido de perdão reconhecendo que, ao matar a esposa por ciúmes, causou um dano irreparável aos filhos:

“Esse pai em questão deixou registrado que abençoava os filhos para que fossem felizes em uma nova família e insistiu no pedido de perdão, porque hoje ele consegue refletir e perceber que realmente destruiu a família inteira.”

Juíza Katy Braun conta sobre pai que pediu perdão aos filhos por feminicídio em vídeo. Imagens: William Guedes/TV Morena

Juíza Katy Braun conta sobre pai que pediu perdão aos filhos por feminicídio em vídeo. Imagens: William Guedes/TV Morena

Familiares devolvem crianças por não saberem lidar com problemas de comportamento

Segundo a juíza, crianças e adolescentes que viveram em ambientes domésticos violentos ou que presenciaram feminicídios têm dificuldades em diversos aspectos até a vida adulta. Expostas a um desconforto profundo durante meses ou anos, elas sofrem do chamado stress tóxico, que causa danos neurológicos e psicológicos. Dessa forma, além de questões financeiras, familiares que assumem a tutela de filhos de vítimas de feminicídio têm dificuldades em lidar com as questões psicológicas e acabam devolvendo-as à Justiça:

“As crianças começam a apresentar sintomas logo na fase em que vão para a escola com problemas de aprendizagem e comportamento, então os familiares têm dificuldade também de conduzir a criação e educação dessas crianças. É muito comum que aquelas crianças que foram vítimas indiretas do feminicídio sejam entregues pelos familiares para o poder judiciário para que sejam adotadas.”

Crianças que perderam a mãe por feminicídio precisam de acompanhamento psicológico até a vida adulta — Foto: TV Morena/Reprodução

Crianças que perderam a mãe por feminicídio precisam de acompanhamento psicológico até a vida adulta — Foto: TV Morena/Reprodução

Em Mato Grosso do Sul, de janeiro a junho deste ano foram registrados 19 casos de feminicídio segundo a Secretaria Estadual de Justiça e Segurança Pública (Sejusp). Estas mães deixaram 39 filhos e destes, 23 são menores de idade.

Uma vez disponíveis para adoção, essas crianças e adolescentes passam a enfrentar um outro desafio, que é encontrar pais que as aceitem:

“Muitas vezes elas têm um comportamento violento, além de necessidades afetivas e de tratamento de saúde que demandam um esforço maior dos pais. É muito comum que já na adolescência eles apresentem problemas não só nos relacionamentos, mas também uma tendência ao abuso de álcool e drogas, uma certa impetuosidade que as coloca em situação de risco e doenças mentais, que são muitos comuns nesses adolescentes que enfrentaram a violência doméstica”, relata a juíza.

“Nós temos essas crianças que não conseguem ser adotadas, ou mesmo que encontraram pretendentes mas não conseguiram estabelecer um laço afetivo porque estão tão marcadas por aquela situação de violência que não consegue acreditar, confiar que alguém possa amá-las e realmente se dedicar a elas de uma maneira que respeite sua dignidade.”

Pais que adotaram filha de vítima de feminicídio declaram: ‘Tudo se cura com amor’

Hoje com 13 anos, as lembranças terríveis da infância da menina ainda vêm mas são cada vez mais distantes segundo a mãe, que prefere não identificar a família. A mãe biológica era usuária de drogas e foi vítima de feminicídio. A menina tem cicatrizes físicas e psicológicas de momentos de violência que viveu na primeira infância e desse período, muitos traumas foram atenuados com o amor e cuidado da família que a adotou.

“Eu discordo quando as pessoas dizem que adoção é caridade, é fazer o bem. Quem faz o bem para a nossa família é ela, ela é portadora de todo o bem. Eu digo ‘filha, não tenha raiva da sua mãe biológica, não fique angustiada porque se não fosse ela a gente não teria te encontrado’ e foi através dela que minha filha chegou até mim”, declara a mãe.

“Quando ela chegou eu dizia ‘filha, você é tão bonita, você parece com quem?’ e ela me respondia ‘com você’. Aí eu explicava que não, que a fisionomia era da família biológica e ela me respondia ‘Antes da mãe apanhar eu parecia com ela mas depois [de ficar desfigurada] eu não pareço mais'” conta a mãe.

O casal, que mora em outro estado, entrou com a documentação no cadastro de adoção em 2015. A menina que tinha 10 anos à época, vivia em um abrigo já destituída do poder familiar. Eles participavam de um grupo sobre adoção onde souberam da criança e interessaram-se pela história da menina.

Casal que adotou menina ~filha de vítima de feminicídio relata comportamento doce da jovem, fruto da acolhida e amor na educação — Foto: Arquivo pessoal

Casal que adotou menina ~filha de vítima de feminicídio relata comportamento doce da jovem, fruto da acolhida e amor na educação — Foto: Arquivo pessoal

“Nos disseram que era uma criança doce, meiga. No dia em que mandaram a foto dela, no momento em que vi me arrepiei inteira, quando bati o olho eu senti no meu coração e disse: ‘É ela, é a minha filha!”, relata a mãe, emocionada.

“Eu e meu esposo começamos a fazer chamadas de vídeo com ela e um dia, eles já estavam conversando quando eu cheguei e ouvi ela perguntando ‘E a mamãe, não tá aí?’. Ah, aquele ‘mamãe’ me desmontou, você não tem ideia da emoção.”

O casal veio para Campo Grande conhecer a menina e passaram uma semana na fase de convívio. “Depois desse período a Justiça entendeu que não havia mais razão para vivermos separados, então fomos autorizados a trazê-la para casa, foi uma felicidade indescritível”, declara.

Desde então, a menina faz acompanhamento e a família deu todo o suporte para que ela se sentisse amada, acolhida: “Toda a família a recebeu com naturalidade, paz, carinho e ela trata a todos como se sempre tivesse convivido conosco”. A mãe conta que a menina tem boas notas, é elogiada na escola e carinhosa com todos.

O pai da menina relata ao G1 que a família uniu-se para que a menina supere quaisquer lembranças e torne-se uma adulta segura e feliz:

“Hoje a gente vive por ela. Ninguém merece a vida que ela teve no passado nessa situação de abrigo, de abandono. Eu não sei o que seria da minha vida sem a minha filha, às vezes pergunto para minha esposa ‘Como é que vivíamos antes dela?’. A gente era tão vazio e não se dava conta. Tudo o que a gente faz é pensando no crescimento, na melhora, para que ela se torne um ser humano digno, em paz, com amor no coração”, conclui.

Diferente da história desta menina, boa parte dos filhos de vítimas de feminicídio não são únicos, eles são abrigados junto com irmãos, o que torna a adoção mais complicada, segundo a juíza Katy Braun. Nem todos os casais estão dispostos a adotar irmãos. Este não é o caso de Paola e Gilberto, que decidiram não escolher detalhes sobre os filhos, apenas acolher paciência crianças que precisem de amor para esquecer um passado doloroso.

“Estou gestante do coração à espera de meus filhos”

Paola Loureiro, de 32 anos, aguarda a chegada dos filhos do coração. Há 6 anos tratando problemas de saúde para que pudesse engravidar, ao perceber que realmente não poderiam gerar biologicamente o filho, seu esposo Gilberto sugeriu que entrassem na fila de adoção e o processo começou em 2018: “Antes eu via o meu ‘positivo’ cada vez mais distante. Com a adoção, cada etapa vencida é o meu positivo vindo”.

O casal decidiu que a chegada dos filhos deveria ser como uma gestação, com todas as surpresas da gravidez e por isso no cadastro, ao apontarem o perfil do futuro filho, não escolheram sexo, cor ou doenças tratáveis – escolheram irmãos de até 8 anos.

Paola e Gilberto estão à espera dos filhos do coração e preparados para compensar com amor e cuidado quaisquer sequelas de um passado de violência. — Foto: Arquivo pessoal

Paola e Gilberto estão à espera dos filhos do coração e preparados para compensar com amor e cuidado quaisquer sequelas de um passado de violência. — Foto: Arquivo pessoal

“Eu sempre falava para o meu esposo que queria uma gestação só, que era passar por tudo de uma vez só e ter dois… e vão vir dois! Deus acaba ajeitando de uma forma tão linda tudo o que a gente sempre sonhou! Então, vão vir dois irmãozinhos de até 8 anos, que a gente tem todo o amor e carinho para dar a eles”, afirma, emocionada.

O casal está preparado para cuidar de quaisquer sequelas de um passado de violência que as crianças tenham vivido:

“A gente sabe que apesar de serem tão pequenininhos, eles têm uma bagagem e uma vivência tão grande, um coração tão machucado, e a gente acredita que com amor, carinho, mais amor e paciência, esse coraçãozinho pode ser restaurado.”

O processo corre em segredo de Justiça. Tudo está sendo preparado para a chegada das crianças: a família, o quarto, os detalhes e especialmente os pais, estão prontos para começarem, juntos, uma nova história:

“Hoje eu sou gestante do coração, meu positivo enfim chegou! Estou à espera dos nossos filhos, já sonho com eles brincando na casa, não sei como vão ser ou vão vir mas sei que aqui eles terão muito amor e carinho com a minha família que agora será completa”, conclui.

Casal que espera adotar irmãos está preparado para 'restaurar corações'

Casal que espera adotar irmãos está preparado para ‘restaurar corações’

Caso as crianças não encontrem no cadastro brasileiro pais dispostos a adotar irmãos, em último caso, a adoção internacional pode ser uma opção.

Adoção internacional e a chance de recomeçar em outro país

A adoção internacional acontece apenas em casos excepcionais, a criança só será adotada por um casal estrangeiro quando esgotarem-se todas as possibilidades de ser adotada por casais brasileiros. As instituições são cadastradas em órgãos federais e também estaduais, tudo é documentado legalmente e a adoção só acontece após um longo processo de comprovação de dados e entrevistas.

A advogada Paula Guitti é representante em Mato Grosso do Sul de uma instituição italiana chamada “Il Mantello” onde famílias buscam por filhos em outros países. Os casais italianos, segundo Paula, têm preferência por grupos de irmãos e é aí que entram os filhos de vítimas de feminicídio – essas crianças podem ter a chance de recomeçar a vida junto com os irmãos em outro país.

Em Mato Grosso do Sul existem processos de adoção internacional em trâmite, mas como correm em segredo de Justiça, o G1 não revelará nesta reportagem quaisquer detalhes sobre os casos.

Advogada Paula Guitti trabalha com adoção internacional de crianças representando uma entidade italiana regulamentada por órgãos federais — Foto: Arquivo pessoal

Advogada Paula Guitti trabalha com adoção internacional de crianças representando uma entidade italiana regulamentada por órgãos federais — Foto: Arquivo pessoal

“O problema é o tempo que esse processo leva, muitos casais esperam 6 ou 7 anos para conseguirem adotar internacionalmente. Muitas vezes nessa espera por uma nova família a criança cresce, acaba passando da idade e perde a chance de construir uma nova história até em outra cultura, outro ambiente, uma outra vida de fato”, explica a advogada.

“Existe um certo preconceito sobre adoção internacional por conta do tráfico de crianças”, afirma Guitti. O Brasil é um dos 113 países signatários da Convenção de Haia de 1993, um acordo firmado entre países para coibir a adoção clandestina de crianças estrangeiras. Todo o processo de adoção é feito através de órgãos regulamentados. Na Itália, as crianças adotadas em outros países devem ter até 12 anos.

“A adoção internacional é regulada pelas autoridades centrais de cada país e no Brasil, a competência é do Ministério da Justiça. Temos também as autoridades estaduais, a Comissão Estadual Judiciaria de Adoção Internacional (Cejai) ligadas à Corregedoria dos Tribunais de Justiça ou às Coordenadorias de Infância e Adolescência dos tribunais. A adoção só acontece através de organismos devidamente cadastrados nos países de origem”, explica.

A diferença é que na adoção internacional não existe a adoção de risco, ou seja, a criança só será encaminhada para a nova família após estar de fato destituída do poder familiar. É apresentado o relatório da criança e procurado quais os casais com perfil condizente, quando aceitam, o representante entra com o pedido de adoção. Neste momento já são marcados encontros por vídeo: “Com esse procedimento, as crianças

Após esse período, os pais vêm ao Brasil para o período de convívio, que de acordo com o estabelecido no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), é de 30 dias, podendo ser prorrogado caso necessário. Nesse tempo, a criança passa o dia com os pais e dorme no abrigo, depois de alguns dias ela dorme na presença dos pais também. Passada essa fase, a Justiça decidirá se a família está apta a levar a criança e então começa o processo de emissão de passaporte, o que pode levar em torno de 15 dias.

De acordo com a advogada, a adaptação no país da nova família não é um problema para as crianças:

“Nós não temos casos de crianças que não se adaptaram com as famílias em outro país. Nesse período de 30 dias as crianças já começam a entender o italiano, depois elas vão para a Itália e em 2 meses já falam o idioma. O que mais elas desejam é o sentimento de pertença, tendo isso com a nova família, acolhidos, adaptar-se à cultura é o de menos.”

“Se por ventura acontecer de alguma criança não adaptar-se à família, ela tem dupla cidadania. Se não tiver realmente como ela ficar com aquela família o que, repito, não temos registro de casos, ela vai para um abrigo na Itália onde receberá o apoio da Associação”, explica Guitti. “Lá existe essa cultura de acolhimento, as pessoas não ficam sozinhas, eles gostam de conviver e isso para uma criança que sofreu com abandono é um alento”, conclui.

Advogada de MS explica sobre adoção internacional segundo a Convenção de Haia

Advogada de MS explica sobre adoção internacional segundo a Convenção de Haia

Como um filho de vítima de feminicídio vai para adoção

A juíza Katy Braun explica como funciona o processo de adoção de filhos menores de mães assassinadas:

  1. Quando ocorre um crime de feminicídio a Polícia Civil comunica o Conselho Tutelar quando existem crianças ou adolescentes que ficarão desamparados. Neste caso, a Justiça procura familiares que tenham condições de cuidar deles, a chamada “família extensa. A prioridade é que as crianças cresçam no seio familiar.
  2. Caso a família não tenha interesse ou condições, as crianças são encaminhadas para acolhimento institucional, os abrigos. Depois de acolhidas, precisam iniciar rapidamente um tratamento psicológico para tentar amenizar os efeitos do trauma. A juíza também busca o fortalecimento dos vínculos com familiares que não estão envolvidos no crime para verificar a possibilidade da criança continuar vivendo na família de origem (caso o autor não seja o pai ou não haja histórico de violência).
  3. Caso o autor do crime seja o pai, ele automaticamente o poder familiar. Neste caso, se a família não puder cuidar da criança, ela será institucionalizada e encaminhada para adoção.
  4. Uma vez no cadastro, pais com perfis compatíveis serão procurados, como no caso de irmãos. A lei prevê que todo esse trâmite não ultrapasse 1 ano e 6 meses. Quando isso não é possível, o poder judiciário começa a trabalhar a autonomia desses jovens prevendo uma vida futura sem família.
  5. Aos 18 anos os internos saem dos abrigos. O município oferece programas de capacitação e emprego para que, segundo a juíza, tenham alguma reserva financeira e condições de viverem sozinhos.

“Muitas vezes, por conta de questões psicológicas, esses jovens acabam logo se relacionando com outros jovens que vêm de uma mesma realidade e em muitos casos, infelizmente, acabam reproduzindo comportamentos violentos que conheceram na infância e adolescência”, explica Katy Braun.

“O feminicídio é a última etapa de um ciclo de violência doméstica que começa muito tempo antes, raramente a morte da mulher é um acontecimento isolado nesse contexto. É por isso que incentivamos a denúncia, para que seja possível, ao menos, diminuir um pouco os números terríveis dessa estatística.”

Denúncias de violência doméstica podem ser feitas pela vítima ou por terceiros através do número 180.

Fonte: G1